A condenação às manobras de Bibi Netanyahu para fugir da Justiça israelense, reuniu 80 mil israelenses (segundo os organizadores) no centro de Tel Aviv, no sábado à noite.
Bibi quer forjar uma lei de imunidade que, se aprovada no Knesset (parlamento israelense), lhe servirá, de forma praticamente exclusiva, para fugir de 4 processos por corrupção (implicando o premiê em fraude, suborno e quebra de confiança).
Dos quatro, três já receberam apoio da Procuradoria-Geral, dependendo de mais uma única audiência, onde o primeiro-ministro israelense será ouvido, para o posterior envio dos processos ao Tribunal Superior israelense.
O ato, um dos de maior unidade já realizados em Israel, foi convocado conjuntamente pela coligação Azul e Branco (que disputou voto a voto a preferência do eleitorado israelense em oposição à coligação encabeçada pelo partido Likud, de Netanyahu, nas recentes eleições); o Partido Trabalhista, o Meretz (Energia, cisão à esquerda dos trabalhistas) e a lista conjunta dos comunistas e árabes (Hadash-Taal).
Benny Gantz, líder da coligação Azul e Branco e principal candidato de oposição a Bibi, acusou o premiê de enganar seus eleitores na busca de interesses pessoais acima dos de Israel.
O segundo candidato na lista apresentada pela coligação Azul e Branco ao parlamento, Yair Lapid, instou todos os deputados do Knesset, aos quais ainda lhes reste algum princípio, a votarem com a oposição contra uma legislação que ameaça, segundo ele, destruir a democracia israelense e transformar o país “em um sultanato”.
Em seu pronunciamento, Gantz declarou que Netanyahu “está tentando escravizar toda a nação a seus interesses pessoais”.
“Benjamin Netanyahu”, convocou Gantz, “durante a campanha eleitoral, você falou em segurança do Estado de Israel; hoje você está principalmente focado em sua própria segurança e liberdades pessoais. Você enganou seus eleitores”.
Gantz acrescentou que seu partido não vai permitir que Israel se torne “uma propriedade privada de uma família ou um sultanato”.
Antes do ato, em entrevista televisada, no Canal 12, Gantz já havia usado a terminologia, dizendo que Bibi “se candidatou a premiê, não a sultão”.
“Ele se comporta como um sultão e quer fazer de seus correligionários e aliados ovelhas arrebanhadas ladeira abaixo, na direção errada”, disse ainda Gantz.
Atendendo ao recado de Gantz, a multidão se reuniu às 20:30 h do mesmo sábado diante do Museu Tel Aviv, sob um banner gigante com os dizeres “Muralha em Defesa da Democracia” e trazendo faixas afirmando: “Vamos barrar a Lei da Imunidade”.
Também se dirigiram aos milhares de israelenses presentes, Avi Gabbay, líder dos trabalhistas; Tamar Zandberg, deputada pelo partido Meretz e Ayman Odeh, líder da bancada que reúne comunistas e árabes, Hadash-Ta’al.
O deputado Lapid foi intensamente aplaudido ao desafiar: “O que ele pensa? Que ficaremos em silêncio? Que ele vai destruir a Corte Suprema e ficaremos calados? Que ele vai pagar milhões (em emendas favoráveis aos partidos religiosos), a Litzman e Smotrich, tirando do nosso dinheiro, em troca de sua imunidade? Acha que aceitaremos esta e outras formas de extorsão em troca de sua imunidade?”.
O protesto massivo acontece quando estão sendo intensamente comentados nos meios políticos de Israel as manobras de Netanyahu de trocar cargos e emendas em troca da aprovação de uma lei que daria imunidade ao primeiro-ministro durante o exercício do cargo, isto é, que ele ficaria livre de um veredicto bastante previsível e que o colocaria na cadeia após a apreciação dos processos na Corte (já em fase adiantada, após longa investigação pela polícia e apreciação pela Procuradoria Geral). A lei que Bibi quer passar também limitaria à Corte Suprema a capacidade de proteger etnias e grupos sociais contra leis e medidas arbitrárias.
Numa referência à história bíblica na qual se pede a Deus que não destrua Sodoma se nela se encontrarem 10 justos, Lapid proclamou: “Estamos buscando 5 pessoas decentes”, referindo-se à luta para barrar a maioria que Netanyahu quer configurar para governar e passar a lei de sua imunidade, contando, para isso, com 65 a 55 no Knesset de 120 membros.
NATHANIEL BRAIA