
Segundo a MetSul, uma entidade meteorológica do Rio Grande do Sul, as chuvas que atingiram e provocaram uma tragédia no Sul do país foram previstas e alertadas. A informação contraria a versão do governador do estado, Eduardo Leite (PSDB), de que o volume de 300mm não foi previsto.
A entidade rebateu as declarações de Leite em entrevista a André Trigueiro, da GloboNews, na quarta-feira (6), que geraram um embate entre o governador e o jornalista. O tema da conversa era a tragédia causada pelas fortes chuvas, provocadas por um ciclone extratropical, que já vitimou mais de 39 pessoas no estado.
Leite afirmou na ocasião que foi “surpreendido” pelo volume de chuvas, já que os modelos matemáticos não teriam previsto a intensidade das precipitações. O governador destacou, ainda, que está fazendo de tudo para salvar vidas.
Trigueiro, que há décadas cobre pautas relativas ao meio ambiente e às mudanças climáticas, rebateu, destacando que o discurso de Leite é o mesmo utilizado por outros políticos em acontecimentos dessa natureza, chamando a atenção para o fato de que o trabalho de prevenção e de retardamento das mudanças climáticas, que demandam políticas públicas ambientais, não acontece.
“A declaração do governador sobre a ‘imprecisão dos modelos matemáticos’ coloca o trabalho da meteorologia em xeque”, criticou a MetSul.
Na entrevista, além de negar que tivesse conhecimento das chuvas extremadas que se aproximavam da região Sul, Leite questionou se Trigueiro o estava responsabilizando pela tragédia e o acusou de “falta de empatia”.
A entidade, que resgatou previsões dos dias anteriores às chuvas que alertavam para volumes atípicos e “sem precedentes”, foi a única no setor a prever a ameaça, segundo informou.
Previsões da MetSul alertavam para até 500 mm de chuva, mas a Defesa Civil gaúcha fez outra leitura. Em comunicado emitido na semana passada, o órgão estadual havia alertado para “temporais isolados” com o volume máximo de 100 mm a ser atingido na segunda-feira (4), segundo o UOL.
“Os modelos, assim, anteciparam os volumes de chuva. A gravidade do que se avizinhava já era conhecida muitos dias antes. A ciência meteorológica cumpriu o seu papel”, afirmou a empresa de meteorologia em resposta a Leite.
Na nota, a entidade ressalta o apoio ao trabalho do estado para o socorro às vítimas e justifica seu posicionamento. “Não era nosso desejo emitir essa nota neste momento de calamidade estadual, mas os esclarecimentos são devidos à sociedade gaúcha”.
Após sobrevoar a região na quarta-feira (6), o govenador decretou estado de calamidade pública. A decisão foi publicada em edição extra do Diário Oficial do Estado e abrange 79 municípios.
“O evento climático extremo que se abateu sobre Petrópolis, no Rio de Janeiro, devastando a cidade e provocando a morte de mais de uma centena de pessoas, deve servir de alerta para todos nós – autoridades e cidadãos”. O alerta é da jornalista Juliana Bublitz, em sua coluna no portal GZH em fevereiro de 2022.
“Já escrevi sobre isso aqui, mas não custa repetir: com o avanço do aquecimento global, temos de estar preparados para reviravoltas cada vez mais violentas no clima”, prosseguiu.
De acordo com Juliana, com base em dados do Sistema Estadual de Gestão Integrada de Riscos e Desastres (Segird), 229 municípios (47% do total) ainda não tinham planos de contingência na ocasião, contra 227, onde o documento já havia sido aprovado. “Esse planejamento é essencial porque ajuda a prevenir e amenizar as consequências de desastres naturais. É urgente mudar o cenário”, ressaltou.