O ministro da Defesa japonês, Taro Kono, disse a repórteres na quarta-feira (18) que não viu nenhum dado da inteligência que indicasse que o Irã estava por trás dos ataques às instalações de petróleo da Arábia Saudita no fim de semana, contradizendo as alegações do governo saudita e do secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, sobre o incidente.
“Não temos conhecimento de nenhuma informação que aponte para o Irã”, declarou Kono durante uma coletiva de imprensa. “Acreditamos que os houthis realizaram o ataque com base na declaração de responsabilidade”.
A única evidência que o governo Trump divulgou para fundamentar sua reivindicação de responsabilidade iraniana são as fotos de satélite que os especialistas disseram não serem claras o suficiente para atribuir a culpa.
O general da reserva Mark Hertling, analista de inteligência da CNN, disse que as imagens “realmente não mostram nada, a não ser uma boa precisão na batida dos tanques de petróleo”.
Kono disse que o Japão, um aliado do Irã e dos EUA, ainda está no processo de determinar quem estava por trás dos ataques, que teriam sido realizados por drones.
“Dados os fortes laços do Japão com os EUA com base na Aliança EUA-Japão e a relação de confiança que o Japão mantém com vários países do Oriente Médio, o Japão está em posição de desempenhar um papel de mediador”, disse Kono. Recentemente, o primeiro-ministro Shinzo Abe visitou o Irã.
A declaração do ministro da Defesa é a segunda vez este ano que o Japão entra em choque com a tentativa do governo Trump de atribuir ao Irã um ataque com evidências insuficientes. Em junho, o governo Trump culpou o Irã por uma explosão que danificou um petroleiro japonês no Golfo de Omã. Yutaka Katada, presidente da empresa japonesa proprietária do navio-tanque, contestou publicamente o relato da Casa Branca.
FRANÇA QUESTIONA VERSÃO SAUDITA-AMERICANA
Também o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, questionou as alegações sauditas e norte-americanas sobre o ataque às duas refinarias da Aramco.
“Até agora, a França não tem provas que permitam dizer que esses drones vieram de um lugar ou de outro, e eu não sei se alguém tem provas”, afirmou Le Drian. “Precisamos de uma estratégia de redução da escalada na área, e qualquer medida que contrarie essa redução seria uma medida ruim para a situação na região”.
Ao ser recebido em Riad na quarta-feira, Pompeo chegou a chamar o ataque às refinarias – que interrompeu metade da capacidade de processamento de petróleo saudita – de “ato de guerra”. Parte da produção de Abqaiq já foi retomada, e os sauditas dizem que até o final do mês os reparos estariam prontos. Porta-voz militar saudita asseverou que o ataque veio do “norte” e não do Iêmen, e que incluiu 18 drones e 7 mísseis de cruzeiro.
Anteriormente, Rússia, China e a ONU haviam advertido contra ‘conclusões’ sem provas e sem investigação, e conclamado pela imediata desescalada nas tensões no Golfo Pérsico. O Irã rechaçou as acusações e reiterou que é direito recíproco do Iêmen, que vem sendo bombardeado e massacrado pelas forças sauditas, reagir e se defender. O ataque ocorreu no sábado passado, provocando aumento no preço do petróleo.