“Não podemos permitir que políticas de uma minoria radical aliene milhões de judeus em todo o mundo”, declara Ronald Lauder, presidente do Congresso Mundial Judaico, em artigo publicado no jornal The New York Times no dia 16.
A recentemente aprovada ‘Lei do Estado-Nação’ que os palestinos e lideranças em todo o mundo estão denominando como a lei do apartheid israelense, é de tamanho retrocesso e estupidez que conseguiu provocar o distanciamento da principal base de sustentação política de Israel fora do país: o lobby judaico-americano.
O presidente do Congresso Mundial Judaico, que assim como a grande maioria do público judeu-sionista, conseguiu fechar os olhos para o sofrimento que a criação do Estado de Israel impôs sobre um povo de milenar convivência pacífica com os judeus, o povo palestino, não pode mais se calar diante da deterioração que a ideologia supremacista sionista acabaria por conduzir o país: a inscrição da segregação como “lei básica” do Estado de Israel.
Posicionando-se como “um irmão de Israel” que faz alertas, Lauder denuncia que a lei Estado-Nação “danifica o senso de igualdade e pertinência dos drusos israelenses e dos cidadãos muçulmanos”.
Esta lei e outras medidas discriminatórias e retrógradas, segundo Lauder, seriam “desafiadoras”.
De fato, o que se mostra mais espantoso é que Israel começa a se tornar um lugar cada vez mais hostil a grande parte dos próprios israelenses que se dizem judeus. Exemplo disso, como ressalta o presidente do Congresso Mundial Judaico, é a “proposta de uma lei restritiva de conversão ao judaísmo que infringe os direitos dos judeus não-ortodoxos”.
Como ele destaca, “no mês passado [quase simultaneamente à aprovação da lei do apartheid no Knesset, o Congresso israelense] um rabino conservador [corrente que, assim como a reforma, criou vertentes distintas da liturgia ortodoxa judaica, tornando possível a prática do judaísmo para pessoas que convivem com outras religiões e costumes ocidentais], foi detido pelo alegado crime de promover uma cerimônia de casamento não-ortodoxa em Israel”. Lauder diz ainda que “em diversas municipalidades, tentativas são cada vez mais frequentes de destruir a vida secular através do fechamento obrigatório de lojas de conveniência durante o Shabat [sábado, dia de descanso obrigatório para os judeus, mas não observado por muitos que se dizem judeus seculares]”.
O que o autor do artigo não consegue deixar de perceber é que o mito (para ele e muitos sionistas um fato até a pouco incontestável) das “dimensões democráticas e igualitárias do Estado judeu democrático”, agora “estão sendo testadas”.
Assim como outros líderes sionistas em todo o mundo e dentro de Israel, Lauder enfatiza que esses movimentos intolerantes pelo Estado de Israel ferem até a Declaração de Independência que, como observa Lauder, “garante ‘completa igualdade de direitos políticos e sociais a todos os seus habitantes independente de religião, raça ou sexo’ assim como garante a liberdade de religião, consciência, língua, educação e cultura”.
Assim, a suposta combinação de “nacionalismo judaico e humanismo universal” que os sionistas achavam possível está sendo “arrasada pelo governo de Israel” faz com que “muitos apoiadores sintam que o país está voltando as costas para a herança judaica e etos sionista”, diz ainda Lauder no NYT.
No entanto, não podemos deixar de ressaltar que o artigo de Lauder, como não poderia deixar de ser, pelo próprio caráter do posto que ocupa, à frente de um congresso que confere aos judeus, enquanto tais, mesmo quando filhos de nações as mais diversas, direitos superiores – desde a criação do Estado de Israel – sobre os palestinos, os nacionais daquele território, por milênios de conformação daquele povo, que incluía – no momento da fundação de Israel – dezenas de milhares de judeus palestinos. Fica claro que a ideologia da segregação e da supremacia colonial europeia era o prevalecia nas fundações do sionismo e não “o humanismo” que Lauder advoga.
Mas o que importa agora, e motiva este artigo é que até mesmo as principais lideranças que sempre deram respaldo irrestrito a Israel passam a sentir a necessidade de se pronunciarem com duras críticas a este regime, uma vez que seu aspecto de contradição com as conquistas humanas que sustentaram a Declaração Universal dos Direitos Humanos e todos os princípios que servem de base para a legislação internacional surgem de forma escancarada nas medidas e legislação que a cada dia mais expõem o real caráter desumano e chauvinista de Israel e sua agressão aos povos da região onde se estabeleceu, o Oriente Médio.
NATHANIEL BRAIA