Dezenas de palestinos de Gaza estão sendo mantidos em uma prisão subterrânea israelense, onde são privados de luz natural, alimentação adequada e qualquer comunicação com suas famílias ou o mundo exterior, de acordo com uma investigação exclusiva da jornalista Emma Graham-Harrison. As informações são baseadas em relatos de advogados do Comitê Público Contra a Tortura em Israel (PCATI), que tiveram acesso ao local.
A instalação, conhecida como Rakefet, abriga detidos sem acusação formal ou julgamento, incluindo um enfermeiro preso desde janeiro e um adolescente mantido por nove meses. “Embora a guerra tenha oficialmente terminado, [os palestinos de Gaza] ainda estão presos em condições de guerra violentas e contestadas legalmente, que violam o direito internacional humanitário e configuram tortura”, afirmou o PCATI em documento citado pela repórter.
Segundo a apuração de Graham-Harrison, a prisão de Rakefet foi reaberta por ordem do ministro da Segurança de extrema-direita, Itamar Ben-Gvir, após os ataques de 7 de outubro de 2023. Originalmente fechada na década de 1980 por ser considerada desumana, a estrutura subterrânea submete os detentos a um regime de isolamento total.
Tal Steiner, diretor executivo do PCATI, explicou à jornalista que manter pessoas no subsolo sem luz solar por meses tem “implicações extremas” para a saúde psicológica. “É muito difícil permanecer íntegro quando se é mantido em condições tão opressivas e difíceis”, disse Steiner. O confinamento também afeta a saúde física, prejudicando funções biológicas básicas, como os ritmos circadianos e a produção de vitamina D.
TORTURAS E MAUS-TRATOS
Dois civis representados pelo PCATI – um enfermeiro de 34 anos e um jovem vendedor de 18 anos – relataram espancamentos frequentes, ataques com cães e negligência médica. Os advogados Janan Abdu e Saja Misherqi Baransi, que visitaram a prisão em setembro, descreveram à repórter condições degradantes: celas superlotadas sem ventilação, restrição de movimento a apenas cinco minutos em dias alternados e celas praticamente vazias, com colchões removidos por até 20 horas seguidas.
“Perguntei-me: se as condições na sala dos advogados são tão humilhantes, então qual será a situação dos presos?”, questionou a advogada Janan Abdu em depoimento a Graham-Harrison. “A resposta veio logo, quando os conhecemos”. Os detentos foram trazidos curvados, com guardas forçando suas cabeças para o chão, e permaneceram acorrentados pelos pés e mãos durante o encontro.
O Serviço Prisional Israelense (IPS) não respondeu a questionamentos específicos sobre a identidade dos presos ou as condições em Rakefet, limitando-se a afirmar que “opera em conformidade com a lei”. Já o Ministério da Justiça e o Exército israelense repassaram as perguntas ao IPS, em um ciclo de responsabilidade não assumida.
A reportagem de Emma Graham-Harrison – publicada no jornal britânico The Guardian – destaca ainda que, embora um cessar-fogo em outubro de 2025 tenha resultado na libertação de milhares de detidos palestinos, pelo menos outras 1.000 pessoas permanecem sob custódia israelense em condições similares às de Rakefet. O adolescente representado pelo PCATI foi libertado em 13 de outubro, mas o enfermeiro segue detido, sem qualquer acusação formal ou perspectiva de julgamento.











