O Relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão que fiscaliza movimentações financeiras suspeitas, que está em poder da Polícia Federal, na Operação Furna da Onça, e que investiga um esquema de propinas na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, revela que o ex-assessor do deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL), senador eleito pelo Rio, Fabrício José de Carlos Queiroz, recebeu depósitos em espécie e por meio de transferências de sete funcionários que já foram ou estão lotados no gabinete do parlamentar. Segundo a PF, Fabrício teve uma movimentação atípica de R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017.
O documento revela que Queiroz chegou a fazer 176 saques em dinheiro em 2016. Segundo o documento, a média foi de uma retirada a cada dois dias. No total, as retiradas somaram quase R$ 325 mil, com saques que chegaram a R$ 14 mil. O relatório mostra ainda que houve 59 depósitos em dinheiro na conta de Queiroz, com entrada de mais de R$ 12 mil.
Foram identificados também cheques no valor total de R$ 24 mil depositados por Fabrício Queiroz na conta de Michelle Bolsonaro, mulher do presidente eleito Jair Bolsonaro. O presidente disse nesta sexta-feira ao site O Antagonista que os R$ 24 mil pagos em cheques pelo ex-assessor Fabrício José de Queiroz à futura primeira-dama Michelle Bolsonaro referem-se à quitação de uma dívida pessoal (sua). Em entrevista durante evento na Marinha neste sábado (8), ele acrescentou. “Emprestei dinheiro para ele em outras oportunidades. Nessa última agora, ele estava com um problema financeiro e uma dívida que ele tinha comigo se acumulou. Não foram R$ 24 mil, foram R$ 40 mil. Se o Coaf quiser retroagir um pouquinho mais, vai chegar nos R$ 40 mil.”
Segundo Bolsonaro, Queiroz pagou em dez cheques de R$ 4 mil. “Eu podia ter botado na minha conta. Foi para a conta da minha esposa, porque eu não tenho tempo de sair. Essa é a história, nada além disso”, afirmou. “Não tive tempo. Questão de mobilidade. Tive dificuldade para ir ao banco em razão da rotina de trabalho. Eu sou muito ocupado”, afirmou. Ele admitiu também que não registrou a operação no imposto de renda. “Se eu descumpri alguma norma, se errei, arco com a responsabilidade com o fisco, sem problema nenhum”, explicou. “Na conta da minha mulher é como se fosse a minha”, prosseguiu o presidente eleito.
Entre as pessoas que fizeram as movimentações suspeitas está a filha de Fabrício, Nathalia Melo de Queiroz, que estava lotada no gabinete de Flávio até dezembro de 2016, com salário de R$ 9.835,63. No período relatado pelo Coaf, ela fez depósitos que totalizaram R$ 84.110,04 e transferência de R$ 2.319,31. Depois que saiu do gabinete de Flávio, Nathália foi funcionária do presidente eleito Jair Bolsonaro na Câmara. Deixou o cargo no Rio no mesmo dia em que o pai pediu exoneração do gabinete de Flávio. A outra filha de Fabrício, Evelyn Melo de Queiroz, foi nomeada em dezembro de 2016 como assessora de Flávio, na vaga da irmã Nathália. O nome de Evelyn aparece na folha de pagamento com um salário líquido de R$ 7,5 mil.
A mulher de Queiroz, Marcia Oliveira de Aguiar, que exerceu cargo de consultora parlamentar do gabinete de Flávio, com salário bruto de R$ 9.835,63, entre 02/03/07 a 01/09/17, também fez depósitos na conta do marido. Ao marido, o repasse em dinheiro foi de R$ 18.864,00, segundo o Coaf. Em transferências, o valor chegou a R$ 18,3 mil. Queiroz recebeu de Raimunda Veras Magalhães, de acordo com o relatório, R$ 4,6 mil. Ela aparece na folha da Alerj com salário líquido de R$ 5.124,62. Outro que ainda consta na folha é Jorge Luís de Souza, cujo salário líquido em setembro de 2016 foi de R$ 4.847,27. Segundo documento do Coaf, o depósito dele foi de R$ 3.140,00.
O futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que também é réu confesso de crime de caixa dois, se destemperou e abandonou entrevista coletiva nesta sexta-feira, 7, quando foi questionado sobre a movimentação financeira atípica do ex-motorista de Flávio Bolsonaro. A revelação da movimentação foi feita pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
Onyx atacou o Coaf e subiu o tom de voz com um repórter após a pergunta sobre a origem do dinheiro apontado no relatório. “Onde é que estava o Coaf no mensalão? Onde é que estava o Coaf no petrolão? Esse é o ponto”, disse. “Eu sou o investigador? Não. […] Quanto o senhor recebeu esse mês [perguntou ao repórter]? Não tem a menor relevância a sua pergunta”, completou. O Coaf estará agora sob responsabilidade do juiz Sérgio Moro, indicado por Bolsonaro para Ministro da Justiça de seu governo.
O repórter rebateu o nervosismo de Onyx dizendo que isso não tinha nada a ver com o que se estava perguntando: a origem do dinheiro na conta de Flávio Bolsonaro. Onyx, então, abandonou intempestivamente a entrevista em um evento empresarial em São Paulo. Flávio Bolsonaro informou que esteve com seu ex-assessor na manhã desta sexta-feira, disse que ouviu dele “explicações plausíveis”. Questionado, não quis dar detalhes. “Assim que for chamado ao Ministério Público, vai dar os devidos esclarecimentos. Só que quem tem que ser convencido não sou eu, é o Ministério Público”, afirmou Flávio. O Ministério Público Estadual (MPE) comunicou que já abriu investigação sobre o caso.
‘Se a dívida do Queiroz “se acumulou”, isto é, cresceu, o que se está dizendo é que o montante da dívida aumentou conforme a passagem do tempo, seguindo a cronologia em valor crescente. Mas o que o Bolsonaro disse foi que “Se o Coaf quiser retroagir um pouquinho mais, vai chegar nos R$ 40 mil.” Nessa frase ele desdiz o que acabou de afirmar: se a divida do Queiroz aumenta no sentido inverso do tempo ela estaria diminuindo, e não acumulando.
É verdade, leitor. Boa observação.