
Mais um militar é afastado. Mudança não altera preços abusivos da gasolina e do diesel. Resistência do almirante a uma negociata de R$ 100 bilhões para beneficiar o “rei do gás” estaria por trás do afastamento
A demissão do ministro da Minas e Energia, o almirante Bento Albuquerque, é mais uma cortina de fumaça que Bolsonaro lança para tentar se esquivar da responsabilidade de seu governo pelo descontrole de preços dos combustíveis. Ele afastou um almirante e colocou um assessor de Paulo Guedes, ou seja, colocou um defensor da manutenção da atual política de preços no lugar do almirante.
A troca no comando do Ministério das Minas e Energia, feita nestas circunstâncias, visa apenas manter as aparências e confundir as suas bases, fingindo que ele é contra os aumentos abusivos dos combustíveis. Mas, todas as fontes avaliam que, apesar de muito alinhado a Bolsonaro, Adolfo Sachsida, o substituto de Albuquerque no cargo, não vai fazer alteração alguma na política de preços da Petrobrás.
O governo está inteiramente de acordo com as exigências dos acionistas estrangeiros da Petrobrás e importadores de derivados.
Esse posicionamento já conhecido do novo titular da pasta, contra a alteração da política de Bolsonaro de atrelar os preços internos ao dólar e ao mercado internacional, reforça a suspeita, levantada pelo jornal Estadão e pela colunista da Folha de S. Paulo, Mônica Bergamo, de que a queda de Bento Albuquerque pode estar ligada à sua recusa em levar adiante o projeto bilionário de construir, com recursos públicos, uma rede de gasodutos para a iniciativa privada.
A proposta, patrocinada por setores do centrão, tem um custo de R$ 100 bilhões e é polêmica por beneficiar diretamente Carlos Suarez, ex-sócio da empreiteira OAS e conhecido como o “rei do gás”.
Com as privatizações, o empresário e seus sócios são hoje os únicos donos de autorizações para distribuir gás em oito estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Eles alegam que não têm recursos para investir e querem que o governo construa para eles os gasodutos. Ao que tudo indica, foi a resistência à mais essa falcatrua que motivou a saída do almirante.
O governo Temer e depois Bolsonaro entregaram para empresas privadas estrangeiras a rede de gasodutos da Petrobrás. O Planalto vendeu 90% da Transportadora Associada de Gás (TAG), subsidiária integral da estatal, com aproximadamente 4,5 mil quilômetros de extensão de gasodutos, localizados principalmente nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. A subsidiária é responsável pelo transporte e armazenagem de gás natural por meio de gasodutos, terminais ou embarcações, próprios ou de terceiros.
Com a venda da TAG, a malha de 9.400 Km, termelétricas e terminais de norte a sul do país, construídos pela Petrobrás, ficaram sob controle dos estrangeiros. 90% da rede de gasodutos Sudeste foram entregues a um Fundo de Investimento em Participações (FIP) liderado pela Brookfield Infrastructure Partners (BIP). A Nova Transportadora Sudeste (NTS) escoará o gás produzido no Pré-Sal das Bacias de Campos e Santos.
Com a monopolização do transporte de gás natural pelos estrangeiros, a Petrobrás passou a pagar o preço exigido por eles, assim como a população, a indústria e o comércio. A Aepet (Associação dos Engenheiros da Petrobrás) lembrou os prejuízos causados à estatal quando da venda da malha de gasodutos do Sudeste (NTS), em 2017. Segundo os engenheiros da Petrobrás, o valor apurado de R$ 6,279 bilhões equivalia a apenas 18 meses do que a Petrobrás pagaria de aluguel pelo uso dos gasodutos.
Bolsonaro tem desprestigiado os militares para beneficiar pessoas ainda mais ligadas ao capital estrangeiro e mais propensos às suas falcatruas com o patrimônio público. Além do almirante Bento Albuquerque, o general da reserva Joaquim Silva e Luna foi tirado da presidência da Petrobrás e o também almirante e ex-comandante da Marinha Eduardo Bacellar saiu da chefia do conselho de administração da estatal. Já haviam saído do governo o general Santos Cruz, o general Fernando Azevedo, e general Juarez Cunha e outros. Todos insatisfeitos com os rumos do governo.
Formado em Direito com mestrado e doutorado em economia pela Universidade de Brasília (UnB), o novo ministro apresenta formação voltada especialmente para o mercado. É especialista em macroeconomia, com ênfase em modelos econométricos — área voltada para o estudo de tendências econômicas futuras. Na área acadêmica, também realizou pós-doutorado na University of Alabama, nos Estados Unidos.