A comunidade japonesa no Brasil condenou o racismo de Jair Bolsonaro, ao atacar a jornalista Thaís Oyama que escreveu um livro sobre os bastidores do seu governo em 2019.
“Esse é o livro dessa japonesa, que eu não sei o que faz no Brasil, que faz agora contra o governo. Lá no Japão ela ia morrer de fome com jornalismo, escrevendo livro”, disse Jair Bolsonaro sobre o livro “Tormenta”, escrito pela jornalista nascida no Brasil, Thaís Oyama, que foi lançado há uma semana.
No livro, entre outras coisas, Thaís revela que foi Jair Bolsonaro quem orientou Fabrício Queiroz, assessor do seu filho Flávio, que operava o esquema de arrecadação de dinheiro de funcionários no seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), a faltar nos depoimentos marcados pelo Ministério Público do Rio (MP-RJ).
Questionado pela primeira vez sobre o episódio, Bolsonaro encerrou a entrevista e saiu sem responder. Agora, decidiu ofender a autora do livro e a comunidade japonesa no Brasil.
Thaís, que é neta de japoneses, mas nasceu em Mogi das Cruzes (SP), disse que “se a tentativa foi desqualificar o livro, a afirmação mostrou que ele não tinha nenhum bom argumento para criticá-lo”.
“Me entristeceu saber que alguns nikkeis [japoneses e descendentes que moram fora do Japão] se sentiram ofendidos”, declarou.
O jornal Nipakk, que tem como público japoneses e descendentes que moram no Brasil, colocou como manchete: “Nikkeis se manifestam contra fala do presidente”.
O jurista Kiyoshi Harada declarou, em artigo para o Nipakk, que a fala de Jair “ofende toda a comunidade nipo-brasileira que vem atuando com zelo e competência em todos os setores da atividade humana, dando a sua contribuição para o desenvolvimento e fortalecimento da inteligência nacional”.
O escritor André Kondo disse, também em artigo para o jornal, que tem “certeza de que, para muitos, assim como eu, ser chamado de japonês é um enorme elogio. A ofensa está na segunda parte, no questionamento de um direito de ser brasileiro como qualquer outro, de amar esse país como a maioria de nós ama”.
Bolsonaro já tinha mostrado seu racismo contra os japoneses e seus descendentes outras vezes. Quando um asiático pediu para tirar foto com ele em Manaus (AM), fez um sinal com os dedos e perguntou se estava “tudo pequenininho aí?”.
Na época, Raul Takaki, diretor do jornal Nikkei Shibum, que é escrito em japonês e circula em São Paulo, disse que se a fala de bolsonaro “foi por relação a órgão sexual, foi infeliz essa colocação. É muito revoltante. Vindo de um presidente, é muito condenável. A gente não deve ficar inerte a esse tipo de comentário”.
Falando sobre a reforma da Previdência, disse que se fosse “uma reforma de japonês, ele [Paulo Guedes, ministro da Economia] vai embora. Lá tudo é miniatura”.
Quando anunciou, durante live para seus seguidores do Facebook, uma viagem para o oriente, puxou os olhos e disse que dessa forma ficaria igual à multidão.
Durante o banquete do novo imperador japonês, Naruhito, Bolsonaro se recusou a comer a comida tradicional que foi servida, baseada em peixes e frutos do mar, e disse que “peixe, só se for frito”. Levou, do Brasil, miojo sabor calabresa.
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