Ele falou, nesta terça-feira (8), que o país foi quem melhor se saiu na economia e na pandemia. O Brasil realmente é o primeiro do mundo, mas em juros altos, e o segundo em número de mortes por Covid
A fala de Jair Bolsonaro, em Salgueiro, no sertão pernambucano, na manhã desta terça-feira (8), durante mais uma de suas visitas às obras intermináveis da transposição do Rio São Francisco, revela bem o grau de delírio que tomou conta do atual governo. Ele afirmou que, em termos de economia, o Brasil foi o país que melhor se saiu no mundo durante a pandemia. Bolsonaro deve ter achado que aqueles a quem ele chamou de “paus de araras” iriam acreditar no seu show de delírios.
UM MILHÃO POR MÊS DE CARTÃO CORPORATIVO
Na “fantasia lunática de Bolsonaro, ele tenta pintar o país como se fosse uma verdadeira disneilândia. Como está usando e abusando do cartão corporativo, viajando à vontade, fazendo motociatas, se divertindo e gastando milhões às custas do povo, deve achar que todo o brasileiro está nadando em dinheiro como ele. Por isso, faz esses discursos delirantes. Só para registro: o mandatário está gastando um milhão de reais por mês só de cartão corporativo. Como disse o jornalista Josias de Sousa, Bolsonaro acha que o cartão é uma “rachadinha gigante”.
Sobre o desemprego nas alturas, os juros altos, a inflação em disparada, o congelamento de salários, a fome batendo às portas das famílias, nada disso foi abordado pelo discurso lunático do visitante.
Segundo o vendedor de cloroquina, até mesmo no combate à pandemia, o seu governo teria se destacado no mundo.
Logo ele que combateu de todas as formas possíveis a vacinação contra a Covid. Ele não só promoveu centenas de aglomerações, espalhando freneticamente o vírus, como atacou as vacinas, e chegou a dizer que elas matavam mais que o vírus. Ameaçou os servidores da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para que não autorizassem a vacinação de crianças no país.
Realmente, o país, sob Bolsonaro, se destacou como um dos piores resultados do mundo no combate ao vírus. Por muito menos, o primeiro ministro da Inglaterra, Boris Johnson, está quase caindo de seu cargo.
O Brasil é o segundo país do mundo em número absoluto de mortes por Covid-19, com mais 630 mil mortos. Só perde para os Estados Unidos, que está com mais de 900 mil mortos.
Segundo o epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas, dois terços dessas mortes de brasileiros poderiam ter sido evitadas, se Bolsonaro não tivesse sabotado a compra das vacinas e as medidas sanitárias de proteção à população.
Agora, com a ômicron e a destemperança do Planalto, o Brasil já é o terceiro do mundo em mortes provocadas pela variante. No combate à pandemia, o governo Bolsonaro também foi um desastre, ao contrário do que ele disse em Pernambuco.
Como não tem como explicar a tragédia provocada por sua teimosia de combater a vacinação para provocar a contaminação da população, a chamada “imunidade de rebanho”, agora, repete a ladainha de que não teve culpa de nada e que não deixaram ele fazer o que queria.
Ele voltou a afirmar, em contrariedade ao já explicado pelo próprio STF, ter sido impedido de tomar ações relacionadas à pandemia. “A mim não couberam as medidas contra a Covid-19, o poder foi delegado a Estados e Municípios pelo Supremo Tribunal Federal”, disse. Se dependesse dele, realmente o país não tinha nem iniciado a vacinação até hoje e, certamente, muitos outros brasileiros teriam morrido de Covid.
BRASIL VOLTOU A OCUPAR O PRIMEIRO LUGAR EM JUROS ALTOS
Como Bolsonaro inventa pódios, o Brasil, realmente, atingiu mais um outro pódio nos últimos dias. Mas, não foi o de desempenho, como delirou o espalha-vírus, em sua fala de Pernambuco. O pódio dos juros mais altos do mundo.
A decisão do governo de jogar os juros (Selic) a 10,75% está sufocando a economia brasileira, impedindo que o país produza e gere empregos para os trabalhadores. Bolsonaro tomou essa decisão num momento em que o desemprego está nas alturas, o que está fazendo com que todas as previsões apontem para mais estagnação econômica. Relatório de Mercado Focus divulgado na segunda-feira (7) mostrou manutenção na expectativa mediana para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 2022, em 0,30%.
O descalabro é tanto que a Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP), maior entidade empresarial do país, soltou uma nota alertando que a decisão do governo “golpeia a economia no país”. Para a FIESP, “as questões conjunturais, em geral de curto prazo e que definem as ações monetárias do Banco Central (BC), não devem sobrepor-se às razões estruturais que influenciam a economia nacional”.
A economia nacional já está estagnada há algum tempo. Em 2021, o PIB caiu por dois trimestres seguidos, o segundo recuou 0,4% e o terceiro 0,1%. No terceiro trimestre, a indústria, que responde por cerca de 20% do PIB nacional, seguiu estagnada em 0,0%. “É preciso pensar para além do Copom”, diz a nota dos empresários paulistas. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) se somou à FIESP e denunciou que a decisão do BC “é equivocada e inibe a atividade econômica”.
Dizer que o Brasil está melhor que todo mundo, como o capitão cloroquina disse em seu discurso desta terça-feira, é um sinal claro de delírio, de descolamento da realidade.
Bolsonaro diz que não tem culpa de nada, que a inflação é um problema mundial, mas ele não explica por que no Brasil ela foi o dobro da verificada em outros países.
As pesquisas, felizmente, têm mostrado que a população não está dando crédito a esse discurso delirante de que o país está às mil maravilhas. Não é à toa que mais de 60% dos brasileiros, segundo todas as pesquisas de opinião mais recentes, acham que a condução da economia por Bolsonaro é um desastre. Só 19% apoiam as iniciativas do “mito”, segundo o Ipespe.
12 MILHÕES DE DESEMPREGADOS
O desemprego está na casa dos 12 milhões. Quando se soma a estes os desalentados e os detentores de trabalho precário o número chega a 30 milhões. Mesmo os empregos criados, são precários. “Bicos”, trabalho doméstico e sem carteira assinada representaram 74% do aumento da ocupação no país, apontou o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), com base em dados da Pnad Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Com isso, o rendimento real habitual caiu 4,5% em 2021 para R$ 2.444, e recuou 11,4% em relação a igual trimestre de 2020. Foi o menor rendimento da série histórica, iniciada em 2012, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta sexta-feira (28).
Portanto, como se pode ver, Bolsonaro prefere fazer discursos vazios quando, na verdade, deveria estar debruçado na solução dos graves problemas que o país está vivendo.
Mesmo durante as fortes chuvas de final de ano, que desabrigaram milhares de pessoas na Bahia, em Minas Gerais, São Paulo e em outras regiões, ele não ajudou em nada. Nem compareceu de verdade. Fez uns sobrevoos rápidos e zarpou. Preferiu passear de jet ski e curtir funks nas praias de Santa Catarina, ao invés de mobilizar a máquina do governo para socorrer as vitimas das chuvas. O governo Bolsonaro não tem nada de espetáculo. É um desastre total.
SÉRGIO CRUZ