O ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, afirmou que a salvaguarda do Plano de Ação Integral Conjunto (JCPOA) – o acordo nuclear assinado por Teerã com mais seis países sob égide da ONU – é uma responsabilidade que exige “medidas práticas” da comunidade internacional.
“Salvar o JCPOA é responsabilidade da comunidade internacional. Se a comunidade internacional considera o JCPOA uma conquista importante, deve tomar medidas práticas para conservá-lo, assim como o Irã”, ressaltou Zarif depois de chegar à capital chinesa, Pequim, na sexta-feira (17).
“Está bem claro o que entendemos por medidas práticas: a normalização das relações econômicas do Irã. Isso é claramente mencionado no JCPOA”, acrescentou.
O ministro das Relações Exteriores do Irã enfatizou que a comunidade internacional recorreu a “publicar declarações e comentários em vez de tomar medidas práticas” para salvaguardar o JCPOA. Antes de Pequim, Zarif foi a Nova Delhi e a Tóquio.
Na véspera, o presidente russo Vladimir Putin havia advertido aos “parceiros europeus” que a Rússia não podia sozinha salvar o acordo nuclear e exortado a União Europeia, e especialmente França, Alemanha e Grã-Bretanha, que são signatários do acordo, a tomarem medidas efetivas para cumprirem sua parte no acordo, que garantiu o fim das sanções e normalização do intercâmbio econômico em troca do mais rígido regime de inspeção já realizado pela Agência Internacional de Energia Nuclear (AIEA).
“ZERO DE PETRÓLEO”
Desde 1º de maio o regime Trump, que se retirou unilateralmente do acordo negociado durante três anos e assinado por seu antecessor, Obama, passou à pressão máxima contra o Irã com sua política de zero de exportação de petróleo iraniano e eliminou as isenções que permitiam que os oito maiores importadores, entre eles Índia, Turquia e Japão, seguissem comprando petróleo iraniano.
Quem não se submeter, sofrerá sanções também. As sanções de Trump se estenderam também aos metais e os EUA enviaram um porta-aviões nuclear e quatro bombardeiros estratégicos nucleares B-52 para o Oriente Médio.
O draconiano regime de sanções aplicado pelos EUA contra todos que não se sujeitam aos ditames imperiais foi comparado, por relatores de direitos humanos da ONU, ao “cerco medieval das cidades” para matar pela fome seus habitantes. O petróleo é a fonte de receita de que o Irã depende para comprar o que ainda não produz.
“AÇÕES CONCRETAS”
“Se a comunidade internacional e outros países membros da JCPOA e nossos amigos da JCPOA, como a China e a Rússia, querem manter essa conquista, é necessário que eles garantam que o povo iraniano aproveite os benefícios da JCPOA com ações concretas”, acrescentou Zarif.
Durante a visita a Pequim, Zarif disse que a China era um dos parceiros econômicos e políticos mais importantes do Irã, com o qual Teerã tem buscado “negociações estreitas” com o país, especialmente em relação aos “desenvolvimentos recentes”. A China prossegue comprando petróleo iraniano.
Na semana passada, o Irã anunciou que, dentro dos termos permitidos pelo acordo, iria suspender certas cláusulas, e estabelecendo aos parceiros europeus um prazo de 60 dias para que o apoio, até aqui verbal, se torne efetivo no terreno econômico. O presidente Putin aconselhou Teerã a, no seu próprio interesse, se manter dentro do acordo.
A chanceler da União Europeia, Federica Mogherini, repudiou a ameaça dos EUA de enviar 120 mil soldados ao Oriente Médio e a Espanha retirou da frota capitaneada pelo porta-aviões Abraham Lincoln sua fragata, por discordar do rumo das coisas na região.
PISCOU PRIMEIRO?
Segundo o New York Times, o presidente Trump ordenou que seu governo evite um confronto militar com o Irã, informação também corroborada pela agência de notícias Reuters.
Conforme o NYT, Trump disse ao seu chefe do Pentágono, Patrick Shanahan, que “não queria uma guerra com o Irã”. A informação tem como base cinco altos funcionários que relataram o debate interno em Washington sobre o Irã. Um alto funcionário, sob anonimato, asseverou à Reuters que Trump “não quer ir à guerra. Não é quem ele é”.
A recomendação de Trump ocorre uma semana depois de seu conselheiro-chefe de segurança nacional, John Bolton, anunciar que os EUA estão enviando um grupo de ataque encabeçado por porta-aviões e uma força-tarefa de bombardeiros ao Oriente Médio para combater a “ameaça” de Teerã. O NYT já havia citado planos do Pentágono para envio de 120 mil soldados ao Oriente Médio.
Tais rumores foram engrossados por incidentes com navios petroleiros sauditas no Golfo Pérsico que analistas compararam à provocação no Golfo de Tonkin, na década de 1960. A crescente retórica bélica chegou ao Congresso, com o senador Bernie Sanders, advertindo na terça-feira que uma guerra com o Irã seria “muitas vezes pior do que a guerra do Iraque”.
Assessores de Trump se reuniram na quinta-feira com líderes do Congresso de ambos os partidos para discutir a questão. Após o encontro, o senador democrata Richard Durbin alertou que “este presidente se cercou de pessoas, Pompeo e Bolton em particular, que acreditam que endurecer no terreno militar com o Irã é de nosso interesse”. No início desta semana, a mídia norte-americana chegou a noticiar que Trump estaria “pensando” em substituir Bolton.
A.P.