Por efeito da disparada nos preços dos alimentos, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado como índice oficial de inflação, apresentou alta de 0,89% na passagem de outubro para novembro – a maior já registrada para o mês nos últimos cinco anos.
O IPCA foi divulgado na manhã desta terça-feira (08) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que calculou um avanço de 3,13% na inflação no acumulado de janeiro a novembro. Em 12 meses, a alta foi de 4,31%. Com o resultado, a inflação agora está bem acima do centro da meta de inflação do governo para este ano, que é de 4%.
No ano marcado pela pandemia, desemprego e achatamento da renda das famílias, Bolsonaro faz vista grossa para o aumento nos preços dos alimentos, culpa o auxílio emergencial, a quarentena e se irrita com os consumidores que se queixam dos preços abusivos.
Foi assim que se manifestou com o aumento do arroz, do óleo de cozinha que ficou à mercê da exportação acelerada da soja, assim como o preço das carnes. Tudo para exportação. Declarou que não ia intervir nos preços. Quer é controlar o preço dos alimentos com a fome do povo.
Segundo o IPCA, o maior peso na composição do índice de inflação veio dos alimentos. De janeiro a novembro, esse grupo de produtos cresceu 12,14%. Os destaques foram:
Óleo de soja – alta de 94,10%;
Arroz – alta de 69,50%;
Batata-inglesa – alta de 55,90%;
Tomate – alta de 76,51%;
Carnes – alta de 13,90%;
Frango – alta de 14,02%;
Hortaliças e verduras – alta de 17,68%;
Pão francês – alta de 4,74%;
Ovo de galinha – alta de 9,47%;
Frutas – alta de 17,49%;
Na passagem de outubro para novembro, os preços do grupo de alimentos e bebidas também exerceram maior pressão sobre a inflação. De acordo com o IBGE, esse grupo teve a maior variação (2,54%) e o maior impacto (0,53 ponto percentual), com que aceleração frente a outubro de 1,93%. Para meses de novembro, foi a maior inflação de alimentos desde 2002.
A segunda maior contribuição veio dos Transportes (1,33%). Juntos, os dois grupos representaram cerca de 89% do IPCA de novembro.
“O cenário é parecido com o que temos visto nos últimos meses, em que o grupo de alimentos e bebidas continua impactando bastante o resultado. Dentro desse grupo, os componentes que mais têm pressionado são as carnes, que nesse mês tiveram uma alta de mais de 6%, a batata-inglesa, que subiu quase 30% e o tomate, com alta de 18,45%”, declarou o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov.
O cenário dos últimos meses, especialmente no que diz respeito a preço dos alimentos, se mantém por conta da ausência de medidas de regulação e reserva de preços e produtos para o mercado interno. Sem política nacional, “o câmbio num patamar mais elevado que estimula as exportação e o preço de algumas commodities mais alto no mercado internacional influenciam no aumento dos preços dos alimentos”, afirmou Kislanov.
Ele enfatizou que o índice de difusão do grupo de alimentos passou de 73% em outubro para 80% o que, segundo ele, “demonstra um maior espalhamento da alta de preços entre os produtos alimentícios”.
Os combustíveis também pesaram no bolso do brasileiro: altas de 9,23% no etanol e 1,64% na gasolina, produtos que são reajustados de acordo com os do “mercado internacional”. No setor de transportes, houve altas nos itens transportes de aplicativos (7,69%), automóveis novos (1,05%) e usados (1,25%).
A alta nos preços atingiu todas as 16 regiões pesquisadas pelo IBGE. O maior resultado ficou com Goiânia (1,41%). Em São Paulo e no Rio de Janeiro, o IPCA do mês foi de 1,04% e 0,69%, respectivamente.
Com os recentes anúncios de autorização de cobrança extra na conta de energia elétrica em dezembro e reajuste de 5% do botijão de gás nas distribuidoras, o mercado espera que a inflação dispare mais uma vez no último mês do ano.
Para o boletim Focus, do Banco Central, o mercado financeiro passou a projetar uma inflação para 2020 acima da meta central do governo, de 4%. A expectativa para este ano passou de 3,54% para 4,21%, de acordo com a pesquisa divulgada na última segunda-feira.
A alta do custo de vida tem pesado mais no bolso dos mais pobres. O índice da FGV que mede a variação de preços de produtos e serviços para famílias com renda entre um e 2,5 salários mínimos, por exemplo, tem alta acumulada em 12 meses de 5,82% até novembro, muita mais alta que o IPCA.