Parlamentares ridicularizaram a versão do militar. Conversas interceptadas pela Polícia Federal comprovam que a cúpula das FFAA impediu a ruptura democrática defendida pelo depoente
O coronel golpista do Exército Jean Lawand Júnior mentiu nesta terça-feira (27) em sessão da CPMI do Golpe. Ele gerou indignação entre os parlamentares da comissão ao inventar uma história completamente inverossímel para suas mensagens ao ajudante de ordem de Bolsonaro, Mauro Cid, pregando o golpe.
Nem os bolsonaristas como um todo conseguiram sustentar a história arranjada pelo coronel golpista. A troca de opiniões entre ele e o “faz-tudo” de Bolsonaro falaram por si mesma. Só os mais empedernidos, tipo pastor Feliciano, tentaram, nesta primeira etapa da sessão, livrar a cara do militar golpista.
Nas mensagens interceptadas pela Polícia Federal, Lawand propôs a Mauro Cid, ainda em 2022, que Bolsonaro atuasse para que as Forças Armadas impedissem a posse de Lula. No entanto, à CPI, ele negou ter proposto golpe e alegou que queria apenas uma declaração do ex-presidente para “apaziguar” o país.
A versão fantasiosa de Lawand acabou, segundo alertaram alguns parlamentares, comprometendo o próprio Bolsonaro. A versão do coronel é que ele queria apaziguar o país mas Bolsonaro teria se recusado a agir para “apaziguar” o país. Ou seja, por esta versão, Bolsonaro queria o golpe.
A relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), alertou o depoente de que ele estava se complicando ao mentir diante da CPMI. A senadora o advertiu de que o militar poderia, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), ficar em silêncio, mas não poderia mentir à CPMI. Ela apresentou todos os diálogos que foram obtidos pela Polícia Federal e deixou claro que o depoente defendeu o golpe.
O deputado Rubem Júnior (PT-AM) alertou o depoente de que os bolsonaristas iriam usar a CPMI abandoná-lo para tentar livrar Bolsonaro. “Eles vão jogar a culpa toda nas suas costas”, advertiu o parlamentar maranhense. O alerta foi confirmado. O deputado bolsonarista Felipe Barros (PL-SP) afirmou que as conversas interceptadas provam que Bolsonaro não participou do golpe proposto pelo depoente. Ou seja, deixaram o coronel golpista na chuva.
“Pelo amor de Deus, Cidão. Pelo amor de Deus, faz alguma coisa, cara. Convence ele a fazer. Ele não pode recuar agora. Ele não tem nada a perder. Ele vai ser preso. O presidente vai ser preso. E, pior, na Papuda, cara”
Fala do depoente com Mauro Cid
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) denunciou que Jean Lawand contou na CPMI uma história completamente diferente da que está registrada nas trocas de mensagens com o ajudante de ordens de Bolsonaro. “A testemunha tem o direito de ficar calada, mas não de mentir! E a verdade é uma só: Lawand conspirou com Cid por um golpe de estado, um golpe que só não deu certo porque uma frente ampla democrática não permitiu! Mas tentaram, e agora precisam pagar por isso, por mais que tentem negar os fatos”, disse a deputada.
Em diversos momentos o depoente tentou se associar às narrativas de alguns bolsonaristas que tentaram negar a sanha golpista com o argumento arranjado de última hora de que não houve armas. Só não houve um golpe armado, argumentou o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), porque a cúpula das Forças Armadas não embarcou na trama e impediu que Bolsonaro consumasse o golpe de Estado.
“Cid pelo amor de Deus, o homem tem que dar a ordem. Se a cúpula do EB [Exército Brasileiro] não está com ele, de Divisão pra baixo está”.
Fala do depoente com Mauro Cid
Confrontado com algumas de suas conversas com Mauro Cid, como, por exemplo, a de que ele chamou os vencedores das eleições de bandidos, o coronel não teve como explicar. Na fala ele diz: “Soube agora que não vai sair nada. Decepção irmão. Entregamos o país aos bandidos”, disse o coronel golpista.
Ao ser perguntado quem eram os bandidos, ele respondeu: “Esta colocação minha, eu fui muito infeliz”.
“Sou um simples coronel conversando num grupo de WhatsApp com um amigo. Não tinha comandamento, não tinha condições, não tinha motivação para qualquer tipo de golpe. Essa observação minha foi muito infeliz porque eu não tenho contato com ninguém do alto comando. Então, fui infeliz, me arrependo”, afirmou Lawand à CPI.
“Soube agora que não vai sair nada. Decepção irmão. Entregamos o país aos bandidos”. Cid respondeu: “Infelizmente”.
Fala do depoente com Mauro Cid
O deputado bolsonaristas André Fernandes (PL-CE) resolveu atacar a Polícia Federal pelos “vazamentos” das conversas criminosas que desvendaram a trama golpista de Bolsonaro. Ele defendeu que quem tem que ser investigado e punido são os militares do Exército e não Jair Bolsonaro.
O seguidor de Bolsonaro acusou o país de estar num estado de exceção pelas prisões dos golpistas que depredaram as sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro.
Nas mensagens, Lawand propôs a Mauro Cid, ainda em 2022, que Bolsonaro desse o golpe e impedisse a posse de Lula na Presidência.
Fica claro nessas conversas que as Forças Armadas não apoiaram a intentona golpista de Bolsonaro e, por isso, fracassou a tentativa de romper as instituições da República.
Nas conversas, não há dúvidas de que Bolsonaro queria o golpe, mas, segundo o próprio Mauro Cid, ele não confiava na cúpula das Forças Armadas. Não há nenhuma dúvida que a PF flagrou toda a trama.
“Pelo amor de Deus, Cidão. Pelo amor de Deus, faz alguma coisa, cara. Convence ele a fazer. Ele não pode recuar agora. Ele não tem nada a perder. Ele vai ser preso. O presidente vai ser preso. E, pior, na Papuda, cara”, afirmou Lawand Júnior em um áudio a Cid, em 1º de dezembro de 2022.
Em outra mensagem, em 10 de dezembro do ano passado, Lawand enviou outra mensagem: “Cid pelo amor de Deus, o homem tem que dar a ordem. Se a cúpula do EB [Exército Brasileiro] não está com ele, de Divisão pra baixo está”.
A última troca de mensagens entre os dois ocorreu no dia 21 de dezembro de 2022. Jean Lawand Júnior escreveu: “Soube agora que não vai sair nada. Decepção irmão. Entregamos o país aos bandidos”. Cid respondeu: “Infelizmente”.