
“A trajetória da pandemia está em nossas mãos, é um problema de todos”, afirmou o diretor-geral Tedros
Com o total de mortos da pandemia de Covid-19 perto dos 300 mil e 4,3 milhões de infectados, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, reiterou na quarta-feira (13) que “a trajetória [do surto] está em nossas mãos, é um problema de todo mundo, e todos nós devemos contribuir para acabar com esta pandemia.”
Por sua vez, o diretor de emergências da OMS, Michael Ryan, alertou que ainda há “um longo caminho a percorrer” até o retorno à normalidade e insistiu em que os países mantenham-se empenhados no combate à Covid-19. “Temos um novo vírus se inserindo na população humana pela primeira vez e, portanto, é muito difícil prever quando o venceremos”.
As declarações têm como base o diferenciado quadro da pandemia no mundo. Ao lado de países que iniciam o desconfinamento após quedas nas taxas de contágio, como na Europa, há outros, caso da América Latina, e especialmente no Brasil, em que o novo coronavírus tornou-se descontrolado.
Já nos EUA, praticamente se tornou a questão eleitoral central, o que torna ainda mais complexo o trato da pandemia.
Em países que controlaram a pandemia, como a China e a Coreia do Sul, o ressurgimento de focos de casos aumentou o grau de alerta sobre o risco de uma “segunda onda”, enquanto na África todos os países já têm casos de Covid-19.
A isso se soma a mais brusca parada da economia em quase um século, sob a imperiosa necessidade de suspensão das atividades não-essenciais, já que não há vacina nem tratamento para o coronavírus, cuja agressividade ameaça levar ao colapso os sistemas hospitalares.
Com todo seu séquito de mazelas: desemprego em massa, pequenas empresas na exaustão e populações inteiras sem meios de subsistência e dependendo mais do que nunca do apoio estatal – isso, depois de uma década de austeridade e cortes nos sistemas de saúde e de proteção social.
“O MAIS ALTO ALERTA POSSÍVEL”
“Muitos países gostariam de abandonar as diferentes medidas [de contenção]”, assinalou Tedros. “Mas nossa recomendação é de que o nível de alerta em qualquer país seja o mais alto possível, e que todas as medidas tomadas sejam graduais.”
Ryan se manifestou especialmente preocupado com a fuga frente ao problema que agora aflige a humanidade. Ele advertiu que o coronavírus Sars-cov-2 – como os patógenos de várias outras doenças – talvez nunca seja erradicado, e as populações do mundo todo terão que aprender a conviver com ele.
“Existe um pensamento mágico de que as quarentenas funcionam perfeitamente e de que suspender as quarentenas ocorrerá de uma forma ótima. Ambos [pensamentos] são repletos de perigos”, enfatizou o epidemiologista.
RECIDIVA
Aos países preocupados com os impactos econômicos da pandemia, o diretor de emergências da OMS observou que, nesse sentido, seria “pior” sair do confinamento e “ter de voltar a ele” por falta de medidas de precaução.
Ryan acrescentou que o mundo demonstrou que a crise de covid-19 pode ser controlada, mas alertou que isso exigirá um “esforço maciço” de líderes e da sociedade, mesmo que uma vacina seja encontrada.
Ele lembrou que vacinas existem para outras doenças que nunca foram erradicadas, como o sarampo. “É importante deixar isso claro: esse vírus pode se tornar apenas outro vírus endêmico em nossas comunidades, e pode nunca mais desaparecer”, acrescentou.
Como exemplo, ele mencionou que o HIV nunca deixou de existir, mas a humanidade aprendeu a lidar com o vírus.
“TRÊS PERGUNTAS”
Na coletiva virtual de segunda-feira desde Genebra, sede da OMS, Tedros se referiu à decisão de vários países europeus de começar a levantar as ordens de permanência em casa de forma gradual, após duras quarentenas.
Como registrou Tedros, a “boa notícia é que houve muito sucesso em retardar o vírus e, finalmente, salvar vidas”. Ele reconheceu que as medidas fortes de distanciamento social vieram “a um custo e reconhecemos o grave impacto socioeconômico dos bloqueios, que tiveram um efeito prejudicial na vida de muitas pessoas”.
“Portanto, para proteger vidas e meios de subsistência, um lento, constante levantamento de bloqueios é fundamental tanto para estimular as economias, ao mesmo tempo em que se mantém um olho vigilante sobre o vírus para que as medidas de controle possam ser rapidamente implementadas se um aumento nos casos for identificado”, acrescentou.
Ele destacou as três principais perguntas que os países devem fazer antes do levantamento dos bloqueios:
Primeiro, a epidemia “está sob controle?” Em segundo lugar, o sistema de saúde é capaz de “lidar com um ressurgimento de casos” que podem surgir após o relaxamento de certas medidas?”
Em terceiro lugar, o sistema público de vigilância em saúde é “capaz de detectar e gerenciar os casos e seus contatos, e identificar um ressurgimento dos casos?”.
“Essas três perguntas podem ajudar a determinar se uma quarentena pode ser lentamente liberada ou não”, apontou.
No entanto, mesmo com três respostas positivas, liberar bloqueios é complexo e difícil, alertou o diretor-geral da OMS, que citou os “sinais dos desafios que podem estar por vir” – como o foco de contágios que levou ao fechamento de bares e clubes noturnos na capital Seul, Coreia do Sul, a detecção em Wuhan, na China, do primeiro foco de casos desde que o bloqueio foi levantado, e o aumento do número de casos na Alemanha após a atenuação das restrições.
Para a OMS, a base de todo esse processo de contenção da pandemia é “testar, testar, testar” para identificar os doentes, isolá-los e tratá-los, e o rastreamento de todos os contatos para deter a cadeia de contágio – ao mesmo tempo em que se preserva a capacidade de resposta do sistema hospitalar (leitos de UTI e respiradores) e a proteção dos profissionais da saúde, que estão na linha de frente do combate ao coronavírus.