Atacou os dirigentes da indústria e dos bancos por adesão contra o golpe. Manifesto de empresários e personalidades contra artimanhas antidemocráticas do Planalto já tem mais de 400 mil assinaturas
Jair Bolsonaro (PL) não para de perder apoios depois que reuniu embaixadores para atacar ministros do Supremo Tribunal Federal e ameaçar a democracia brasileira. Agora , ele está se engalfinhando com o FIESP (Federação das Indústrias de São Paulo). Atacou o seu presidente, Josué Gomes, pela organização de um novo manifesto em defesa da democracia que reúne assinaturas de associações empresariais e da sociedade civil.
Batizado de “Em Defesa da Democracia e da Justiça”, o manifesto em criação pela Fiesp é o segundo documento público lançado em defesa da democracia por empresários após os seguidos ataques de Jair Bolsonaro (PL) ao sistema eleitoral. Ex-alunos da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), empresários e personalidades vão lançar também a “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito”, em ato político no próximo dia 11 de agosto.
O documento organizado pelos empresários e por juristas e professores da USP, já tinha até o início da tarde desta sexta-feira (29) mais de 400 mil assinaturas e está deixando atordoada a campanha do ex-capitão.
A adesão da Fiesp aos protestos – que anunciou que vai participar de qualquer ato contra o golpe – deixou Bolsonaro ainda mais nervoso. Ele passou recibo e disse que o documento tem teor político e visa defender a candidatura do ex-presidente Lula (PT).
“É uma nota política em ano eleitoral. É melhor democracia com ladrão do que outro regime com honesto. Agora, qual outro regime com o honesto. Que outro regime é esse? Não consigo entender. Estão com medo de quê? Se eu estou três anos e meio no governo, nunca nenhuma palavra minha, nem um gesto (contra a democracia)”, afirmou.
Bolsonaro mente duas vezes ao indagar sobre suas intenções e sobre uma suposta honestidade de seu governo. Primeiro, ele tenta esconder o mar de corrupção em que seu governo está mergulhado desde que assumiu. É só lembrar as propinas na compra de vacinas, as rachadinhas, os pastores cobrando barras e ouro para liberar verbas do FNDE, as obras superfaturadas na Codevasf, o padrinho do filho mamando nos cofres da Secretaria de Esportes, e por aí vai. O grande esforço de Bolsonaro é impedir, com ameaças e perseguições, que esses crimes sejam investigados. Faz isso para fingir que seu governo não tem corrupção.
E a segunda mentira é que ele é um defensor da democracia. Ele é um defensor ferrenho da ditadura isto sim, da violência e da tortura de opositores. Seu ídolo, homenageado várias vezes por ele e por seus filhos, é o coronel Carlos Brilhante Ustra, único torturador condenado pela Justiça brasileira pela morte de dezenas de políticos que se opunham ao regime de 1964.
Afirmou em uma entrevista dada por ele em 1999, que o erro da ditadura de 64 foi não ter matado de 20 a 30 mil pessoas no Brasil. “Só vai mudar infelizmente quando partirmos para uma guerra civil, fazendo um trabalho que o regime militar não fez. Matando uns 30 mil”, afirmou ele, na ocasião.
Assista a entrevista em que Bolsonaro defendeu o assassinato de 30 mil pessoas
Disse também, no ato golpista do ano passado, que não respeitaria mais nenhuma decisão do Supremo Tribunal Federal e que seus apoiadores sabiam bem o que fazer. Eles realmente sabiam tanto que tentaram invadir o STF na véspera do 7 de Setembro, sendo impedidos pela PM do Distrito Federal.
Também naquela época, na tentativa de ruptura democrática no “7 de Setembro” de 2021, como agora, a sociedade reagiu vigorosamente e ele teve que recuar de seu plano golpista.
Ele prosseguiu atacando os empresários e disse que não entende a nota. “Quem é contra a democracia no Brasil? Somos pela transparência, pela legalidade, respeitamos a Constituição. Eu não entendi essa nota, que foi patrocinada pelo nosso querido filho do vice do ex-presidente Lula, seu Josué Gomes da Silva”, disse o golpista, lembrando que Josué é filho do ex-vice-presidente dos dois governos Lula, José de Alencar.
Em seu isolamento cada vez maior, Bolsonaro atacou também os empresários do sistema financeiro. Repetiu a acusação de que a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) será signatária do documento a favor da democracia por perdas de arrecadação decorrentes do Pix. “No corrente ano, banqueiros devem deixar de arrecadar em torno de R$ 22 bilhões com Pix”, pontuou.
Quando foi implantado o Pix, Bolsonaro foi perguntado, na ocasião, o que achava da medida e ele respondeu que não sabia do que se tratava e que iria se inteirar. A resposta confirmou o que já se sabia da atuação de Bolsonaro. Ele não governa. Não sabe de nada. Só passeia, só se diverte e conspira o tempo todo contra o país. Abandona o Brasil à própria sorte e não se interessa por nada que diga respeito ao desenvolvimento da economia, ao combate à inflação ou à criação de empregos .
A agressão aos empresários foi feita na noite de quinta-feira (28), durante live transmitida em suas redes sociais. Realmente o documento é político, amplo e categórico. “Não permitiremos a volta da ditadura”, dizem os empresários e personalidades brasileiras, respondendo à mentira de Bolsonaro de que nunca atacou a democracia. Não foi só uma vez que ele ameaçou a democracia. Foram várias vezes.
Ele foi rechaçado na armação golpista do “7 de Setembro” do ano passado e teve que pedir socorro a Michel Temer que redigiu para ele uma carta se desculpando da tentativa frustrada de golpe. Foi um recuo por conta do fracasso da iniciativa e não um arrependimento verdadeiro. Tanto que agora, novamente, ele tentou preparar um novo clima de golpe com a reunião dos embaixadores e de novo convocou para o próximo “7 de Setembro.” “Será a ultima manifestação de rua que vamos fazer”, disse ele. Ou seja, “é agora ou nunca.”
A reunião de Bolsonaro com os representantes de dezenas de embaixadas para atacar ministros das Cortes Superiores e da Justiça Eleitoral do Brasil teve o claro objetivo de preparar o terreno para tumultuar e golpear as eleições presidenciais de outubro próximo. Mas, para seu infortúnio, o tiro saiu pela culatra e a reação da sociedade foi vigorosa e acachapante. Embaixadas, inclusive a dos EUA e da Inglaterra, emitiram nota contra as intenções golpistas e defendendo a democracia brasileira. O resultado foi um isolamento político ainda maior do já desgastado Jair Bolsonaro.