Em carta à ONU, o Irã pediu “uma resposta coletiva” às sanções impostas pelo regime Trump, em vigor desde domingo (4). “Esta conduta irresponsável dos EUA requer uma resposta coletiva da comunidade internacional para defender o Estado de direito, impedir que a diplomacia enfraqueça e proteger o multilateralismo”, afirmou o embaixador iraniano na ONU, Gholamali Khoshroo, no documento entregue ao secretário-geral, Antonio Guterres.
As sanções são “ilegais e draconianas” e vão contra a carta de fundação das Nações Unidas, “especialmente pelo caráter extraterritorial de sua aplicação”, assinala o Irã. O embaixador Khoshroo lembrou que o acordo nuclear assinado em 2015 foi sacramentado por uma resolução do Conselho de Segurança da ONU e acrescentou que as medidas impostas por Washington “violam flagrantemente” esse documento.
O regime Trump, não só rompeu um acordo internacional assinado por seu antecessor, como ainda ameaçou com sanções a qualquer país ou empresa que não se sujeite aos seus desmandos.
Teerã denunciou ainda as novas sanções como uma “discriminação contra civis com base em seu país de residência ou nacionalidade” e um ataque direto ao livre comércio internacional.
Ao anunciar que pretende “zerar as exportações de petróleo do Irã”, o regime Trump não esconde sua disposição de matar pela fome o povo iraniano, já que o petróleo é a principal exportação do país e fonte das divisas necessárias para importar remédios, alimentos e maquinário.
Em comunicado conjunto motivado pelo início da fase mais agressiva das sanções de Trump, a União Europeia, Alemanha, França e Inglaterra reiteraram seu objetivo de “proteger os atores econômicos europeus que têm trocas comerciais legítimas com o Irã, de acordo com a legislação europeia e a resolução 2231 do Conselho de Segurança das Nações Unidas [que consagrou o acordo com o Irã]”.
Declaração que é uma decorrência da ameaça de Trump de estender as penalidades aos países e empresas que comercializarem com o Irã – isto é, de impor a todos a lei – ou falta de lei – americana.
Anteriormente, União Europeia, Berlim, Paris e Londres, em reunião conjunta com a Rússia e a China – todos signatários do acordo – haviam se pronunciado contra o rompimento por parte do governo Trump e garantido sua preservação e a disposição de garantir a Teerã os benefícios econômicos ali previstos.
Está sendo montado um sistema europeu, passando ao largo do dólar, para permitir a continuidade das transações com o Irã, enquanto este cumprir o acordo. A União Europeia lamentou que a operadora internacional de pagamentos bancários Swift haja desligado os bancos iranianos, atendendo às ordens de Trump.
O chanceler russo Sergei Lavrov reafirmou que as sanções dos EUA “não são legítimas” e condenou o uso por Washington de “métodos inaceitáveis” para forçar a operadora Swift, cuja sede é na Bélgica, a banir os bancos iranianos. Moscou já havia condenado as novas sanções: “se Washington, como alega, está de fato interessado em negociações com Teerã, a política de pressão com sanções visando diminuir o potencial econômico e de defesa do Irã, bem como minar a situação política interna, deve ser revisada imediatamente”.
Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, após condenar as sanções, assinalou que estão sendo tomadas as providências “para garantir que os negócios com o Irã possam continuar”. Ele advertiu que a desestabilização econômica do Irã colocaria “em risco” os interesses de segurança dos países europeus.
No domingo passado, milhões de iranianos foram às ruas repudiar as sanções de Trump e festejar o episódio da Revolução de 1979 que se tornou conhecido como a “Tomada da Embaixada”. O presidente Hassan Rouhani afirmou que o Irã “quebrará orgulhosamente as sanções injustas” e fará Washington entender que “não pode lidar conosco pela força, pressão e sanções”.
Rouhani considerou uma vitória iraniana o recuo de Washington, que se viu forçado a isentar a oito dos principais importadores de petróleo iraniano, entre eles China, Índia, Turquia, Coreia do Sul e Japão. Teerã também denunciou na agência da ONU que cuida do transporte marítimo (IMO) a ilegal perseguição de Washington a seus navios, colocados na lista negra do Departamento do Tesouro. A histeria foi tanta, que colocaram no rol até um navio que naufragou recentemente.
A. P.