Parcela de brasileiros que não teve dinheiro para alimentar a si ou suas famílias subiu de 30% em 2019 para 36% em 2021, diz FGV-Social
A segurança alimentar das famílias brasileiras sofreu um duro revés em 2021 em relação a 2019, quando no primeiro ano do governo Bolsonaro já estavam abaixo da linha da pobreza 23 milhões de brasileiros, ou 11% da população com renda de apenas R$ 290 por mês. Em outubro de 2021, cerca de 27,6 milhões de pessoas estavam nessa situação, um acréscimo de 4,6 milhões de novos pobres na pandemia.
A parcela de brasileiros que em algum momento, em doze meses, não teve dinheiro para se alimentar subiu de 30% em 2019 para 36% em 2021. Foi a primeira vez que a insegurança alimentar brasileira superou a média simples mundial, atingindo novo recorde negativo da série iniciada em 2006.
Comparando a média simples de 120 países, no Brasil a insegurança alimentar subiu 4,48 pontos percentuais, um aumento percentual quatro vezes maior.
A análise faz parte do estudo “Insegurança Alimentar no Brasil: Pandemia, Tendências e Comparações Globais”, do economista Marcelo Neri da FGV Social, com dados do Gallup World Poll.
É de se considerar que a pandemia trouxe um impacto gigantesco nas condições alimentares das famílias, no entanto, a situação da economia, estagnada no governo Bolsonaro, e as próprias ações de combate aos efeitos da Covid-19 influenciaram nos resultado do estudo.
O Auxílio Emergencial de R$ 600,00 em 2020, aprovado pelo Congresso Nacional, e a redução para R$ 300,00 pelo governo em 2021, ou ainda, a taxa básica de juros Selic subindo de um ano para o outro, repercutiram nas condições da insegurança alimentar, agravando a situação de milhões de brasileiros que estavam no desemprego, no trabalho precário e com a renda em queda.
O aprofundamento da miséria aponta a ineficácia das ações governo. A memória recente nos remete ao negacionismo de Bolsonaro impedindo a vacinação e Guedes reduzindo o Auxílio Emergencial, quando o repique da pandemia foi ainda mais forte em 2021, enquanto is bancos privados empoçavam o dinheiro, que não chegou na ponta àqueles que mais precisaram e precisam, as pessoas e as empresas.
O desemprego e o subemprego bateram recordes e a inflação disparou, nos combustíveis e nos alimentos, levando famílias a buscarem comida em caçambas de supermercados.
A base de dados utilizada pelo trabalho permite comparabilidade entre 160 países, em bases anuais desde 2006, nos possibilitando medir aqui diferenças de prazo mais longo de insegurança alimentar entre o Brasil e o mundo, assim como de seus determinantes próximos como renda, escolaridade, gênero e idade.
O aumento da insegurança alimentar entre os 20% mais pobres no Brasil durante a pandemia foi de 22 pontos percentuais, saindo de 53% em 2019 e chegando a 75% em 2021. Trata-se de nível próximo a países de maior insegurança alimentar como Zimbábue (80%), Zâmbia (79%) e Serra Leoa (77%)
Já os 20% mais ricos, ao contrário, experimentaram queda de insegurança alimentar de três pontos percentuais (indo de 10% para 7%) pouco acima da Suécia, país com menos insegurança alimentar, situada em 5%.
Na comparação com média global de 122 países em 2021, os 20% mais pobres no Brasil têm 27 pontos percentuais a mais de insegurança alimentar, enquanto os 20% mais ricos apresentam 14 pontos percentuais a menos. Altos níveis e aumentos de desigualdade de insegurança alimentar brasileira por renda são também encontrados por níveis de escolaridade.
O estudo observa crescente e marcada assimetria de insegurança alimentar entre homens e mulheres no Brasil. De 2019 a 2021, houve queda de 1 ponto percentual para homens (cai de 27% para 26%) e aumento d3 14 pontos percentuais entre as mulheres (sobe de 33% para 47%). Como resultado, a diferença entre gêneros na insegurança alimentar em 2021 é 6 vezes maior no Brasil do que na média global. As mulheres, principalmente aquelas entre 30 e 49 anos, que tendem a estar mais próximas das crianças, acabam , uma vez que a subnutrição infantil deixa marcas permanentes, físicas e mentais, para toda vida.
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