
“Até os israelenses que se opõem à guerra, têm receio de admitir que os de Gaza são seres humanos”, condena a articulista árabe-israelense Hanin Majadli, em coluna publicada no jornal Haaretz. Sua matéria e a de uma colega, Sheren Faah Saab, que também publicamos aqui, integram, uma à outra, e juntas demonstram que há uma luta em curso, no interior de Israel, contra a destruidora alienação dos israelenses ainda, em sua maioria, cegos diante do mais brutal extermínio e coniventes com ele
N.B.
“Israel cometeu recentemente um dos maiores massacres de crianças em sua história. Duzentas crianças e 100 mulheres foram mortas em um dia”, denuncia, logo no início de sua matéria publicada no dia 21 de março, a jornalista Hanin Majadli.
Mesmo a “maior parte do público israelense que se opõe à guerra, acha que ela coloca em risco as vidas dos reféns ou declara que o confronto começou por interesses políticos” de Netanyahu e seu grupo e só, observa Majadli.
“Retomar a guerra, de fato põe em risco os reféns mas, principalmente, vai matar massas de homens, mulheres e crianças palestinas. Em que ponto irão os israelenses anti-guerra dizer em voz alta o que deve ser dito?”
Os israelenses em geral estão sendo vistos como assassinos de crianças, destaca. “É possível mergulhar em maior baixeza moral?”, questiona a jornalista.
Ela observa que a mídia predominante em Israel minimiza ou mente sobre esse massacre. “Agora mesmo”, diz ela, a principal TV, Canal 12, tratou os 400 mortos em um só golpe como ‘operativos’ [do Hamas]”.
O que ela lamenta é que continua sendo difícil distinguir aquilo que a mídia propala do que a maior parte do público pensa, mesmo entre os que se dizem em oposição a Netanyahu.
No seu artigo, ela reforça então que essa identidade entre mídia e público ocorre “porque mesmo aqueles que se opõem à guerra têm medo de dizer que os de Gaza são também humanos. Porque é impossível separar o piloto da bomba. Dizem a ele para apertar o botão e ele o aperta”.
“A verdade é que a maioria do povo não apenas tolera este massacre em massa, mas o demanda, de forma explícita ou tácita”.
No dia a dia, uma das expressões mais usadas entre os israelenses, quando questionados sobre o genocídio de palestinos, é “Não há alternativa”.
Torna-se fácil para a imprensa israelense manipular os que a acessam, diz ainda Hanin Majadli, porque as concepções predominantes entre os israelenses “são fruto de uma doutrinação que começa no jardim de infância e continua até a morte. Uma doutrinação que prega ser necessária a destruição [da vida palestina] para garantir a existência do sionismo”.
Em uma segunda matéria, que comprova a verdade das observações de Majadli, também publicada no Haaretz, em meio ao massacre a bombas em Gaza, a jornalista Sheren Faah Saab, conta a história da pintora de Gaza, Zainab Al Qolaq, que perdeu toda a família quando uma bomba destruiu sua casa.

Traduzimos e republicamos, a seguir, a dramática história:
“Eu relatei aos israelenses a tragédia de uma mulher de Gaza. A audiência se mostrou chocada”
“Eu trouxe o sofrimento de Gaza para Tel Aviv. Eu li em voz alta as palavras de Zainab al-Qolaq. Eu queria que os israelenses soubessem mais sobre a vida dos palestinos do outro lado da cerca
SHEREN FAAH SAAB
Era uma noite relativamente tranquila no início de maio de 2023. Eu havia sido convidada para falar sobre o futuro através do espelho da arte em um evento cultural em Tel Aviv. Eu pensei muito antes de preparar a palestra, e intuitivamente decidi falar sobre o futuro em conflitos ocorridos em zonas de guerra, especialmente na Faixa de Gaza.
Eu contei a história da artista plástica Zainab al-Qolaq. Sua vida mudou completamente na noite de 16 de maio de 2021. Naquela noite, Israel bombardeou o centro de Gaza durante a operação denominada “Guardiães do Muro”, e 22 membros da família dela foram mortos, incluindo seu irmão, suas irmãs e sua mãe. A própria Al-Qolaq ficou presa sob os escombros por 12 horas, sem saber o que havia acontecido a eles. Desde então ela tem ficado em silêncio e durante um ano pintou a perda que sofreu.
