Muito se falou sobre mais uma década perdida no Brasil do ponto de vista econômico e social.
Estudos acadêmicos fartaram-se de apresentar dados sobre o desempenho da economia brasileira e, em especial, da indústria, na última década.
Agora, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) apresenta um estudo dos economistas Mário Jorge Mendonça, Rodrigo Pereira e Beatriz Pinna, sob o título Uma Análise da Produtividade da Indústria Brasileira, constatando de forma cabal a perdição daquele que deveria ser o setor mais dinâmico da economia nacional.
Segundo o estudo, cuja avaliação das causas apontadas para o anunciado retrocesso na estrutura industrial demande uma análise mais cuidadosa, o Brasil experimentou, entre os anos de 2007 e 2018, uma queda na produtividade total dos fatores (PTF) na maioria dos setores da indústria brasileira. Nesse período analisado – pouco mais de uma década, os fatores de produção empregados na indústria ficaram aproximadamente 14,3% menos produtivos.
Dos 29 setores industriais, somente quatro tiveram ganhos na PTF, entre eles estão: extração de petróleo e gás natural; fabricação de produtos alimentícios; preparação de couro e fabricação de artefatos de couro; e fabricação de papel, celulose e produtos de papel.
O elemento-chave para o crescimento econômico, segundo o estudo, é o crescimento da produtividade dos fatores de produção. Para compreender a produtividade no setor da indústria, os pesquisadores avaliaram “a produtividade total dos fatores, que compreende a parcela da variação do produto total não explicada por variações nos fatores de produção, para cada ramo da indústria”.
Na avaliação de Mendonça, a produtividade é um elemento-chave para explicar o grau de desenvolvimento econômico de um país. “Países ricos, via de regra, são ricos porque produzem um alto valor agregado por trabalhador. É fato, também, que numa economia de mercado as rendas dos fatores de produção são proporcionais às suas produtividades (marginais). Se a produtividade do trabalho for baixa, os salários também o serão”, explicou.
A marginalidade da produtividade tem a ver com o processo de reprimarização da economia brasileira, o que desencadeou, com igual perversidade, a sua desindustrialização, desnacionalização e financeirização, fenômenos que, associados, geram flagrante retrocesso na estrutura produtiva nacional, aprofundando a dependência econômica e tecnológica.
Seguramente, a extensão do estudo aos quase dois anos do atual governo levará a resultados ainda mais dramáticos para a economia nacional, tendo em vista o agravamento das políticas desindustrializantes de natureza ultraliberal praticadas por Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes. O tempo dirá…
(MC)