O presidente do IBGE criticou os cortes sociais pretendidos por Fernando Haddad e disse que, mantidos os juros atuais, o que vai acontecer “é a destruição do setor público com aprofundamento do subdesenvolvimento e da dependência externa”
O presidente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Marcio Pochmann, fez duras críticas ao receituário neoliberal que ainda está em vigor no Brasil e que, segundo ele, se mantido, abre caminho para o crescimento do fascismo no país. A mensagem em rede social está sendo interpretada como uma contraposição a declarações recentes do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que defendeu um amplo corte de gastos públicos.
Assim que Haddad deu declarações confirmando que levará ao presidente Lula propostas de cortes em direitos sociais e investimentos, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) se reuniu com o ministro da Fazenda e prestou “apoio institucional” ao titular da pasta. O rentismo é o setor que mais tem se beneficiado da política de juros altos e restrições fiscais. Só nos últimos 12 meses, os bancos embolsaram R$ 776,3 bilhões em juros dos títulos negociados com especuladores.
O mercado financeiro vem pressionando para manter os juros brasileiros no pódio como um dos maiores do mundo em termos reais. “Ainda que a Selic tenha caído nominalmente, ela praticamente acompanhou a queda da inflação que ocorreu mediante a diminuição da taxa nacional de desemprego e a subida da renda média per capita. Neste cenário, dificilmente pode haver superávit fiscal sustentável, tampouco a redução do grau de endividamento público, salvo a destruição do setor público com aprofundamento do subdesenvolvimento e da dependência externa”, escreveu o presidente do IBGE.
“Nos 12 meses anteriores a abril de 2024, por exemplo, o governo federal transferiu o acumulado de R$776,3 bilhões (7,0% do PIB), enquanto nos 12 meses até abril de 2023, o montante com juros foi de R$659,5 bilhões (6,3% do PIB)”.
Pochman alertou para as consequências políticas da manutenção do receituário neoliberal e da política de arrocho fiscal. “Passado mais de um século, com o fim da Era Inglesa, a crise do liberalismo no Ocidente foi sucedida pelo avanço das forças de extrema-direita fincadas no nazifascismo”, argumenta Pochmann.
Ele complementa: “Desde a década de 1980, o domínio crescente do receituário neoliberal aplainou a segunda onda de globalização capitalista que tem sido acompanhada pelo maior questionamento da democracia diante do descrédito dos governos e da crescente concentração da riqueza, privilégios e poder”.
Para Pochmann, isso resulta no “avanço da extrema-direita, com impulso aos governantes destruidores da democracia de interesse do povo”.
Marcio Pochmann se soma a outros economistas que estão alertando o governo das consequências que poderão advir, caso ele se curve diante da pressão do “dinheiro organizado”. Haddad está dando sinais claros de que vai insistir na meta de zerar o déficit e, para isso, está disposto a levar a Lula as propostas de arrocho sobre os mais pobres.
Lula disse recentemente que não quer que Haddad se enfraqueça, mas adiantou que “não haverá ajuste fiscal em cima dos pobres”. Eles têm uma reunião esta semana, onde o ministro, ao que tudo indica, tentará convencer Lula a arrochar o país e cortar no social e nos investimentos.
Foram duas as postagens de Marcio Pochmann. A primeira foi a que descrevemos acima sobre o neoliberalismo e, numa segunda postagem no X, ele criticou o nível da taxa de juros básicos, a Selic, que está em 10,5% ao ano. O mercado financeiro e seus porta-vozes estão fazendo uma enorme pressão para que o BC mantenha os juros na lua na próxima reunião do Conselho de Política Monetária (Copom) e que a economia continue asfixiada. A mensagem de Pochmann visa também se contrapor a essa pressão.
Leia as duas postagens na integra