Proposta foi defendida pela Índia e teve a oposição da “Big-Pharma” e do representante do governo Bolsonaro
A posição subalterna do governo Bolsonaro aos interesses do agora ex-presidente Donald Trump trouxe grandes prejuízos ao Brasil em diversos setores de nossa economia.
No entanto, onde essa posição teve consequências mais funestas para sua população foi no posicionamento do Itamaraty ao lado das grandes potências – rompendo uma longa tradição do Brasil – contra a proposta da Índia pela quebra das patentes na produção de vacinas durante a pandemia.
O país asiático argumentou com a urgência da pandemia do novo coronavírus para apresentar e defender nas reuniões da Organização Mundial do Comério (OMC) a proposta de quebra das patentes visando a aceleração da produção de vacinas em todo o mundo. Os países sedes dos monopólios farmecêuticos – que controlam a OMC – se colocaram contra a proposta que recebeu o apoio de mais de 100 países.
No encontro da OMC, o representante do governo indiano declarou que “o pior dos pesadelos está acontecendo”, pois simplesmente “não há vacinas para todos”.
A proposta apresentada pela Índia e pela África do Sul é de que fármacos e tecnologias usadas na produção específica de vacinas contra o Covid-19 fossem liberados – durante a pandemia – de patentes (propriedade intelectual), permitindo assim a fabricação de imunizantes genéricos.
Segundo o indiano, o “resultado seria permitir que a produção dos imunizantes pudesse ocorrer em laboratórios distribuídos por todo o mundo”. Ele insiste que a falta de produção de versões genéricas da vacina contra o coronavírus dificulta o abastecimento de imunizantes para o combate à doença.
O Brasil rompeu uma aliança histórica que mantinha com os países emergentes e aderiu à pauta dos países ricos e de seus monopólios. Com esse acordo com Trump, o governo brasileiro defendeu contra a quebra das patentes das vacinas, aceitando que deixaria de ser tratado como um país em desenvolvimento nas pautas comerciais.
O gesto foi visto com desprezo por grande parte dos demais países em desenvolvimento, irritados com a “traição” do governo brasileiro.
Nos últimos três meses, o Itamaraty, comandado pelo olavista Ernesto Araújo, conhecido pelo nome de “Beato Salu”, pela semelhança com um personagem lunático, que não dizia coisa com coisa, do escritor Dias Gomes, vem criticando abertamente a proposta da Índia na OMC (Organização Mundial do Comércio) de suspender as patentes das vacinas.
Araújo considera, entre outras crendices e alucinações, que essa posição da Índia faz parte de uma “grande conspiração globalista” contra os governos de Trump e de Jair Bolsonaro, dois ilustres representantes das seitas fascistas contemporâneas. A meta dos indianos era permitir que essas vacinas fossem fabricadas por empresas de genéricos, ampliando o abastecimento global. O Brasil seria um dos grandes beneficiados com a aprovação dessa proposta.
O governo brasileiro preferiu prejudicar o país aderindo incondicionalmente à posição dos EUA e dos monopólios farmacêuticos contra a quebra das patentes. O Brasil é um país possuidor de duas grandes plantas industriais – Farmanguinhos e Butantan – capazes de produzir vacinas em escala mundial.
Com a proposta da Índia, o Brasil poderia acionar essas duas fábricas e atender as necessidades de sua população e ainda exportar para os países vizinhos e até mesmo para países distantes. A manutenção das patentes, defendida pelos países ricos impede o mundo de enfrentar a pandemia com a celeridade necessária. Tudo isso para garantir os superlucros de seus monopólios.
Por conta das restrições impostas pelas leis de patentes, o Brasil fica inteiramente dependente de fornecedores estrangeiros dos insumos necessários para a produção das vacinas contra a Covi-19.
Se as vacinas pudessem ser produzidas como genéricos, o problema seria resolvido na velocidade necessária e muitas mortes poderiam ser evitadas. As vacinas que a população do Brasil e de todo o planeta tanto precisam poderiam ser entregues antes que a pandemia faça mais vítimas.
Dois grandes fornecedores de insumos para a produção das vacinas contra a Covid-19, a China e a Índia, vêm sofrendo ataques crescentes do governo brasileiro.
A Índia quando precisou do apoio do Brasil para derrubar as patentes não contou com esse apoio. Pelo contrário, o representante do governo Bolsonaro atacou a proposta da Índia nas reuniões da OMC.
A China vem sofrendo ataques diretos, tanto de Jair Bolsonaro, como de seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro, um puxa-saco contumaz de Trump. Todos esses ataques foram feitos exclusivamente para agradar o governo norte-americano.
Esse comportamento do governo brasileiro traz grandes prejuízos econômicos ao país. Neste exato, por exemplo, momento o Brasil está precisando importar, tanto a vacina pronta, quanto do IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo) da vacina contra a Covid-19, desenvolvida pela AstraZeneca e Universidade de Oxford. A vacina está sendo importada da Índia e o IFA de uma empresa da China.
Em algum grau, a CoronaVac, desenvolvida pela chinesa Sinovac em parceria com o Butantan, e que, em seu contrato, prevê a transferência de tecnologia, também poderia ser mais rapidamente produzida no Brasil se a proposta indiana tivesse sido aprovada na OMC.
O atraso das vacinas é fruto do trabalho do governo Bolsonaro contra o Brasil.
S.C.