Os três maiores bancos privados do país, Itaú, Bradesco e o espanhol Santander, encerraram o ano de 2020, em plena pandemia da Covid-19, com um lucro líquido, juntos, em torno de R$ 52 bilhões. O Itaú com R$ 18,9 bilhões, o Bradesco somou 19,4 bilhões e o Santander, 13,8 bilhões.
Ao contrário dos setores produtivos que amargaram resultados negativos ou próximos de zero e não recuperaram as perdas com a pandemia, seja na produção ou vendas, na indústria, comércio e serviços, o setor financeiro, agraciado pela liquidez de R$ 1,2 trilhão “na veia”, como dizia Paulo Guedes, para ajudar empresas e empregos durante a pandemia e a crise econômica agravada por ela, empoçou os recursos liberados pelo Banco Central.
“Apesar dos bancos terem recebido do Banco Central em março R$ 1,2 trilhão adicionais para emprestar a pessoas e empresas, de março a maio eles apenas aumentaram as suas concessões de empréstimos em R$ 50,4 bilhões, em relação ao mesmo período de 2019. Ou seja, apesar de todo este volume adicional de recursos entregue pelo Banco Central, e apesar da crescente necessidade por mais financiamentos em um cenário de forte crise, nestes três meses os bancos mantiveram praticamente o mesmo patamar de financiamentos do ano passado, com um aumento de apenas 5,4%”, avaliou a Auditoria Cidadã da Dívida, em julho de 2020.
Embora tenham auferido toda essa lucratividade, os bancos promoveram muitas demissões e fecharam inúmeras agências pelo país, reduzindo, com isso, seus custos operacionais.
“O governo libera dinheiro para os bancos. E os bancos arrecadam dinheiro dos clientes e da sociedade como um todo. Não é de se impressionar que, desta forma, o banco consiga, em pleno período de pandemia, com um monte de empresas fechando, obter tamanho lucro. E, mais do que o lucro, tamanha rentabilidade”, afirmou o secretário de Assuntos Socioeconômicos da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Mario Raia. “O que é impressionante é que, mesmo diante deste esplêndido resultado, o banco demita e reduza seu quadro de funcionários”, denunciou.
O Bradesco fechou 7.754 postos de trabalho e 1.083 agências em 2020, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), apesar do compromisso assumido pelo banco de não demitir durante a pandemia.
O Santander encerrou o ano com 44.599 empregados, 3.220 postos de trabalho a menos em doze meses, sendo 2.593 entre março e dezembro de 2020, mesmo após o Santander ter assumido o compromisso de “Não Demissão” durante a pandemia, segundo a Contraf. O banco espanhol fechou 175 agências, 106 delas entre abril e dezembro de 2020.
O banco Itaú também fechou agências e demitiu. Ao todo, foram 117 agências físicas que tiveram suas atividades encerradas e no, final do quarto trimestre de 2020, houve uma redução de 353 postos em relação ao trimestre anterior.
As taxas de juros, o preço do dinheiro, conforme informações gerais do setor, pelas estatísticas do Banco Central (BC), mantiveram-se em patamares invejáveis em relação a qualquer outra atividade lícita da economia.
Durante o ano 2020, empresários de diversos setores denunciaram que os bancos estavam dificultando o acesso ao crédito, “empoçando” o dinheiro e “atrapalhando o país”. Além de juros elevados, prazos inviáveis, entre outras exigências, impediram o acesso ao crédito à milhares de micro, pequenas e médias para capital de giro e a manutenção de seus funcionários durante a pandemia.
Enquanto os bancos lucravam, segundo divulgou o IBGE em julho do ano passado, 716 mil empresas fecharam as portas desde que a pandemia do novo coronavírus chegou ao Brasil. E o ano 2020 encerrou com desemprego recorde de 14 milhões de pessoas.