
“É um projeto sionista, positivo e importante, que proporciona muito emoção para muita gente”, comemorou o coronel do Exército israelense Sharon Gat, dono da Caliber 3, que há vários anos treina homens e mulheres no estilo Rambo. Crianças judias “somente” a partir dos cinco anos de idade
Fundada em 2007 pelo coronel da reserva Sharon Gat, das Forças de ‘Defesa’ de Israel (IDF) – a Caliber 3 (https://www.caliber3range.com/) se orgulha de ter entre suas predileções a oferta de pacotes “turísticos radicais” para “matar terroristas” palestinos. Algo pioneiro e bastante instrutivo nestes tempos de Trump e Netanyahu, reforçando “experiências emocionantes que não poderão ter em lugar algum, exceto no campo de batalha”.
“É um projeto sionista, positivo e importante, que proporciona muito emoção para muita gente”, comemorou o facínora Sharon Gat, perfilado com a política de terrorismo de Estado que despeja bombas sobre edifícios, escolas e hospitais da Faixa de Gaza. No treinamento, fanáticos exibindo ridículas e espalhafatosas indumentárias de Rambo com óculos escuros, rifle pendurado no ombro, pistola no cinto e histéricas gritarias de “fogo”.
“Queremos que os judeus do mundo inteiro possam ver com seus próprios olhos que no Estado de Israel há organizações e pessoas que sabem ensinar ‘autodefesa’ no mais alto nível”, declarou o militar da reserva, perfilando um suposto sentido nobre e empreendedor da sua missão.
No site da empresa, uma sequência de fotografias de bombas explodindo, veículos em chamas, combates corpo a corpo e cachorros atacando sem dó nem piedade o “agressor”, que necessita em nome dos “valores morais” ser aniquilado para que Israel sobreviva.
As imagens de homens com turbantes árabes aumentam a adrenalina e a necessidade da “identificação do inimigo” – que porta um lenço na cabeça estilo palestino – contraposto à bandeira de fundo branco com duas faixas azuis horizontais e uma estrela de Davi azul no centro, ostentado de forma heroica ao fundo no estande de tiro.
“Também queremos que os judeus do mundo vejam que aqui existe orgulho judaico, que temos hoje um Estado, um Exército e as melhores instalações de treinamento”, acrescentou o coronel-empresário, como se o mundo desconhecesse as barbáries praticadas diariamente pelas bombas nazisraelenses na Faixa de Gaza e, agora, também na Cisjordânia. Como se os conglomerados de mídia e suas fake news pudessem transformar as vítimas em agressoras num passe de mágica e o genocídio de mais de 50 mil palestinos, 70% deles mulheres e crianças, fosse uma invenção das Nações Unidas, das organizações de direitos humanos ou do Vaticano.
PARCERIA COM MILITARES DA ATIVA
Para impulsionar a parceria com o Estado judaico, “a principal academia para treinamento de contraterrorismo, segurança e defesa” (sic!) se encontra atualmente sob a supervisão de militares da ativa, atendendo além das IDF, estruturas governamentais como os gabinetes do Primeiro-Ministro e de Segurança, a Polícia, o Ministério das Relações Exteriores, a cidade de Jerusalém e clientes comerciais como o Banco de Israel.
Já em 2012 uma matéria da BBC News alertava para a provocação que representava a presença de um campo da Caliber 3 com 10 mil metros quadrados em pleno território palestino da Cisjordânia, onde os turistas israelenses faziam mira em figuras com tamanho real portando turbantes árabes.
Os sionistas adultos disparavam com armas e munição de verdade nos alvos de papelão, descrevia o artigo, reforçando o estereótipo do árabe como “terrorista”. Já naquela oportunidade haviam passado pelo curso mais de cinco mil turistas, centenas deles crianças que, evidentemente, pagavam meia.
O prefeito do assentamento de Gush Etzion – que fica ao sul de Jerusalém -, disse que o atrativo representava “um incentivo a mais” para o turismo na região, que explora um museu e ruínas antigas. O assentamento foi construído em terras do distrito palestino de Belém e recebia então cerca de 400 mil turistas por ano.
“Adorei! Uma experiência realmente incrível e única. Também nos ajudou a entender melhor o que Israel enfrenta todos os dias para se proteger”, escreveu um senhor identificado como NicoB411, visitante dos Estados Unidos, que deixou estampada sua ignorância na abertura do site da Caliber 3.
Hoje por duas horas de “treinamento” são cobrados US$ 176 por adulto, mas as informações apontam que, diante do banho de sangue promovido por Netanyahu em Gaza, a maioria das operadoras de turismo precisou cancelar suas viagens para Israel.
LEONARDO WEXELL SEVERO