Com 13,5 milhões de desempregados, juros do comércio de 80% ao ano e inflação na casa de 10%, “não é surpresa que o Natal deste ano seja muito ruim, assim como foi a Black Friday”, diz responsável pela pesquisa
A intenção de consumo da população brasileira para este Natal caiu 24%, segundo pesquisa da plataforma V+ do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo (Ibevar). No ano passado, em plena pandemia da Covid-19 e com fim do auxílio emergencial, a queda havia sido de 5% ante o Natal de 2019.
Com a recessão econômica, desemprego, inflação desembestada e arrocho na renda, no crédito e nos investimentos públicos, nem a megaliquidação do final de novembro – a Black Friday – deu um alívio ao setor produtivo e ao consumidor.
“Não é surpresa que o Natal deste ano seja muito ruim, assim como foi a Black Friday”, afirma o economista e presidente do Ibevar, Claudio Felisoni de Angelo, se referindo aos 13,5 milhões de desempregados no país, juros no comércio de 80% ao ano, inflação na casa de 10%, incertezas e ambiente político conturbado.
Segundo o Ibevar, na Black Friday deste ano o tombo no consumo foi ainda maior, uma queda de 32% na intenção de compra para a data, comparada ao ano anterior. De acordo com a Eletros, associação que reúne a indústria de eletroeletrônicos, houve recuo de até 30% nas vendas de seus produtos.
De acordo com o levantamento, de 28 produtos pesquisados, entre alimentos e enfeites típicos desta época do ano, eletroeletrônicos, eletrodomésticos, móveis, itens de informática, telefone celular e artigos de vestuário, só cinco apresentaram aumento na intenção de compra em relação ao Natal de 2020, mostra a pesquisa, que extraiu dados – com uso de algoritmos de inteligência artificial e análise semântica – de 100 mil manifestações espontâneas em redes sociais.
Entre os cinco produtos que registraram aumento da intenção de compra, estão forno de micro-ondas (3%), drones (31,2%), jogos eletrônicos (42%), consoles de videogames (70%) e panelas elétricas (270%).
Felisone observa que eles refletem mudanças de hábitos provocadas pelo isolamento social imposto pela pandemia. “As pessoas passaram a cozinhar mais em casa e ter atividades de lazer, por isso o maior interesse pela panela elétrica e console de jogos”.
Os 23 itens restantes tiveram registros de queda de até 40% na intenção de consumo, caso de telefone celular e smartphone, seguido por fone de ouvido (38,2%), bicicleta (33,8%), TV (30,1%) e tablet (29,5%). Os dados coletados revelam um recuo de, em média, 24% na intenção de compra para os 28 itens. É a maior retração observada na pesquisa de intenção de consumo de Natal desde 2016 (7%), segundo a reportagem do Estadão.