Os doleiros que fizeram parte dos esquemas de propina do ex-governador Sérgio Cabral e da Odebrecht utilizaram contas correntes nos bancos Itaú, Bradesco, Santander e Caixa Econômica Federal (CEF) para lavar dinheiro da corrupção.
De acordo com as investigações do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro (MPF-RJ), os bancos falharam em controlar os crimes de lavagem dos doleiros através das suas agências.
A Lava Jato no Rio aponta que pelo menos 15 contas correntes foram controladas pelo grupo de doleiros, alvos da Operação Câmbio, Desligo, da Lava Jato. Essas contas movimentaram R$ 1,1 bilhão, sendo que desse total passaram pelo Bradesco R$ 989 milhões, 90% do montante.
A investigação mostrou que os doleiros abriram contas em nome de pelo menos sete empresas de fachada em quatro dos principais bancos do país, com a colaboração ou falha de funcionários que não checavam os dados cadastrais ou receberam propina do esquema para criar as contas.
A gerente do Bradesco, Tânia Maria Aragão de Souza Fonseca, foi alvo de operação da Polícia Federal e foi presa temporariamente na terça-feira (28). Tânia Aragão chefiou uma agência do Bradesco na Barra da Tijuca. Outro que foi alvo de mandado de prisão temporária foi Robson Luiz Cunha Silva, ex-gerente-geral do banco em Vila Isabel. Robson não foi preso, está foragido. Tânia e Robson são apontados pela Lava Jato como beneficiários de uma mesada de doleiros para ajudá-los na abertura de contas no banco.
Um terceiro mandado mirou o doleiro Júlio Cesar Pinto de Andrade, que também está foragido.
“Os bancos têm que fazer diligências para verificar dados cadastrais de clientes”, afirmou o coordenador da Lava Jato no Rio de Janeiro, o procurador da República Eduardo El Hage.
“Se isso [apuração de dados] tivesse sido feito, eles [os bancos] saberiam que muitas empresas que movimentam milhões em suas contas funcionam em endereços incompatíveis com suas vultosas transações”, comentou El Hage para o UOL.
O procurador contou que os doleiros que fizeram delação premiada relataram a preferência deles em abrir contas num banco em que o controle fosse menos rígido. E o Bradesco era um dos que eles tinham preferência em abrir contas.
O que evidencia a omissão dos bancos ante o crime de lavagem de dinheiro, sustenta o procurador El Hage. Para o procurador, tal omissão é lucrativa para os bancos.
No pedido de prisão temporária dos gerentes do Bradesco, a Lava Jato mostrou que o banco lucrou mais de R$ 19 bilhões em 2018, 30% a mais do que em 2017.
“O banco [Bradesco] deixou de gastar com sua área de controle e também lucrou com toda essa movimentação em suas contas. É uma despesa menor e um lucro maior”, comentou El Hage.
Os doleiros utilizavam as contas bancárias como biombo para o dinheiro que circulava nos esquemas de pagamento de propinas dos quais eles participavam. Uma conta em nome de uma companhia de fachada poderia receber depósitos sem que o real dono do saldo fosse identificado, por exemplo. Os valores depositados ali também poderiam ser usados para pagamentos em que o destino do dinheiro nunca era revelado.
Os bancos e as contas bancárias do esquema dos doleiros:
Bradesco
- Agil 2011 Assessoria em Gestão – R$ 281 milhões
- Sags Participações e Serviços – R$ 250,7 milhões
- Maraba Celios Indústria e Comércio – R$ 167,6 milhões
- Alfat Serviços de Cobrança – R$ 112,7 milhões
- IEC Comércio e Importadora – R$ 78,5 milhões
- Presto Service 2015 – R$ 71,9 milhões
- AGB 3 Comércio de Roupas – R$ 26,5 milhões
Total – R$ 989,6 milhões
Itaú
- Alfat Serviços de Cobrança – R$ 87,6 milhões
- Sags Participações e Serviços – R$ 6,8 milhões
- AGB 3 Comércio de Roupas – R$ 2,61 milhões
Total – 94,5 milhões
Santander
- Alfat Serviços de Cobrança – R$ 18,1 milhões
- IEC Comércio e Importadora – R$ 844 mil
- Maraba Celios Indústria e Comércio – R$ 532 mil
Total – R$ 19,5 milhões
Caixa Econômica Federal
- IEC Comércio e Importadora – R$ 2,3 milhões
- Maraba Celios Indústria e Comércio – R$ 1,8 milhão
Total – R$ 4,1 milhões
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