
A Polícia Federal, que conduz a investigação, é subordinada ao Ministério da Justiça
Jair Bolsonaro estava com o ministro da Justiça, Anderson Torres, no dia em que fez a ligação para o ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, para informá-lo que a Polícia Federal iria realizar uma operação de busca e apreensão em sua casa.
No dia 9 de junho, Milton Ribeiro falou, em uma ligação para sua filha, que tinha recebido, no mesmo dia, um telefonema de Jair Bolsonaro, que lhe contou das investigações da PF sobre os esquemas de corrupção no Ministério da Educação.
Neste dia, Jair Bolsonaro estava viajando para os Estados Unidos e em sua comitiva estava o ministro da Justiça, Anderson Torres.
A presença de Torres está até registrada em sua agenda oficial.
A Polícia Federal, que conduz a investigação, é subordinada ao Ministério da Justiça, e pode ter sido esse o caminho para que Jair Bolsonaro soubesse de informações sigilosas e sensíveis sobre a investigação de seu ex-ministro.
Em ligação com sua filha, Milton Ribeiro disse que Bolsonaro “acha que vão fazer uma busca e apreensão… em casa…”.
Milton: A única coisa meio… hoje o presidente me ligou… ele tá com um pressentimento, novamente, que eles podem querer atingi-lo através de mim, sabe? E que eu tenho mandado versículos pra ele, né?
A filha alerta o ex-ministro de que está falando de um celular normal. Milton, então, muda de assunto e responde: “Ah, é? Então depois a gente se fala”.
O delegado responsável pela investigação, Bruno Callandrini, denunciou interferências de superiores para “obstaculizar” a apuração, tirando sua “autonomia investigativa”.
Callandrini falou que “a investigação envolvendo corrupção no MEC foi prejudicada no dia de ontem em razão do tratamento diferenciado concedido pela PF ao investigado Milton Ribeiro”.
A decisão judicial que permitiu a prisão preventiva de Milton Ribeiro determinava sua transferência para o Distrito Federal, mas isso não aconteceu.
“O deslocamento de Milton para a carceragem da PF em SP é demonstração de interferência na condução da investigação, por isso, afirmo não ter autonomia investigativa e administrativa para conduzir o Inquérito Policial deste caso com independência e segurança institucional”, continuou o delegado.
Milton Ribeiro é investigado pelos crimes de corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência. Ele liberava dinheiro do Ministério da Educação apenas para prefeituras que tinham pago propina para dois amigos seus, os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura.
O caso veio à público por conta de uma gravação em que Milton Ribeiro fala que, por um “pedido especial” de Jair Bolsonaro, o dinheiro deveria ser liberado para onde os pastores mandavam.
INTERFERÊNCIA NA PF
O ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, pediu demissão por ter sido pressionado por Jair Bolsonaro para trocar o diretor-geral da PF, que comandava as investigações sobre os crimes de seus filhos.
A pressão foi confirmada pela gravação de uma reunião de Jair Bolsonaro com seus ministros, na qual falou: “Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui! E isso acabou. Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final!”.