
O papa Francisco canonizou Irmã Dulce, na manhã de domingo (13/10), em missa solene na Praça de São Pedro, no Vaticano.
A esta missa compareceram 50 mil pessoas – aproximadamente 15 mil brasileiros.
Em seu sermão (homilia), o papa comentou o episódio da cura dos leprosos por Jesus, no Evangelho de São Lucas:
“Também nós – todos nós – necessitamos de cura, como aqueles leprosos. Precisamos de ser curados da pouca confiança em nós mesmos, na vida, no futuro; curados de muitos medos; dos vícios de que somos escravos; de tantos fechamentos, dependências e apegos: ao jogo, ao dinheiro, à televisão, ao celular, à opinião dos outros”, disse o papa.
“Assim como hoje, os leprosos sofrem, além de pela doença em si, pela exclusão social. No tempo de Jesus, eram considerados impuros e, como tais, deviam estar isolados.”
Mas, observou o papa Francisco, “os leprosos são curados não quando estão diante de Jesus, mas depois, enquanto caminham”. É preciso, pois, “sairmos das nossas cômodas certezas, deixarmos os nossos portos serenos, os nossos ninhos confortáveis”.
“A fé”, disse o papa, “é caminhar juntos, jamais sozinhos”.
Por fim, o papa Francisco lembrou a gratidão como um intrínseco valor humano:
“… uma vez curados, nove continuam pela sua estrada e apenas um regressa para agradecer. E Jesus então pergunta: ‘Onde estão os outros nove?’”
E sintetizou:
“Agradecer não é questão de cortesia, de etiqueta, mas questão de fé.”
UMA VIDA
Na cerimônia da Praça de São Pedro, o Cardeal Angelo Becciu, Prefeito da Congregação das Causas dos Santos, apresentou uma biografia daqueles que seriam canonizados.
Irmã Dulce – nascida como Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes – nasceu em 26 de maio de 1914, em Salvador.
Aos 18 anos, recebeu o diploma de professora e entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus.
Foi em 13 de agosto de 1933 que ela tornou-se a Irmã Dulce, nome que escolheu em homenagem à sua mãe.
Como professora, sua atenção dirigiu-se para os mais pobres, começando a trabalhar na comunidade de Alagados, casario de palafitas em Itapagipe.
Na mesma época, criou um posto médico para atendimento aos operários e fundou, em 1936, a União Operária São Francisco.
No ano seguinte, ela e Frei Hildebrando Kruthaup fundariam o Círculo Operário da Bahia.
Em maio de 1939, Irmã Dulce inaugurou o Colégio Santo Antônio, escola pública voltada para operários e filhos de operários, no bairro da Massaranduba.
No mesmo ano, ocupando um barracão, passou a abrigar pessoas em situação de rua e doentes, levados depois ao Mercado do Peixe, nos Arcos do Bonfim. Desalojados pela Prefeitura da cidade, ela acolheu-os, com a permissão da madre superiora, no galinheiro do Convento, transformado, em 1960, em Albergue Santo Antônio, com 150 leitos (hoje, Hospital Santo Antônio).
Irmã Dulce inaugurou, ainda, um asilo, o Centro Geriátrico Júlia Magalhães, e um orfanato, o Centro Educacional Santo Antônio e, em 1983, inaugurou o novo Hospital Santo Antônio.
Em 1988, foi indicada, pelo então presidente da República José Sarney, ao Prêmio Nobel da Paz.
Conhecida como “o Anjo Bom da Bahia”, Irmã Dulce faleceu em 13 de março de 1992, com 77 anos.
Além de Irmã Dulce, foram canonizadas, no domingo, as freiras Josefina Vannini (1859-1911), nascida na Itália, fundadora das Filhas de São Camilo; Mariam Thresia Chiramel Mankidiyan (1876-1926), nascida na Índia, fundadora da Congregação das Irmãs da Sagrada Família; e, também, o cardeal inglês John Henry Newman – ídolo do escritor irlandês James Joyce na juventude, quando, apesar de ser o maior teólogo anglicano da época, se converteu ao catolicismo.
C.L.
(Com informações de Vaticano News, O São Paulo e Agência Ecclesia.)
A canonização na Praça de São Pedro (vídeo: Vaticano News)