Bolsonaro quer viver num mundo sem leis. Está no Planalto, mas não governa. Só faz defender milícias, estimular a propinagem e pregar a violência generalizada. Por isso, fala em vomitar na lei máxima do país
No mesmo dia em que Jair Bolsonaro afirmou que a roubalheira – que todo mundo vê acontecer dentro do seu governo – não existe, ele disse também que “embrulha o estômago cumprir a Constituição”. Aquele que deveria ser o maior defensor do respeito à Constituição, usa o microfone de um evento político para, numa grave ofensa à nação, dizer que tem vontade de vomitar na Constituição do país.
Em seguida, como se quisesse fazer alguma ameaça, não se sabe a quem, disse que tomará decisões “contra quem quer que seja”. Como até agora todas as decisões que ele tomou foram contra o povo, contra os trabalhadores, algumas pessoas estão achando que virão mais safadezas por aí. Não é de se estranhar, afinal, na pandemia, na economia, no estímulo à violência, em tudo isso, ele só tomou decisões que provocaram mortes e sofrimento para os brasileiros.
Com rejeição em alta e medo de perder as eleições, o capitão cloroquina se juntou aos seus novos correligionários, no ato de domingo (27) no PL. Estavam todos de mãos dadas, defendendo o “Orçamento Secreto”.
Lá estavam juntos com Bolsonaro, o ex-presidente Fernando Collor de Mello e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto. O primeiro saiu do governo após um processo de impeachment e o outro foi condenado e preso por corrupção, mas todos fieis seguidores de Bolsonaro e da corrupção.
Logo depois da fala do “mito”, o locutor puxou: “Temos que orar e agradecer, porque o diabo, o demônio vem para mentir, para confundir, para matar, para destruir”. Parecia estar falando do próprio Jair Bolsonaro, que acabara de mentir descaradamente, dizendo que não há corrupção em seu governo. Mas não.
Ele estava atacando os adversários políticos de Bolsonaro. Em seguida, o locutor explicou a todos que ele se referia à oposição e não ao “mito”. “Soltaram Barrabás e tentaram, desde que este homem assumiu, matar o Messias. Da mesma forma que o povo soltou Barrabás, os tribunais soltaram aquele homem de nove dedos”, disse o apresentador do ato que seria para lançar a candidatura de Bolsonaro.
Também discursou, no palco, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). O filho “01”, que foi denunciado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro sob a acusação de ter promovido um esquema de rachadinhas em seu gabinete como deputado estadual. Segundo o MP, o “Zero um”, como é conhecido, lavou dinheiro roubado da Assembleia – cerca de R$ 6 milhões – usando a milícia de Rio das Pedras e Muzema e os funcionários fantasmas de seu gabinete.
Após falar da vontade de vomitar na Constituição, Bolsonaro voltou a se referir às tais quatro linhas. Jurou que vai ficar dentro das quatro linhas. “Jurei, e não foi da boca para fora, que ia permanecer dentro das quatro linhas”, disse ele.
Essa conversa das quatro linhas já vem desde setembro do ano passado, quando da tentativa frustrada do golpe de Estado que ele pretendia dar no país. Enquadrado na ocasião pelo STF, pediu perdão pela lambança e, através de uma carta redigida por Michel Temer, jurou que nunca mais tentaria de novo sair das quatro linhas.
Como as pesquisas apontam para uma derrota eleitoral, voltou a falar em quatro linhas. Ao que tudo indica, Bolsonaro está insinuando alguma coisa. Disse que poderá ser roubado nas urnas ou qualquer coisa do gênero. Já tinha apontado suas baterias contra as urnas eletrônicas e, agora, ataca os institutos. “Eu não vou ser derrotado pelas pesquisas”, disse ele.
O fato é que Bolsonaro vai ter que ficar mesmo dentro das quatro linhas e terá que disputar as eleições. Ele não queria, mas foi obrigado. Derrotado, aí sim, ele poderá sair das quatro linhas, mas indo direto para o vestiário e depois, para a casa. Se é isso o que ele está querendo dizer, tudo bem. É exatamente para isso que o povo está se preparando. Tirá-lo do jogo e começar uma nova partida.