Diante das expressivas altas nos preços dos alimentos, combustíveis e energia elétrica, o Grupo de Conjuntura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) elevou a estimativa de inflação para 3,7%, divulgou o órgão na terça-feira (23). A estimativa anterior, divulgada em dezembro, era de 3,5%.
“Os dados mais recentes mostram que a inflação corrente segue pressionada, mesmo em um contexto de desaquecimento da demanda interna”, disse a pesquisadora do Ipea, Maria Andréia Parente Lameiras, ao divulgar o estudo de “Análise e projeções de inflação”.
Em janeiro, a inflação em doze meses, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), voltou a acelerar, registrando variação de 4,56%. No estudo, o Ipea alerta que, além da perspectiva de que os preços internacionais das commodities (produtos agrícolas e minerais) se firmem em patamar mais alto, a desvalorização do real frente ao dólar piorou nas últimas semanas – fatores que fizeram os pesquisadores aumentarem também as estimativas para a inflação dos alimentos e dos demais bens livres de 3% para 4,4% e de 2,7% para 3%, pela ordem.
“Apesar de apresentarem alguma acomodação na margem, os preços dos alimentos no domicílio ainda mostram forte crescimento no acumulado em doze meses, cuja alta de 19,2% vem se constituindo no principal foco de pressão sobre a inflação”, disse Maria Andréia.
Nos últimos doze meses, apontou o estudo, 11 dos 16 subgrupos que compõem o conjunto dos alimentos no domicílio registraram variação superior a 10%. Entre os destaques estão: cereais (60,2%), Óleos e gorduras (59,5%), Tubérculos, raízes e legumes (47,6%), Carnes (22,8%), Hortaliças e verduras (21,9%) e leite e derivados (17,3%).
Os pesquisadores do Ipea também elevaram a estimativa de inflação dos preços administrados, de 4,0% para 4,5%. Entre os fatores apontados estão a aceleração nos preços da energia elétrica e dos combustíveis – produto que também pressionará para o alto as tarifas do transporte público.
Em meio ao cenário da carestia dos preços – em tempos da pandemia da Covid-19, que desde o ano passado já tirou a vida de 247,2 mil brasileiros, Bolsonaro defende que meia dúzia de grupos estrangeiros possam tirar os alimentos do prato do povo. É a “lei da oferta e da procura”. “Nossa política é de livre mercado”, mantras que são sempre repetidos por Bolsonaro e seu ministro da economia, Paulo Guedes, quando são questionados sobre a disparada dos preços.
Além disto, Bolsonaro se aproveita da atual crise para chantagear o Congresso, ao propor a troca do novo auxílio emergencial pela aprovação de projetos do governo que detonam com os serviços públicos, com destaques para as áreas de saúde e educação, e arrastaram o país para um regime de austeridade perpétuo.