A perícia confirmou que as oito gravuras de Emil Bauch, expostas no Itaú Cultural, correspondem às furtadas da sede da Fundação Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. O ladrão de obras raras Laéssio Rodrigues de Oliveira revelou, em carta enviada ao jornal “Folha de São Paulo”, que em 2004 vendeu as obras furtadas a Ruy Souza e Silva, ex-marido de Neca Setubal, herdeira do banco Itaú. O Itaú Cultural adquiriu as obras dele em 2005.
Na carta Laéssio destaca que Ruy Souza e Silva era seu cliente: “O dr. Ruy me forneceu uma nova lista de lâminas que ele queria que eu conseguisse pra ele. Desta feita, uma das obras que eu consegui subtrair para ele foi parte do conjunto das lâminas do raríssimo álbum litografado ‘Souvenirs de Pernambuco’ de autoria do alemão Emil Bauch que foi editado na Alemanha em 1852. Das 12 lâminas iconográficas do referido livro, eu apenas tive tempo de trocar 08 (oito) delas, através de uma cópia mui grosseira”.
O ladrão prossegue o relato do roubo “no meio da minha intenção de substituir as 12 pranchas da obra original pelas plotagens que eu estava fazendo ali mesmo na Cinelândia, acabou que estourou na imprensa a divulgação do gigantesco furto praticado nas dependências da biblioteca de obras raras do Museu Nacional. Foi em razão desta descoberta que eu não consegui trocar e levar integralmente todo o raro conjunto que formava o belíssimo álbum. Mesmo assim me dei por satisfeito ao constatar que 2/3 (dois terços) do maravilhoso álbum foi substituído na biblioteca e foi vendido”.
Ruy Souza e Silva confirma que comprou diversas obras para a coleção Brasiliana e as revendeu ao Itaú, mas nega que elas foram fruto de roubo. “Isso não ocorreu. Não comprei essas gravuras de Laéssio. As gravuras foram adquiridas em Londres na centenária loja Maggs Bros”, afirma.
Já o Itaú Cultural, apresentou dois documentos de procedência. O primeiro é um recibo da compra de Ruy Souza e Silva na loja Maggs Bros, em 9 de novembro de 2004, onde está escrito “album of engravings of Brazil”, não consta no documento o autor das obras ou número de gravuras adquiridas. O segundo documento é a compra pelo Itaú de oito gravuras de Bauch feitas em Pernambuco, em 17 de janeiro de 2005.
Que conhecia Laéssio, Ruy Souza e Silva já não pode negar. Em 2007, devido a um inquérito ao qual o ladrão de obras raras respondia na Justiça do Rio, Ruy Souza e Silva espontaneamente devolveu uma série de obras que havia adquirido. E, “pela boa-fé, ele não foi denunciado no inquérito”, disse o procurador Carlos Aguiar, do Ministério Público do Rio de Janeiro.
“Estamos estarrecidos e tristes”, afirmou o diretor do Itaú Cultural, Eduardo Saron. O Instituto e a Biblioteca Nacional firmaram acordo segundo o qual cerca de 30 outras gravuras expostas poderão passar por perícia neste mês. O Itaú Cultural assinou na última sexta-feira (23) um termo de compromisso para devolver à Fundação Biblioteca Nacional as oito litografias de Emil Bauch. As obras têm valor avaliado em US$ 8 mil cada.