O vídeo, filmado pelo próprio soldado israelense, ao festejar seu tiro mortal atingindo a cabeça de um garoto palestino, condensa a bestialidade que possibilitou a matança que tirou a vida de dezenas de manifestantes palestinos, deixando muitos mutilados, incluindo crianças.
“Eu não estou conseguindo ver direito por causa do arame que está dificultando”, diz o soldado, enquanto acompanha pela mira telescópica de sua arma o jovem palestino que está próximo à cerca que separa a bloqueada Faixa de Gaza do Estado de apartheid de Israel. O clima entre os soldados da tropa, cúmplice e partícipe do crime, é de festa.
Após o disparo, que derrubou o palestino, um dos soldados, exultante, elogia o assassinato: “Que tiro certeiro!”. Logo pergunta se o atirador conseguiu filmar. Ao que este responde em tom de comemoração: “Uau! Claro que eu filmei! Filhos da p***! Filmei mesmo!”
O vídeo, cujo link acompanha esta matéria, passou a circular nas redes sociais e sites de notícias desde o dia 10 de abril. O filme, que linkamos, divulgado pelo site do jornal inglês Independent, traz legendas em inglês da abjeta conversa entre o atirador e seu colega de crime.
Quando divulgado, o número de mortos já chegava a 30, como reação “em legítima defesa” das forças de ocupação israelense.
Agora, após 45 dias da Grande Marcha do Retorno que foi concluída no dia 15 de maio, dia da Nakba (Catástrofe), implantação de Israel na Palestina, com a expulsão pelo terror de 750 mil palestinos, muitos e seus descendentes, hoje sobrevivendo na Faixa de Gaza, o número de mortos no massacre chega a 112 e o de feridos ultrapassa os 13.000, enquanto isso, há 13 quilômetros dali, as borbulhas subiam nas taças de champanhe da embaixada dos Estados Unidos, transferida a Jersualém, num prêmio aos criminosos da ocupação, que como disse a embaixadora dos EUA na ONU, Nick Haley, “merecem elogios pela sua contenção”.
O regime de apartheid de Israel, já inaceitável, mantida sua estrutura com base em concepções e legislação supremacista racista, perde toda a condição moral após a chacina, que como escreve Ian Lustick, do portal The Nation, “o massacre de civis palestinos deveria deflagrar horror e ação”.
Um regime que tem, hoje, como ministro da Defesa, Avigdor Lieberman, que em 2009, em pleno massacre também na Faixa de Gaza, denominado por Israel de “Operação Chumbo Derretido”, declarou que os israelenses deveriam fazer com os palestinos em Gaza, “o mesmo que os Estados Unidos fizeram com os japoneses na Segunda Guerra Mundial”, ou seja, jogar bomba atômica. Agora Lieberman elogia os assassinos que, segundo ele, “cumpriram com sua obrigação”.
Enfim, esta celebração da morte, que demonstra um rebaixamento e uma renúncia destes soldados a sua própria condição humana, nos remete a um dos momentos mais terríveis (e ao mesmo tempo mais dignos) da agressão franquista à República da Espanha, quando o general Astray, em pleno salão de festas da Universidade de Salamanca, fez a saudação falangista: “Viva a Morte!” e prosseguiu, “Abaixo a Inteligência!”, logo contestado pelo reitor Miguel De Unamuno. O reitor, após sofrer as consequências de seu gesto, que acabaram lhe valendo a prisão, declarou: “Há momentos em que silenciar é mentir”.
Estamos diante de um destes momentos.
Segue o link mencionado nesta matéria:
NATHANIEL BRAIA
As pessoas da classe média e alta que ocupavam a região onde hoje é Israel foram exiladas, perderam as suas terras, são mais de cinco milhões exilados em diversos países , dúvida: são as mesmas que estão morrendo nos protestos?
Não entendemos, leitor. Que “pessoas da classe média e alta”? O campesinato palestino? Pois foi ele, sobretudo, que perdeu suas terras.
Cacete enorme – cinco milhões de exilados porque perderam as suas terras, quem deve pagar por isso diante das leis internacionais? O estado Palestino ou Israel ? O que eles querem ? o dinheiro da desapropriação ou retornar a ocupação?
Por que o Estado palestino, isto é, a nação palestina, em suma, os palestinos, deveriam pagar por ser oprimidos? O que eles querem é retornar à sua pátria, pois, como você diz, estão exilados. Mas até que a ideia de uma reparação, como a que os israelenses receberam da Alemanha, não é má.