A situação do senador Flávio Bolsonaro (PSL) está cada vez mais complicada. Inicialmente a investigação conduzida pelo Ministério Público do Rio de Janeiro havia detectado a compra e venda, por ele, de 19 imóveis. Agora, a investigação já computa um total de 37 imóveis negociados pelo parlamentar. Ao todo são 14 apartamentos e 23 salas comerciais, que se distribuem em bairros como Botafogo, Copacabana, Jacarepaguá e Barra da Tijuca.
O MP, quando pediu a quebra de sigilo bancário e fiscal de Flávio e de mais 94 pessoas e empresas, em 15 de abril, afirmava ter reunido informações de que ele teria investido R$ 9,4 milhões na compra dos imóveis. “As compras subfaturadas e as vendas superfaturadas, feitas entre 2010 e 2017 renderam um lucro de R$ 3 milhões”, dizia o MP. Esses valores correspondiam aos 19 imóveis identificados até então.
Em seguida, o MP chegou aos 37 imóveis, após ter feito nova solicitação de informações aos cartórios do Rio. Os imóveis estão ligados a ele, sua família e a empresa Bolsontini Chocolates e Café, que também tiveram seus sigilos quebrados.
Flávio Bolsonaro tentou de todas as formas impedir o avanço das investigações sobre suas movimentações financeiras milionárias. Não conseguiu e seu sigilo bancário e fiscal foram quebrados juntamente com outras 94 pessoas.
O MP considera as operações realizadas por Flávio como indícios de lavagem de dinheiro. Ele empregou R$ 9,425 milhões de reais nos imóveis entre 2010 e 2017, sem que se possa determinar a origem desses recursos.
No período de 2014 a 2017, seu motorista, Fabrício Queiroz, movimentou, segundo relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), R$ 7 milhões em sua conta, sem que tivesse rendimentos que justificassem essa movimentação. Queiroz também teve o sigilo quebrado.
O senador obteve um lucro de R$ 3,089 milhões neste período.
Segundo o Conselho de Controle de Atividades Fiscais (Coaf), há “sérios indícios” de lavagem de dinheiro nestas operações.
Esse ganho extra do parlamentar revela que não era só o seu motorista, Fabrício Queiroz, que “fazia rolos”, como ele havia declarado. “Eu faço dinheiro”, disse Fabrício, em entrevista no final do ano passado. O deputado também, ao que tudo indica, também “fabrica dinheiro”.
O parlamentar adquiriu num desses “negócios”, 10 salas comerciais em um prédio na Barra da Tijuca por R$ 2,662 milhões, entre dezembro de 2008 e setembro de 2010. Em outubro de 2010, ele vendeu as mesmas salas para a empresa MCA Exportação e Participações, empresa com sede no Panamá, por R$ 3,167 milhões.
Em novembro de 2012, Flávio adquiriu outros dois imóveis em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro. Pagou um total de R$ 310 mil pelas duas quitinetes e as revendeu, um ano e três meses depois, por mais que o triplo do preço, segundo reportagem do jornal Folha de S. Paulo.
Os dois imóveis haviam sido adquiridos em 2011 pelos proprietários anteriores por um total de R$ 440 mil. Em pleno boom imobiliário na cidade, eles tiveram um prejuízo de 30% ao revendê-los ao senador, segundo dados do 5º RGI (Registro Geral de Imóveis) da capital do estado.
O então deputado revendeu um imóvel em novembro de 2013 (por R$ 573 mil) e outro em fevereiro de 2014 (por R$ 550 mil). Somadas, as transações lhe renderam um lucro de R$ 813 mil – diferença entre os R$ 310 mil investidos nas compras e o R$ 1,12 milhão que recebeu com as vendas.
Os responsáveis pela transação com Flávio, contudo, não foram os proprietários do imóvel, mas o corretor norte-americano Glenn Dillard. Ele tinha uma procuração de Charles Eldering e Paul Maitino, reais donos das quitinetes, para negociar imóveis no Rio de Janeiro.
Em 2016, Eldering acusou Dillard na Justiça de ter lhe aplicado um golpe. Ele declarou que o corretor vendera a unidade a Flávio sem o seu consentimento, omitiu a concretização da negociação e ficou com o dinheiro.
Quando revelou esses números e pediu a quebra do sigilo de Flávio Bolsonaro, o Ministério Público (MP) só sabia dos 19 imóveis. Somente com esses imóveis ele obteve uma lucratividade de R$ 3 milhões. Agora, o MP já listou um total de 37 imóveis negociados pelo atual senador do PSL.
O MP considera fundamental a devassa patrimonial de Flávio para esclarecer os pagamentos irregulares detectados em seu gabinete e das movimentações bancárias “atípicas” de Fabrício Queiroz, seu ex-assessor. Os indícios são de lavagem de dinheiro.
Flávio Bolsonaro entregou sua defesa e afirmou que os imóveis não valiam o que tinha sido estimado pela prefeitura, pois “qualquer habitante da terra sabe que estes valores são superfaturados pelo poder público para aumentar a arrecadação com impostos como IPTU e ITBI e que um imóvel jamais seria vendido se anunciado pelo valor estimado pela prefeitura”.
O que Flávio não explica é como ele conseguiu comprar subfaturado, dando prejuízo aos vendedores, e vender superfaturado, tendo lucros estratosféricos.
Em 17 de maio do ano passado, o promotor Tulio Caiban Bruno havia solicitado o arquivamento do processo aberto para investigar essas transações. Em 18 de maio, o subprocurador-geral de Justiça, Alexandre Araripe Marinho, aprovou o relatório.
Entretanto, diante das novas revelações sobre as movimentações financeiras suspeitas de Flávio, em 28 de fevereiro de 2019, o Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (Gaecc) do MP do Rio pediu o desarquivamento do caso, o que ocorreu em 14 de março em razão da investigação sobre a apropriação de dinheiro de funcionários da Alerj no gabinete de Flávio.
Agora, com a quebra dos sigilos fiscal e bancário de todos os envolvidos, tudo poderá ser devidamente esclarecido.
Ora, leitora, parece até que houve algum senador do PT preso. Até a revista na casa da Gleisi foi anulada. Menos vitimização, leitora. Isso não ajuda a combater o Bolsonaro e sua gang.