Eu vi que os israelenses têm medo de perceber que seres humanos vivem em Gaza, mulheres como Zainab Al-Qolaq.
Al-Qolaq, que está com 24 anos, estudava inglês e literatura na Universidade Islâmica em Gaza. A pressão dos seus estudos naquelas condições a levou a buscar caminhos para se expressar. “Foi assim que me encontrei pintando”, ela disse em uma entrevista ao canal palestino de TV, Al-Quds. “Não há futuro para a arte em Gaza, mas mesmo assim, eu pintei de uma forma que surpreendeu a mim mesma. Devagar, minha arte se desenvolveu”.
Seus quadros mostram membros de sua família com faces incompletas, em cores sombrias, algumas vezes em suas tumbas, além de outras imagens que lembram suas mortes.

Naquela noite eu mostrei suas pinturas à audiência. Efetivamente, eu trouxe o sofrimento de Gaza para dentro de Tel Aviv. Eu li suas palavras em voz alta. Eu queria que israelenses que nunca haviam conhecido Gaza soubessem das vidas dos palestinos no outro lado da cerca – sobre o sofrimento de Al-Qolaq -, que se vivesse em qualquer outro canto já teria florescido como artista.
“Vocês querem que eu conte o que acontece quando um prédio inteiro colapsa com pessoas dentro dele?”, escreveu ela em sua conta na plataforma X.
“Como é possível contar a vocês sobre as horas debaixo dos escombros, enquanto eu gritava e implorava por ajuda? Ou contar a vocês sobre os momentos antes da explosão, quando minha família correu para debaixo da escada e todo o prédio estremecia?”.
Desde muito antes da guerra atual em Gaza, os israelenses têm vivido em alienação como uma estratégia.
“Eu deveria contar a vocês sobre a aguda transição entre o sentimento de se sentir segura com minha família e depois viver a luta pela vida e o encontro com a morte? Vocês já pensaram, por um momento, sobre se colocar em meu lugar e imaginar como é sobreviver e descobrir que perdi minha família inteira? Eu não consigo me lembrar daquele tempo que eu passei sob os escombros, pois a grande tragédia veio depois de ter sido resgatada, descobrir o que havia perdido”.
Eu me lembro que li as palavras de Al-Qolaq em voz alta e que eu tremia. Eu segurei a respiração para evitar de chorar. Escrever a leitores não é a mesma coisa do que falar alto. Este último caso demanda um diferente tipo de esforço. E quando as palavras foram ditas e ecoam no espaço, têm um outro significado.
Isso foi exatamente o que aconteceu quando eu terminei de falar. Eu olhei para a audiência, para suas faces surpresas, para o choque que sentiram naquele momento. E o que eu vi em seus olhos foi o medo da verdade.
Foi naquele momento, quando eu percebi que os israelenses têm medo de ver que há seres humanos em Gaza, mulheres jovens como Zainab Al-Qolaq – que ela é muito talentosa, que ela tinha sonhos e que eles foram arrancados pela raiz. A guerra destruiu sua vida. Essa é a verdade difícil e amarga. Mas eu vi com meus próprios olhos o quão difícil era para a audiência, naquele evento, digerir sua trágica história.
Eu dirigi de Tel Aviv até minha aldeia e chorei por todo o caminho. Porque pela primeira vez eu tive a experiência pessoal de quão profunda é a alienação sobre os residentes da Faixa de Gaza. Eles trataram minhas observações como se eu fosse uma visitante de outro planeta e Gaza como se estivesse em Marte.
Eles não entendem realmente (ou querem entender) o significado de ser uma pessoa de Gaza, vivendo sob cerco, sofrendo por cada guerra, com uma possibilidade tão alta de perder a família.
A guerra atual apenas agudizou o que eu já sabia sobre os israelenses e sua falta de vontade de reconhecer a existência e a experiência de vida dos palestinos, especialmente se eles forem de Gaza.
Desde que a guerra começou, eu tenho cobrido a situação humanitária em Gaza. Há momentos eu que eu leio a lista dos mortos e me sinto rasgada por dentro. Eu choro quando estou só. Famílias inteiras foram apagadas – mães, crianças, avôs e avós. Meu coração está retorcido.
