Dependência de componentes importados, mantida e agravada pelo governo Bolsonaro, e pandemia prejudicam fabricantes de eletrônicos, medicamentos, automóveis, entre tantos produtos
Estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgado na terça-feira (27) pelo jornal Valor Econômico, aponta que diante da falta de insumos, os estoque na indústria de transformação em junho deste ano operavam no limite, sem recuperar as perdas da pandemia.
De acordo com o levantamento da especialista da FGV, Claudia Perdigão, o saldo de estoques da indústria de transformação, na sondagem, ficou negativo em 1,5 ponto, muito próximo de zero, o que sinaliza “perfeito equilíbrio”, com oferta igual à demanda.
A média histórica, antes da pandemia, para saldo de estoques na indústria de transformação, é mais distante de zero, em 5,2 pontos negativos, disse a pesquisadora.
Com o custo da produção mais alto por falta de insumos e com o aumento da tarifas de energia, as indústrias ficam desestimuladas a estocarem.
Segundo a pesquisa, feita em junho, com 1.098 empresas sobre se os estoques estavam “normais, excessivos ou insuficientes”, os empresários responderam: 8,6% “insuficiente”; 10,1%, “excessivo”, e o restante, “no limite”, ou seja, com estoque suficiente apenas para atender à procura.
Para a pesquisadora, esse resultado não é motivo para comemoração, já que, segundo ela, há perspectiva de crescimento econômico, diferente do ano passado, quando a indústria também operava com estoques baixos. Em maio, a produção industrial cresceu 1,4% ante abril após três meses de queda, segundo o IBGE. Se mantiver este nível, não haverá como atender à demanda,.
“Em um contexto de retomada e de choque de oferta, tanto pela escassez de insumos quanto pela crise energética, esse estoque mais baixo gera preocupação”, disse Claudia Perdigão. “Quando bens de capital estão escassos afeta toda a cadeia produtiva”, completou.
Na sondagem industrial da Confederação Nacional da Indústria, divulgada na semana passada, mais de 60% dos empresários entrevistados apontaram a falta de insumos e a alta dos custos como os principais problemas que ameaçam a recuperação do setor, um dos que mais emprega. Com a redução da oferta de componentes, os custos estão subindo.
O resultado é queda na produção, desemprego e preços inacessíveis ao consumidor final.
Desde o último trimestre do ano passado, as sondagens da CNI vêm mostrando estoques abaixo do planejado. “É um indicador de vulnerabilidade frente a qualquer demanda pontual inesperada. É um sintoma dessa situação”, assinala Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o desenvolvimento industrial (IEDI). “O setor está patinando, a contribuição positiva está vindo da (indústria) extrativa, com a demanda maior por minério”, assinala o economista, destacando que a produção industrial brasileira, após esboçar uma reação, vem oscilando entre quedas e altas.
A pandemia escancarou uma economia desindustrializada e dependente de matérias-primas e componentes de outros países, desde fabricantes de eletrônicos, medicamentos, chips, entre tantos produtos. Faltam papel, plástico e material de construção.
Como em alguns segmentos, a falta de insumos é global, como no caso de semicondutores, a indústria brasileira, segundo a consultoria IDC, leva até 32 semanas para receber as encomendas de semicondutores que vêm acompanhadas de custos até 40% maiores.
Com informações do Valor, G1 e CNI