O presidente felicitou a volta de todos com segurança, denunciou a violência contra crianças e prometeu trazer os demais que quiserem ser repatriados. O que está acontecendo em Gaza é um massacre”, disse Hasan Rabee, um dos brasileiros recebidos por Lula em Brasília.
O avião presidencial trazendo os brasileiros resgatados de Gaza pousou em Brasília nesta segunda-feira (13) às 23h24.
O grupo de 32 pessoas foi recebido pelo presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, além dos ministros das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta.
Os brasileiros enviaram várias mensagens de Gaza descrevendo o horror vivido pela população civil, que está sob intenso bombardeio da ditadura israelense.
Lula felicitou os brasileiros e disse que “a chegada desse 10° avião com repatriados brasileiros e palestinos a gente deve ao trabalho excepcional de várias áreas do governo, deve a Aeronáutica brasileira, deve sobretudo ao ministro das Relações Exteriores, que fez um trabalho excepcional, sobretudo quando assumiu a presidência do Conselho de Segurança da ONU, em suma a todo o Estado brasileiro”, disse o presidente.
“Aos setenta e oito anos de idade, eu já vi muita irracionalidade, muita brutalidade, mas eu nunca vi uma violência tão bruta, tão desumana contra inocentes”, denunciou Lula.
“Se o Hamas cometeu um ato de terrorismo e fez o que que fez, o Estado de Israel também está cometendo vários atos de terrorismo ao não levar em conta que as crianças não estão em guerra, que as mulheres não estão em guerra. ao não levar em conta que eles não estão matando soldados, eles estão matando crianças”, acrescentou.
“Mais de 5 mil crianças, mais de 1,5 mil crianças desaparecidas que certamente estão no meio dos escombros. E depois a destruição de coisas que as pessoas levam décadas para construir, uma casa, uma rua, um prédio, uma escola, um hospital. Uma simples bomba detona aquilo tudo sem ninguém assumir responsabilidade”, apontou Lula.
O presidente destacou que “hoje é um dia de felicidade pela volta das 32 famílias que já viveram em paz, sabem o que é a paz e não querem viver naquele inferno desses últimos 37 dias”. “Mas nos vamos continuar brigando pela paz”, afirmou.
“Vamos pedir ao presidente Xi Jinping, que está presidindo o Conselho de Segurança, para cobrar dos países um tratamento com afeto com crianças, com mulheres, com gente que está no hospital”, prosseguiu, defendendo o direito dos palestinos construírem o seu país.
Ele falou com o brasileiro Hasan Rabee, morador de São Paulo, que estava em Gaza para um casamento da irmã quando o conflito começou. Ele fez várias denúncias da matança indiscriminada de Israel em Gaza. Lula disse que tinha falado com ele e prometido que os tiraria de lá. Hasan agradeceu ao presidente, ao Itamaraty e à Força Aérea Brasileira. Ele disse que “foram 37 dias de muito sofrimento”.
Presidente Lula recebe repatriados que estavam na Faixa de Gaza https://t.co/pDtihpQpyw
— Lula (@LulaOficial) November 14, 2023
Hasan relatou que o que está acontecendo lá “na verdade é um massacre, as bombas caem em todos os lados, minhas filhas ficaram muito angustiadas”. “Mentíamos para elas dizendo que eram fogos de festas mas não deu para segurar muito tempo”, afirmou o brasileiro resgatado. Ele pediu ao presidente para trazer a mãe e a irmã que ficaram presas em Gaza.
O grupo foi excluído de seis listas elaboradas pelo governo de Israel e pessoas que receberam autorização para deixar a região. A angústia foi muito grande porque o regime israelense deixou mais de dois milhões de palestinos sem água, sem comida, sem energia elétrica, sem remédios e sob os bombardeios. A ONU alertou no sábado que uma criança estava morrendo a cada dez minutos em Gaza.
Desde o início da agressão de Israel contra os palestinos, o governo do Brasil entrou em contato com os brasileiros que estavam em Gaza e que manifestaram vontade de sair de lá, para fugir do conflito. Os bombardeios em Gaza começaram no dia 8 de outubro. Desde então, a diplomacia brasileira iniciou a operação para trazer o grupo de volta. Primeiro, o Itamaraty organizou um deslocamento dos brasileiros do Norte para o Sul de Gaza, onde poderiam passar para a fronteira com o Egito.
Além de 22 cidadãos brasileiros (natos ou naturalizados), há 10 palestinos – três parentes de primeiro grau de brasileiros, e sete portadores do Registro Nacional de Migração (RNM) que devem receber status de refugiados. Eles estavam no Sul da Faixa de Gaza, nas cidades de Khan Younis e Rafah. A saída de Gaza começou na manhã deste domingo (12), quando o grupo se deslocou para o controle migratório palestino da região. Depois, de acordo com informações do Itamaraty, os brasileiros saíram do local e seguiram para a estação do Egito (2 km de percurso de ônibus).
No Egito eles foram recepcionados pela equipe da embaixada do Brasil no Cairo e submetidos aos trâmites migratórios de entrada naquele país. Após passar pela imigração, os brasileiros almoçaram e depois seguiram viagem para o Cairo, capital do Egito. O transporte foi feito em veículos contratados pela embaixada do Brasil no Egito e durou cerca de seis horas.
O ministro de Comunicação Social, Paulo Pimenta, informou que entre os passageiros há duas crianças, que serão levadas de ambulância direto para o hospital, pois estão com quadro de desnutrição. Antes de chegar a Brasília, aeronave, de modelo VC-2 (Embraer 190), pousou na Base Aérea de Recife, às 20h21, onde fez uma parada técnica para abastecimento e nenhum passageiro desembarcou.
O secretário nacional de Justiça, Augusto Botelho, informou que eles devem se dividir nos estados brasileiros de SP, DF, RS, SC e MT. “Foi a negociação mais difícil, mais dolorosa. Acho que quando envolve uma quantidade grande de crianças, o envolvimento emocional é muito grande”, afirmou Botelho.
De acordo com o secretário, os brasileiros vindos de Gaza vão receber cuidados médicos e psicológicos já na Base Aérea de Brasília. Nessa etapa, também serão preenchidos os documentos de migração.
O ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, explicou que os repatriados poderão receber benefícios sociais, caso se enquadrem nos requisitos de cada programa. “Aqueles que não têm familiares ficarão numa unidade de acolhimento. Ali, têm direito à habitação, têm direito à alimentação e também acesso a um dos programas, ou o Bolsa Família ou o Benefício de Prestação Continuada. E a partir daí é feita toda uma orientação para outros programas”, afirmou o ministro.
O ministro da Justiça, Flávio Dino, destacou a soberania brasileira em questões de segurança interna, enquanto a PF expressou desaprovação das declarações do embaixador Zonshine. A presidente do PT e deputada federal Gleisi Hoffmann classificou de “repugnante” um encontro entre Zonshine, Jair Bolsonaro e parlamentares bolsonaristas na Câmara dos Deputados, que serviu o propósito de difundir propaganda do regime sionista.
Nos últimos dias, houve rumores infundados espalhados pela milícia bolsonarista de que Jair Bolsonaro teria influenciado na liberação dos brasileiros. O ministro Mauro Vieira negou categoricamente essa afirmação, ressaltando que todos os esforços foram feitos pelo governo de Lula. Bolsonaro e sua manobra apenas atrapalharam as negociações.