Requerimento foi apresentado no colegiado pela deputada Jandira Feghali (RJ), líder do PCdoB na Câmara. “Ex-faz-tudo” de Bolsonaro depositava na conta da ex-primeira dama recursos públicos e também fazia pagamentos em dinheiro de despesas de parentes de Michelle Bolsonaro
Com a retomada dos trabalhos da Comissão Parlamentar Mista de Investigação (CPMI), em agosto, que apura os atos golpistas de 8 de janeiro, a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro pode ser convocada a depor no colegiado do Congresso Nacional.
A deputada federal Jandira Feghali (RJ), líder da bancada do PCdoB na Câmara, protocolou requerimento para que Michelle seja ouvida pela CPI do Golpe, cujos trabalhos serão retomados com o fim do recesso parlamentar.
A justificativa da deputada é de que a quebra do sigilo telemático do ex-ajudante de ordem — o “ex-faz-tudo” — do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Mauro Cid, revelou comprovantes de depósitos em dinheiro vivo feitos por ele na conta de Michelle, entre março e agosto de 2021, além de solicitações de saques em dinheiro vivo entre março e outubro do mesmo ano.
Jandira Feghali pediu, ainda, a convocação do ex-coordenador administrativo da Ajudância de Ordens da Presidência, Osmar Crivelatti, que integrava a equipe de Mauro Cid, e, após o fim do mandato de Bolsonaro, foi nomeado assessor pessoal do ex-chefe do Executivo.
DOCUMENTOS SIGILOSOS E FORÇA-TAREFA
Além das 3.500 páginas de documentos sigilosos solicitados pelos parlamentares aos órgãos competentes, a CPMI recebeu, no recesso do Congresso, 39 vídeos do MPM (Ministério Público Militar) e 35 horas de gravação das câmeras do STF (Supremo Tribunal Federal), um dos principais alvos dos ataques golpistas bolsonaristas no 8 de janeiro, na Praça dos Três Poderes.
Para dar conta do material, o colegiado vai fazer força-tarefa com servidores cedidos por PF (Polícia Federal), CGU (Controladoria-Geral da União), Banco Central e Receita Federal.
TRANSAÇÕES MILIONÁRIAS DE CID
O “ex-faz-tudo” de Bolsonaro entrou de vez na mira da CPMI. O colegiado deve analisar, na próxima semana, relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), que mostra movimentações suspeitas de R$ 3,2 milhões nas contas dele, que está preso desde do dia 3 de maio
As transações foram feitas em período de 7 meses, de julho de 2022 a janeiro de 2023.
As informações foram enviadas para a CPMI, que retomará as atividades na próxima terça-feira (1º), com a oitiva do ex-diretor-adjunto da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Saulo Moura da Cunha.
Os relatórios do Coaf foram enviados à CPMI após requerimento do senador Jorge Kajuru (PSB-GO). O parlamentar explicou que o objetivo é verificar eventual participação financeira de Cid nos atos golpistas e se recursos internacionais também foram mobilizados. Aguarda votação, ainda, outro requerimento do senador para convocar o irmão do ex-ajudante, Daniel Barbosa Cid, que mora na Califórnia, Estados Unidos.
LAVAGEM DE DINHEIRO E OCULTAÇÃO DE PATRIMÔNIO
Consta do relatório do Coaf que Cid movimentou R$ 1,4 milhão em débitos e R$ 1,8 milhão em créditos entre 26 de julho de 2022 e 25 de janeiro de 2023. O valor é incompatível com o salário bruto do militar, de R$ 26.239,00.
Cid também fez remessa “atípica” aos Estados Unidos, de R$ 367.374,00, em 12 de janeiro deste ano, quando tanto ele quanto Bolsonaro estavam em solo norte-americano.
Para o Coaf, as movimentações trazem indícios de lavagem de dinheiro e tentativa de ocultação de patrimônio.
O relatório do Coaf deu destaque às transferências feitas pelo sargento Luiz Marcos dos Reis, no valor de R$ 70 mil, no segundo semestre de 2022. O militar também é da confiança de Bolsonaro e atuou no gabinete do ex-presidente.
Ele é investigado pela PF por serviços prestados à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Ainda há transações com “ourives”, “caixeiro-viajante” e tio da mulher de Cid, Gabriela Santiago, mas não existem investigações mirando essas pessoas.
M. V.