Combinado com o Bradesco e o Santander, lucros somam R$ 14,85 bilhões no primeiro trimestre
Enquanto as atividades da indústria, comércio e serviços derretem mediante a restrição da demanda e do acesso ao crédito impostos pelos juros altos, o Itaú Unibanco registrou lucro líquido recorde de R$ 8,4 bilhões no primeiro trimestre deste ano, uma alta de 10% em relação ao trimestre anterior e um aumento de 14,6% frente ao mesmo período de 2022 (R$ 8,435 bi).
Com o resultado do primeiro trimestre, os três maiores bancos privados do país (Itaú Unibanco, Bradesco e o espanhol Santander) obtiveram juntos R$ 14,855 bilhões de lucros.
Só o Itaú apresentou um retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) de 20,7%, quase o dobro do Santander e do Bradesco juntos, uma rentabilidades extraordinária, entre as maiores do mundo.
Bem diferente do setor produtivo, que amarga os perversos juros impostos pelos bancos na esteira da taxa básica da economia do Banco Central.
Como bem disse o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson Andrade, “a Selic em 13,75% ao ano está em um nível que restringe excessivamente a atividade econômica”. E ainda: “as empresas estão tomando crédito a mais de 30% e o setor produtivo não aguenta pagar esse nível de juros”.
Não à toa, em nota, a direção do Itaú manifestou, às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, no início deste mês, a defesa da manutenção da Selic em 13,75%, ao contrário do setor produtivo, empresários e trabalhadores, de economistas e do governo que defenderam a redução imediata dos juros.
O Itaú encerrou o mês de março com uma margem financeira gerencial de R$ 24,7 bilhões, alta de 17,3% na comparação anual. De acordo com a instituição financeira, sua carteira de crédito encerrou o mês de março em R$ 1,153 trilhão, um avanço de 11,7% na comparação anual. “Efeito positivo do crescimento da carteira, associado com a gradual mudança do mix da carteira, além do impacto positivo do aumento da taxa de juros, levaram a um crescimento de 9,7% na receita financeira líquida”, destacou o Itaú Unibanco em um dos seus informativos (demonstrações contábeis completas em IFRS).
Ainda que a carteira de pessoas físicas tenha dado um salto de 16% no período, ao totalizar R$ 402,8 bilhões, os juros elevados têm reduzido a procura por crédito. “A demanda tem caído e temos percebido em vários segmentos uma redução importante, sobretudo nas empresas. Muita demanda por capital de giro tradicional e muito menos demanda para investimentos de médio e longo prazo”, disse o presidente do Itaú, Milton Maluhy à Folha de S. Paulo.
Os juros altos, os maiores do planeta inibem os investimentos, como enfatizou o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso, ao criticar a manutenção da Selic em 13,75%: “não só inviabiliza os investimentos como encarece o custo da dívida. Além disso, vem se refletindo na desaceleração da atividade desde o último trimestre de 2022. Neste primeiro trimestre, os investimentos em máquinas e equipamentos caíram 10%”.
Enquanto o Itaú Unibanco comemora mais um período de pasto verde, os setores produtivos da economia, os que mais geram empregos neste país, estão vendo suas atividades perdendo ritmo frente ao desaquecimento da economia brasileira, que está sendo provocada pela maior taxa de juro real do planeta.
Em fevereiro, com a fraca demanda por bens e serviços no país, a inadimplência atingindo quase metade da população adulta, segundo a Serasa Experian, a renda apertada e o desemprego elevado, a produção industrial nacional andou mais uma vez para trás, ao recuar -0,2% frente a janeiro, obtendo o terceiro mês consecutivo de resultado negativo, acumulando nesse período uma queda de 0,6%, segundo os últimos dados do IBGE.
Já as vendas do comércio varejista brasileiro recuaram -0,1% em fevereiro contra janeiro deste ano, em que obteve um pico de 3,8% após a queda de 0,6% em novembro e tombo de 2,6% em dezembro, isto mesmo com as promoções da Black Friday e do período festivo de final de ano, quando as vendas naufragaram. Por sua vez, o setor de serviços variou em alta de 1,1% em fevereiro frente ao mês anterior, não conseguindo recuperar a queda de 3,0% que obteve em janeiro.