Quando o inspetor-geral do Departamento de Justiça, Michael Horowitz, concluir o inquérito que investiga Hillary, haverá “mais munição” contra a lenda da interferência russa na eleição dos EUA
O New York Times admitiu que a desmoralização do “Russiagate” – a cínica chicana contra a Rússia por ‘interferir nas eleições’ – poderá ter “mais munição nas próximas semanas” quando o inspetor-geral do Departamento de Justiça, Michael Horowitz, concluir o inquérito que investiga o tratamento dado pelo FBI ao “Emailgate” de Hillary Clinton e que trouxe à luz mensagens de texto entre dois funcionários do FBI [Peter Strzok e Lisa Page], que trabalharam nos dois casos, com “intensa aversão pelo sr. Trump”.
Na sexta-feira passada, a publicação, pelo comitê de Inteligência da Câmara, do memorando que leva o nome do presidente do comitê, Devin Nunes, desferiu um golpe demolidor na farsa do “Russiagate” e revelou as digitais de Hillary. O ‘Memorando Nunes’ revela o conluio no governo Obama para obter autorização judicial para espionar a campanha de Trump, com base no chamado “dossiê Steele”, ocultando do juiz que este dossiê tinha sido encomendado e pago pela campanha de Hillary à empresa Fusion GPS, que contratou o ex-espião inglês.
A divulgação do memorando foi autorizada por Trump, sob protestos dos democratas, do FBI e do Departamento de Justiça. Altas esferas do FBI e do Departamento de Justiça participaram do esquema e assinaram repetidos pedidos de grampeamento ao tribunal. Conforme o documento, o dossiê de Steele “formou uma parte essencial” para a obtenção em 21 de outubro de 2016 de autorização do Tribunal de Vigilância de Inteligência Estrangeira. O alvo que servia de pretexto para a espionagem da Campanha de Trump era Carter Page, um apagado conselheiro de política externa.
O então diretor do FBI James Comey assinou três pedidos e o vice-diretor Andrew McCabe assinou um. Pelo lado do Departamento de Justiça, assinaram pedidos de grampo a vice-procuradora-geral Sally Yates, Dana Boente e Rod Rosenstein – este, atualmente vice-procurador-geral (vice-ministro) e que supervisiona o investigador especial Robert Muller no “Russiagate”.
Cabeças já começaram a rolar, apesar dos resmungos da mídia amiga dos órgãos de espionagem. McCabe – cuja esposa foi candidata pelos democratas e recebeu dinheiro do governador da Virgínia aliado de Hillary – pediu demissão. Foi ele que em dezembro testemunhou diante do Congresso que nenhum mandado da FISA [o tribunal que libera os grampos] teria sido solicitado sem o dossiê Steele. Também teria sido a ele que os agentes Strzok e Lisa haviam se dirigido em busca de “uma apólice de seguro contra a vitória de Trump”.
Outra cabeça já tombada, Comey – que assinou três pedidos de grampo – testemunhou em junho de 2017 que o dossiê de Steele era “indecente e não verificado”. “Nem o pedido inicial em outubro de 2016 nem nenhuma das renovações revelam ou referem o papel da campanha DNC, Clinton ou qualquer partido/campanha no financiamento dos esforços de Steele, mesmo que as origens políticas do processo Steele fossem conhecidas do DOJ e de funcionários do FBI”, afirma o memorando.
O tempo todo é ocultado que Steele estava trabalhando para a Fusion GPS ou que a empresa e seu diretor, Glenn Simpson, estavam na folha de pagamento dos democratas. Também o mandado de grampo original cita “extensivamente” um artigo do Yahoo News de Michael Isikoff, de 23 de setembro de 2016, baseado em informações dadas ao jornalista pelo próprio Steele, e ainda na sede da Fusion GPS.
Apesar de bastante curto, quatro páginas, o memorando deixa em frangalhos reputações supostamente ilibadas. O vice-procurador-geral adjunto Bruce Ohr, que em setembro de 2016 se encontrou com Steele, omitiu do tribunal que sua esposa, Nellie, trabalhava na Fusion GPS na época.
O último ponto do documento se refere à investigação da campanha iniciada pelo agente Strzok, em julho de 2016 “com base em informações sobre o conselheiro da campanha Trump, George Papadopoulos”, mas que não conseguiu mostrar alguma “cooperação ou conspiração” entre este e Page.
O NYT assevera que a investigação sobre Papadoupolos foi lançada depois de uma noite de bebedeira em Londres em que teria “relatado ao principal diplomata australiano na Grã-Bretanha” seus contatos com os russos, que teria “passado a informação ao FBI”. Parece bem o modus operandi da CIA, como visto na preparação da Guerra ao Iraque e em outros episódios (“ataque de guerra biológica em 45 minutos”): pede aos “colegas britânicos” um dossiê falso, para ser repercutido na mídia da casa e servir de fachada para seus objetivos sujos. Ou aos australianos e aos suecos.
Ainda o jornal se mostrou preocupado com o “dano a longo prazo da agência” e reproduziu declaração de “Mr. Smith, ex-funcionário da CIA, de que o potencial de danos é extenso, “porque os parceiros da inteligência estrangeiros podem ficar mais relutantes em compartilhar informações com a CIA”. Comentário que é praticamente uma confissão de que foi uma operação da CIA.
HILLARY COMPROU DOSSIÊ
Na precisa síntese do Judicial Watch sobre o “Russiagate”, “Hillary e o Partido Democrata tentam esconder o fato de que eles deram dinheiro à Fusion GPS para criar um dossiê que foi usado por seus aliados no governo Obama para convencer um tribunal de forma equivocada, por todos os aspectos, a espionar a campanha Trump”. Limitações à parte, o que o memorando revela de forma cristalina é que o “Russiagate” foi fabricado pelos setores de inteligência que apoiaram a campanha de Hillary – e ela própria – que tentam deter a decadência dos EUA apostando no cerco e sanções à Rússia, usados como pretexto para os imorais US$ 1 trilhão de gasto bélico. Com a falsa questão da interferência russa nas eleições transformada na questão central da vida política dos EUA e das relações entre as duas superpotências nucleares, enquanto uma oposição de verdade à desigualdade e à guerra praticamente inexiste no país.
ANTONIO PIMENTA