Como se pode contar tudo isso a uma audiência israelense que está imersa em si mesma? Alguém que não tem a real intenção de saber o que está acontecendo do outro lado da cerca? Como quebrar o muro da negação israelense? Toda vez que eu paro e me pergunto sobre estas questões, sigo sem encontrar uma única resposta correta.
Às vezes eu hesito em assistir aos noticiários (em qualquer canal, sem exceção), porque isso aprofunda meu desespero como jornalista. Gaza não existe de verdade nas percepções predominantes, não nas notícias, não nas conversações diárias, não nos eventos culturais e não nas mesas de trabalho dos que tomam as decisões. Esta é uma das mais duras e cruéis formas de desumanização.
Quantos israelenses conhecem a história de Zainab al-Qolaq? Ou as histórias dos palestinos que perderam suas famílias na guerra atual? Quantos israelenses querem admitir que esta Guerra perdeu sua justificativa e está apenas aprofundando o medo da morte que sobrevoa os de Gaza?
VIDAS, DESEJOS E AMBIÇÕES
Reconhecer que os de Gaza existem em carne e sangue e enxergá-los como seres humanos, que têm vidas, desejos e ambições são coisas que nem entram na cabeça do israelense médio. Atravessar as postagens nas plataformas X ou Tik Tok é tudo o que se faz necessário para descobrir as várias formas de desumanização, seja com eles ridicularizando e menosprezando os de Gaza, ou soldados se fotografando com roupas de baixo de mulheres depois de invadirem casas em Gaza, ou as mais diversas formas de negativa da real dimensão da destruição e das tragédias que ocorrem em Gaza devido a esta prolongada campanha de bombardeio.
“Não há inocentes em Gaza”. Esta sentença tem se tornado parte do consenso israelense, é ouvida em toda conversação, com o intuito de limpar a consciência israelense. Esta é uma das maiores falhas morais, o fato de que israelenses percebem a realidade de Gaza através do filtro fornecido por outros israelenses, normalmente sob o prisma da segurança.
Apenas alguns quilômetros separam Tel Aviv de Gaza, mas meus esforços desesperados para dar aos de Gaza uma voz – uma e outra vez, tanto antes como depois do 7 de outubro de 2023 – deram de encontro com ombros frios. Sabemos que a habilidade de sentir compaixão e empatia pelos que sofrem é um valor vital, um valor que é único na experiência humana.
A atual Guerra é a continuação de um fracasso moral e meu receio mais profundo é que os israelenses sigam ladeira abaixo em um caminho sem volta e que percam permanentemente a habilidade de sentir compaixão pelos palestinos, especialmente os que vivem na Faixa de Gaza.
Os artigos causam enorme INDIGNAÇÃO e horror em quem AINDA é HUMANO. Entretanto ele é compreensível quando entendemos o pensamento do judeu SIONISTA, conhecido como israelense, que não considera em hipótese alguma o povo árabe palestino como SERES HUMANOS e sim como ANIMAIS PEÇONHENTOS E PERIGOSOS, com cabeça, tronco e membros parecidos com gente humana. Os judeus sionistas israelenses desumanizaram os gentios palestinos, embora sejam também semitas como eles. Por isso essa campanha militar de EXTERMÍNIO GENOCIDA, como se estivessem eliminando uma PRAGA perigosa a ser totalmente extinta, a extinção de todo um povo. Por esse ponto de vista, ele não enxergam mais diferença alguma entre civis, idosos, mulheres e crianças. TODOS PARA ELES SIONISTAS são apenas animais terroristas. Eu tenho coragem de postar esta análise, que muitos repórteres não tem, afinal esta é a REALIDADE DOS FATOS, QUE A IMPRENSA INTERNACIONAL OCIDENTAL PROCURA ESCONDER DOS LEITORES.
DEMOCRACIA? Ora a democracia de israel é apenas válida entre eles, judeus sionistas. Não vale para gentios, sejam eles árabes ou ocidentais. Palestinos e árabes em geral não tem direito algum a democracia, e gentios ocidentais, somente aqueles que SERVEM COM TOTAL SUBMISSÃO AO SIONISMO.