A juíza italiana Alessandra Vella, de Agrigento, região da Sicília, colocou em liberdade a alemã Carola Rackete, capitã do navio humanitário Sea-Watch 3 que desembarcou no porto de Lampedusa, no sábado (29), 40 imigrantes resgatados no Mediterrâneo. Depois de passar três dias em prisão domiciliar, em casa emprestada por conhecidos, a capitã foi libertada na terça-feira (2) à noite. O desembarque sem permissão foi o pretexto para sua prisão.
O vice-premiê e ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, inconformado, disse que “para a comandante criminosa está pronto o procedimento para expulsá-la para seu país porque é perigosa para a segurança nacional”.
E qual foi o perigo a que se refere Salvini? O navio de bandeira holandesa Sea Watch 3, da ONG humanitária do mesmo nome, que Carola conduzia, ficou 17 dias em águas internacionais esperando a autorização do governo italiano para atracar com 42 imigrantes a bordo, resgatados na costa da Líbia. Só dois tinham sido admitidos, por razões médicas. Quando a situação já era de extrema calamidade no navio, a capitã forçou a entrada ao porto de Lampedusa, na madrugada de sábado, 29.
Ao entrar, o Sea Watch 3 raspou numa lancha armada que bloqueava o porto, o que foi usado como pretexto para que Rackete fosse acusada de “violência contra nave de guerra”, uma questão grave, e de navegar em zonas proibidas. Mas a juíza Vella descartou a acusação e determinou que os atos da capitã se justificam pelo “seu dever de salvar vidas humanas”. A decisão até detalha que Lampedusa era o único porto seguro para deixar os passageiros, ao contrário da Tunísia ou Líbia, e frisou que não aceitava a acusação de que o impacto contra a lancha militar tivesse sido intencional.
A ONG Sea Watch confirmou na quarta-feira (3) que a capitã está em lugar seguro e não divulgado devido as ameaças recebidas na Itália. Por razões de segurança, o porta-voz da organização, Ruben Neugebauer, não indicou quando a jovem deixará o país.
Em comunicado, a capitã comemorou a decisão. Segundo ela, a decisão da juíza é “uma grande vitória da solidariedade para com os migrantes e contra a criminalização daqueles que querem ajudá-los”.
Licenciada em Ciências Náuticas pela Universidade de Ciências Aplicadas de Jade, na Baixa Saxônia (Alemanha), Carola Rackete, de 31 anos, tem mestrado em Conservação do Meio Ambiente pela Universidade de Edge Hill, na Inglaterra, segundo a agência EFE. Tem certificado de primeiro oficial entregue pelo Escritório Federal de Navegação e Hidrografia da Alemanha.
Colabora com a ONG alemã Sea Watch International desde 2016, o que a levou ao Mediterrâneo, por onde milhares de imigrantes, vítimas de terríveis condições de vida, tentam chegar à Europa.