Em flagrante intervenção nos assuntos internos do Brasil, a embaixada de Israel apoiou a fuga do soldado Yuval Vagdani, sob investigação da Polícia Federal por determinação da Justica brasileira
Com apoio direto da embaixada de Israel no Brasil, logrou fugir da Justiça brasileira o soldado Yuval Vagdani, que participou do genocídio israelense contra o povo palestino na Faixa de Gaza e é acusado de participar, pelo menos, da destruição de um quarteirão inteiro de casas civis e, depois disso, divulgar imagens suas celebrando a execução de seus crimes.
De férias de sua ação criminosa, Vagdani estava a turismo na Bahia, veraneando na ilha Morro de São Paulo, quando teve sua presença no Brasil detectada.
A informação foi recebida pela advogada Maira Pinheiro, que representa a Fundação Hindi Rajab, com sede em Bruxelas e que se especializa na localização de criminosos de guerra partícipes do genocídio na Faixa de Gaza. A fundação fez chegar a Dra. Maira um dossiê com declarações e imagens de internet, através das quais o soldado se auto-incrimina.
AÇÃO JUDICIAL
Coube à juíza Raquel Soares Charelli, da Seção Judiciária do Distrito Federal, analisar o dossiê e, com base nas evidências, emitir solicitação de investigação do suspeito à Polícia Federal.
A decisão judicial baseia-se no artigo 88 do Código de Processo Penal Brasileiro, que permite a aplicação da jurisdição universal para crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio, conforme previsto no Estatuto de Roma, do qual o Brasil é signatário.
INTERVENÇÃO ASSUMIDA
Foi quando, numa afronta aberta à soberania do Brasil, o Ministério das Relações Exteriores de Israel entrou em ação para proteger o investigado e auxiliar na sua fuga da Justiça do país.
Em sua arrogância, o Ministério do Exterior de Israel informou da intervenção direta do ministro Gideon Saar, do regime genocida de Netanyahu.
“O Departamento de Assuntos Consulares do Ministério das Relações Exteriores e a Embaixada de Israel no Brasil contataram o cidadão israelense e sua família, fornecendo apoio durante todo o incidente até sua partida rápida segura do Brasil”, disse a declaração, conforme o Jerusalem Post.
A acusação contra Vagdani especifica que ele participou da demolição de um quarteirão residencial em Gaza, no final de 2024, utilizando explosivos fora de situações de combate. As residências serviam de abrigo para palestinos deslocados internamente após o início da agressão genocida em 7 de outubro de 2023.
A investigação se concentra no período em que Vagdani atuou no batalhão Givati, uma unidade das forças genocidas de Israel que geraram a expulsão forçada de civis e profundas consequências humanitárias.
Em imagens e vídeos publicados em suas próprias redes sociais, Vagdani aparece no corredor Netzarim, faixa de terra usada por Israel para dividir as populações da Faixa de Gaza e como base de ações. Na legenda, Vagdani afirma: “Que possamos continuar destruindo e esmagando este lugar imundo, sem pausa, até os seus alicerces.”
Em outro vídeo, publicado no perfil de outros soldados, Vagdani posa em frente aos escombros de imóveis palestinos enquanto explosivos eram instalados para demoli-los. Conforme explica a HRF, as imagens tratam da demolição do bairro residencial fora da situação de combate.
FEPAL DENUNCIA E PEDE PROVIDÊNCIAS
“Houve uma ofensa severa à soberania do Estado brasileiro por um Estado investigado por genocídio, crimes de guerra, crime de apartheid e colonialismo”, afirma Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal).
Para Ualid, “seguramente quem trabalhou nisso, foi a embaixada e todo o seu corpo diplomático no Brasil. Portanto, o Brasil deve, no mínimo, chamar para consultas o embaixador israelense, censurá-lo e, eventualmente, investigar a totalidade da participação neste crime contra a soberania brasileira”.
Numa escancarada distorção dos fatos, o deputado israelense Dan Illouz, do partido de Netanyahu, o Likud, ameaçou o Brasil por se posicionar em defesa do direito internacional e contra os crimes de guerra de Israel: “O Brasil se tornou um Estado patrocinador de terroristas”, afirmou, quando o que a nossa Justiça fez foi justamente pedir a investigação de um terrorista. Depois disso o deputado ameaçou: “Israel não ficará de braços cruzados diante da perseguição de seus soldados, o Brasil pagará o preço se não mudar sua conduta”.
Francesca Albanese, que se dedica, em sua atividade na ONU, a denunciar os crimes de violação dos direitos por Israel em Gaza, comentou que “no Brasil e em qualquer lugar as ações legais contra israelenses suspeitos de crimes em Gaza são justas e necessárias ”.
A FUGA
Sobre a fuga, o pai de Yuval disse em entrevista ao Canal 12 (de TV israelense) que um amigo que estava viajando com seu filho recebeu uma mensagem de um escritório diplomático israelense informando que um mandado de prisão havia sido emitido contra ele.
De acordo com citação do Jerusalém Post, a família do suspeito observou que o soldado não havia sido detido e que estava recebendo ajuda de “pessoas relevantes”.
“Pedi que eles fugissem imediatamente e não ficassem nem mais um momento”, disse o pai, acrescentando que recebeu uma mensagem do filho às 5 da manhã deste domingo, dia 5, dizendo que eles haviam cruzado a fronteira, para a Argentina, mas que não tinham sinal de celular desde então, relata o Times of Israel.
O presidente da Fepal ainda acredita que o governo brasileiro deveria estudar a possibilidade de investigar todos os israelenses que visitem o Brasil, por participação em crimes de guerra, de lesa-humanidade e de genocídio na Palestina, uma vez que é sabido que a esmagadora maioria das israelenses presta serviço militar e segue participando do exército e seus crimes mesmo na qualidade de reservistas, como é o caso do soldado Yuval.
Ualid Rabah afirma que é fundamental que o Brasil investigue, a ação do regime israelense de desestabilizar a política nacional, diante de ameaças como a do deputado do partido de Netanyahu, Dan Illouz.
“Acho, também, que o Brasil deveria, imediatamente, emitir uma ordem de captura do soldado foragido da Justiça, à Interpol”, concluiu o presidente da Fepal.