
A agressão de Israel à Palestina “é símbolo maior dos obstáculos enfrentados pelo multilateralismo”, apontou o líder brasileiro
O presidente Lula afirmou, nesta segunda-feira, 22 de setembro, na segunda sessão da Conferência Internacional de Alto Nível para a Resolução Pacífica da Questão Palestina e a Implementação da Solução de Dois Estados, que o único caminho para a paz é a existência de dois Estados na região palestina. Convocado por França e Arábia Saudita, o encontro ocorreu em Nova York, nos Estados Unidos, e antecede a 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU).
A declaração de Lula, de cerca de 6 minutos, fez condenações das ações de Israel tanto em Gaza quanto na Cisjordânia e críticas à paralisia do Conselho de Segurança da ONU, que ele chamou de obstáculos ao multilateralismo. Lula saudou os integrantes do G7, ente eles o Reno Unido, Canadá, Austrália, França e Portugal, que definiram apoio à criação do Estado da Palestina. “Saudamos os países que reconheceram a Palestina, como o Brasil fez em 2010. Já somos a imensa maioria dos 193 membros da ONU”, afirmou Lula.
Lula lembrou que o plano de partilha do então mandato britânico da Palestina foi adotado em sessão há 78 anos presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha. “Naquela ocasião, nasceu a perspectiva de dois Estados, mas só um se materializou.” “[O veto] também vai contra sua [da ONU] vocação universal, bloqueando a admissão como membro pleno de um Estado cuja criação deriva da autoridade da própria Assembleia-Geral”, afirmou o presidente brasileiro.
“Um Estado se assenta sobre três pilares: o território, a população e o governo. Todos têm sido sistematicamente solapados no caso palestino”, disse Lula. “Como falar em território diante de uma ocupação ilegal que cresce a cada novo assentamento? Como manter uma população diante da limpeza étnica a que assistimos em tempo real? E como construir um governo sem empoderar a Autoridade Palestina?”, questionou o brasileiro.
“O conflito entre Israel e Palestina é símbolo maior dos obstáculos enfrentados pelo multilateralismo. Ele mostra como a tirania do veto sabota a própria razão de ser da ONU, de evitar que atrocidades como as que motivaram sua fundação se repitam”, afirmou Lula.“O que está acontecendo em Gaza não é só o extermínio do povo palestino, mas uma tentativa de aniquilamento de seu sonho de nação. Tanto Israel quanto a Palestina têm o direito de existir”, acrescentou o presidente.
O representante brasileiro foi enfático ao condenar os atos terroristas cometidos pelo Hamas, mas pontuou que o direito de defesa não autoriza a matança indiscriminada de civis. “Nada justifica tirar a vida ou mutilar mais de 50 mil crianças, destruir 90% dos lares palestinos e usar a fome como arma de guerra, nem alvejar pessoas famintas em busca de ajuda”, destacou Lula, apontando a ampliação dos países que reconhecem a Palestina.
“Apoiamos a criação de um órgão inspirado no Comitê Especial contra o Apartheid, que teve papel central no fim do regime de segregação racial sul-africano. Assegurar o direito de autodeterminação da Palestina é um ato de justiça e um passo essencial para restituir a força do multilateralismo e recobrar nosso sentido coletivo de humanidade”, concluiu o líder brasileiro.
Assista o discurso de Lula Conferência Internacional de Alto Nível para a Resolução Pacífica da Questão Palestina e a Implementação da Solução de Dois Estados
Leia o discurso do presidente Lula
Cumprimento o presidente Emmanuel Macron e primeiro-ministro Mohammed bin Salman por liderarem este importante processo.
A questão da Palestina surgiu no momento em que a Assembleia Geral adotou o chamado Plano de Partilha, há 78 anos.
A sessão em que ele foi aprovado foi presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha.
Naquela ocasião, nasceu a perspectiva de dois Estados. Mas só um se materializou.
O conflito entre Israel e Palestina é símbolo maior dos obstáculos enfrentados pelo multilateralismo.
Ele mostra como a tirania do veto sabota a própria razão de ser da ONU, de evitar que atrocidades como as que motivaram sua fundação se repitam.
Também vai contra sua vocação universal, bloqueando a admissão, como membro pleno, de um Estado cuja criação deriva da autoridade da própria Assembleia Geral.
Um Estado se assenta sobre três pilares: o território, a população e o governo.
Todos têm sido sistematicamente solapados no caso palestino.
Como falar em território diante de uma ocupação ilegal que cresce a cada novo assentamento?
Como manter uma população diante da limpeza étnica a que assistimos em tempo real?
E como construir um governo sem empoderar a Autoridade Palestina?
Como apontou a Comissão de Inquérito sobre os Territórios Palestinos Ocupados, não há palavra mais apropriada para descrever o que está ocorrendo em Gaza do que genocídio.
Por isso, o Brasil decidiu tornar-se parte do caso apresentado pela África do Sul à Corte Internacional de Justiça.
Os atos terroristas cometidos pelo Hamas são inaceitáveis. O Brasil foi enfático ao condená-los.
Mas o direito de defesa não autoriza a matança indiscriminada de civis.
Nada justifica tirar a vida ou mutilar mais de cinquenta mil crianças.
Nada justifica destruir 90% dos lares palestinos.
Nada justifica usar a fome como arma de guerra, nem alvejar pessoas famintas em busca de ajuda.
Meio milhão de palestinos não têm comida suficiente, mais do que a população de Miami ou Tel Aviv.
A fome não aflige apenas o corpo. Ela estilhaça a alma.
O que está acontecendo em Gaza não é só o extermínio do povo palestino, mas uma tentativa de aniquilamento de seu sonho de nação.
Tanto Israel, quanto a Palestina têm o direito de existir.
Trabalhar para efetivar o Estado palestino é corrigir uma assimetria que compromete o diálogo e obstrui a paz.
Saudamos os países que reconheceram a Palestina, como o Brasil fez em 2010. Já somos a imensa maioria dos 193 membros da ONU.
O Brasil se compromete a reforçar o controle sobre importações de assentamentos ilegais na Cisjordânia e manter suspensas as exportações de material de defesa, inclusive de uso dual, que possam ser usadas em crimes contra a humanidade e genocídio.
Diante da omissão do Conselho de Segurança, a Assembleia Geral precisa exercer sua responsabilidade.
Apoiamos a criação de um órgão inspirado no Comitê Especial contra o Apartheid, que teve papel central no fim do regime de segregação racial sul-africano.
Assegurar o direito de autodeterminação da Palestina é um ato de justiça e um passo essencial para restituir a força do multilateralismo e recobrar nosso sentido coletivo de humanidade.
Obrigado.