Com festa, os italianos comemoraram nas praças e ruas neste 25 de abril, quinta-feira, os 74 anos do “Dia da Liberdade”, quando as forças democráticas derrotaram o nazifascismo na Itália. As cerimônias começaram cedo com autoridades e populares colocando flores no Altar da Pátria, em Roma, e no Túmulo ao Soldado Desconhecido. Ao longo do dia, forças antifascistas, ex-combatentes da Resistência (partigiani) e partidos políticos realizaram atos e passeatas condenando o sangrento período de trevas, governado por “ordens sem sentido e cruéis”.
Uma das maiores manifestações aconteceu na praça principal de Milão, cidade de onde, já com os ocupantes alemães batidos pelos aliados e pela Resistência, partiu, no dia 25 de abril de 1945, a palavra de ordem, lançada pelo Comitê de Libertação Nacional com sede central na cidade, de tomada do poder em todas as cidades italianas e libertação de todos os prisioneiros,
Este dia foi instituído como o “Dia da Liberdade”. Três dias depois Mussolini, que – após a rendição italiana aos aliados ao final de 1943 – estivera à frente de um governo fantoche das regiões ocupadas pelos alemães, foi pego durante tentativa de fuga, pelos partigiani e fuzilado. Seu corpo foi exposto em praça pública sob vaias de repúdio de uma multidão.
“Celebrar o dia 25 de abril significa celebrar o retorno da Itália à liberdade e à democracia, depois de 20 anos de ditadura, privação das liberdades fundamentais, opressão e perseguição”, afirmou, sob aplausos, o presidente Sergio Mattarella, durante discurso na Praça de Popolo, na cidade de Vitório Veneto, no norte do país.
O presidente italiano disse que a data faz menção ao “fim de uma guerra injusta, tragicamente travada ao lado de Hitler, numa guerra desencadeada para afirmar a tirania, vontade de dominar, superioridade racial e extermínio”.
É importante destacar, frisou Mattarella, que “muitos italianos, mulheres e homens, jovens e idosos, militares e estudantes, de várias origens sociais, culturais, religiosas e políticas, desenvolveram a consciência de que a redenção nacional passaria por uma firme e feroz revolta, acima de tudo moral, contra o nazifascismo”. E assim foi feito.
Em homenagem às 355 vítimas do Massacre das Fossas Ardeatinas em Roma, realizado em 24 de março de 1944, quando foram assassinados 10 civis para cada nazista morto em um atentado da Resistência italiana, o primeiro-ministro Giuseppe Conte, destacou que “embora este seja um lugar de dor, hoje é um dia de festa pela Vitória”.
Para a prefeita de Roma, Virginia Raggi, a massiva mobilização popular é uma conclamação a que devemos estar permanentemente alertas para “nos opor a qualquer tentativa de apagar nossa história e todas as formas de violência e discriminação”. “Celebramos a libertação da Itália do nazifascismo. Nossa democracia é baseada na liberdade, direitos e antifascismo, nunca devemos esquecê-la”, enfatizou.
O Brasil na luta contra o nazifascismo na Itália
A Força Expedicionária Brasileira (FEB) representou o povo brasileiro em um dos mais dignos momentos das nossas Forças Armada. O Brasil foi o único país da América do Sul a participar com força milita da luta contra o nazifascismo.
Ao vencer nos campos de batalha as tropas alemãs que restaram na Itália para defender o regime nazifascista, os pracinhas brasileiros avançaram através das cidades libertadas, entre elas Castelnuovo, Camaiore, Fornovo di Taro e Montese.
Sobre esta batalha que antecedeu a vitória e a rendição alemã aos brasileiros em solo italiano, reproduzimos trechos principais da matéria do jornalista Paulo Ramos Derengoski denominada “A ordem de batalha em Montese”, publicada no Hora do Povo em 4 de abril de 2018.
Derengoski descreveu como, há 74 anos, “em abril de 1945, a 10ª Divisão de Montanha Americana e um Corpo do Exército Francês ainda estavam bloqueados nos Apeninos italianos, na guerra contra o nazismo”, quando “seguindo ordens do Estado Maior Aliado, a Força Expedicionária Brasileira por determinação do 11º Regimento de Infantaria (coronel Jurandir Mamede), no dia 12 de abril, destacou três pelotões Especiais (de choque) para fazer reconhecimento inimigo na Cota fortificada (747 metros) ”.
Prossegue o jornalista: “O Primeiro Pelotão era comandado pelo Sargento (Paraná-Catarina de Rio Negro), Max Wolf, um líder nato e ídolo dos pracinhas. Entre outros poucos, ele destacou os catarinenses, Sergílio de Souza, Armindo Cetto, Raul C. Ferreira, Afonso Cruz Waldomiro da Costa e Pedro Silva.
“Às 13 horas do dia 12 de abril, o Sgto. Max Wolff, corajoso, foi rasgado por uma rajada de metralhadoras alemãs ao tentar tomar uma casamata. Ainda tentou se arrastar, mas levou outra rajada. Alguns pracinhas tentaram remover seu corpo, mas foram feridos.
“Outros pelotões (tenentes Ari Rauen e Iporan) prosseguiram no reconhecimento, sob intenso fogo. Graças a essas informações, na noite de 13 para 14, o Batalhão do Coronel Remagem ocupou a Cota 808 e tomou a direção de Montese e Monteforte. Às seis horas da manhã, a artilharia brasileira abriu foto sobre as linhas identificadas. Logo, o coronel Mamede desencadeou o grosso da tropa do 11º regimento sobre Montese, utilizando tanques e ocupando toda a área sob fogo.
“O jornalista Egydio Sueff, então correspondente de ‘O Globo’, escreveu: ‘Montese já não existe. Nenhuma casa ficou intacta. É uma vila deserta, em ruínas. Manchas de sangue assinalam a violência da batalha. Mesmo após a ocupação, os alemães continuam a bombardeá-la. Até o cemitério está resolvido por bombas. Foi um combate de casa em casa’”.
“No dia 19 de abril de 1945, na região de Fornovo”, Derengoski finaliza descrevendo a rendição de uma divisão alemã na Itália, quando as principais defesas de Berlim acabavam de cair sob o avanço da forças soviéticas: “…a 148ª Divisão Alemã e remanescentes dos Panzer Granadier, veteranos na Rússia, sob o comando do general Otto Freitter-Picco…assinou um Termo de Rendição Incondicional ao Comando Brasileiro, entregando as armas e mais de 14 mil homens”.
Esta foi a breve descrição de apenas uma das batalhas que, junto com os feitos dos nossos aviadores, que atacavam posições inimigas sob o dístico “Senta a Pua”, inseriram o Brasil para sempre na história da luta contra a direita nazifascista e do heroísmo de milhões que levaram à vitória sobre essa monstruosidade.