João Goulart Filho, candidato a presidente pelo Partido Pátria Livre (PPL), criticou duramente, nesta terça-feira, as palavras do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Tofolli, que manifestou preferência por caracterizar a destituição do presidente João Goulart, em 1964, como um simples “movimento” e não como um “golpe de Estado”. A cobrança de Goulart ocorreu em entrevista ao programa Radar Paulista da Rádio Trianon, em São Paulo.
“Esse posicionamento do presidente do STF é inacreditável”, disse Jango Filho. “Um presidente constitucional foi derrubado e perseguido com tanques nas ruas, tendo sido declarada a sua vacância, numa sessão ilegal do Congresso, com o presidente dentro do território nacional, e Toffoli diz que não houve golpe. Centenas, senão milhares, de pessoas foram perseguidas, torturadas, exiladas, muitas delas foram mortas, e o ministro diz um absurdo desses. A quem ele está querendo agradar?”, indagou João Goulart Filho.
O ministro Dias Toffoli mostrou todo o seu servilismo durante o seminário sobre os 30 anos da Constituição Federal, realizado pela Faculdade de Direito da USP. “Tanto a esquerda quanto a direita deixaram de fazer autocrítica naquele período e apenas culparam os militares, cujo erro foi apenas o de permanecerem no poder”, sentenciou o ex-advogado do PT. Depois de mostrar sua ausência de vértebra e mergulhar ainda mais fundo em sua tortuosa trajetória, Toffoli se arvorou a dar lição de moral aos partidos políticos.
Criticou a “ausência de ideologia dos partidos políticos brasileiros” afirmando, a uma semana das eleições gerais, que não viu “nenhum programa ou projeto nacional”. Ele disse ainda que os partidos estão “órfãos de posicionamento político”. O ministro deve achar que ter posição é se render ao arbítrio, desrespeitar o passado de várias personalidades, inclusive do ex-presidente Jango, único presidente constitucional morto no exílio, e bajular os atuais defensores do arbítrio.
“O ministro Dias Toffoli devia se envergonhar do que está dizendo”, ponderou o presidenciável Goulart. “O que diriam seus colegas e membros do STF à época, Victor Nunes Leal, Hermes Lima e Evandro Lins e Silva, todos cassados pela ditadura?”, questionou Goulart. “Certamente eles ficariam envergonhados com esse comportamento do ministro”, sentenciou.
João Goulart falou também sobre os 30 anos da Constituição de 1988. Ele destacou que, além de ter sido mutilada nos últimos anos pelos governos do PSDB, PMDB e PT, “ela agora está sofrendo ameaças de retrocessos por parte de certos candidatos”. “O que pretendemos mesmo é que o país volte a ser regido pelas normas da Constituição Cidadã de 1988”, disse Goulart, ao defender mais avanços para a Previdência Social.
“Vamos revogar todas as emendas e leis previdenciárias de FHC, Lula, Dilma e Temer e formalizar em lei a participação da Confederação Brasileira dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (COBAP) nas negociações sobre o valor das aposentadorias e pensões”, prometeu. “Nosso objetivo é ampliar os direitos dos trabalhadores e não reduzi-los como estão propondo esses candidatos”, observou João Goulart.
Durante a entrevista, o presidenciável criticou também o fato da campanha de Jair Bolsonaro (PSL) tentar pautar cortes de direitos, como o décimo terceiro e férias remuneradas. “Esses são direitos conquistados há muito tempo e com muita luta”, disse o candidato. “Nós não aceitamos que essas conquistas sejam atacadas insistentemente por estes elementos”, atacou, numa referência ao vice da chapa de Bolsonaro, general Mourão. “Elas foram obtidas no governo João Goulart. Naquela época, em 1962, eles também diziam que se tivesse décimo terceiro, o país quebraria. Nada disso aconteceu. Pelo contrário, as vendas de fim de ano se ampliaram com o adicional e a economia cresceu”, lembrou João Goulart.
SÉRGIO CRUZ