
JEFFERSON MOURA*
Caminhei pelas ruas do Rio, em meio a centenas de milhares de jovens, de educadores, pesquisadores, de mulheres e homens responsáveis por lutar dia a dia, enfrentando enormes dificuldades para garantir a pesquisa, a extensão, para garantir a educação em nosso país.
Todos os que estiveram nas ruas sentiram a força, a energia desafiadora de quem teima em sonhar com um Brasil próspero, desenvolvido, mais justo e fraterno. Foi uma mistura de sentimentos, e a certeza do desejo de resistir, do desejo de lutar juntos, uma unidade concreta, na luta concreta! Vimos nas ruas uma dinâmica diametralmente oposta ao que vêm praticando as forças de esquerda e democráticas brasileiras, quando divididas antecipam a disputa do que ainda não se conquistou.
Nas ruas, os comentários sobre a semelhança com o início de 2013, com o fora Collor e com a luta pelas diretas. Eram pais e filhos, que poderão de novo dar as mãos para caminhar em defesa da educação e contra a reforma que acaba com o sistema da previdência brasileira. Havia nas ruas de nossa cidade, nas ruas do Brasil um encontro de gerações e uma mistura de todos esses processos. Creio, que das experiências acumuladas nos últimos anos vivenciamos dia 15 um vislumbre de algo potencialmente novo.
Nas ruas, bandeiras de todas as cores, o verde da bandeira brasileira, ao lado do azul da UNE, cartazes de todo o tipo, faixas e também bandeiras vermelhas e suas multiplicidades históricas. Não colou a tentativa de vincular as manifestações ao PT, ou a um terceiro turno das eleições, pois elas não eram isto. Erram os que imaginam poder canalizar, desde já, este processo diretamente para às eleições de 2020 ou 2022. Estamos diante da história em movimento, e ela não se repete a não ser como farsa ou tragédia.
As ruas sinalizaram democracia, e unidade de ação na luta concreta, as organizações políticas de esquerda precisam abrir os ouvidos. É necessário ouvir, com vontade de escutar, somente a partir da unidade concreta na luta, poderá se forjar as bases para uma ampla unidade política capaz de apresentar um projeto econômico virtuoso, que gere emprego, que seja sustentável ambientalmente, que canalize o fundo público para enfrentar a questão social, e por suposto que se contraponha ao capital financeiro e a subserviência aos interesses norte americanos. Colocar a disputa eleitoral à frente das lutas nos divide e nos enfraquece.
O 15M deu o seu recado, muito irá acontecer nos próximos dias e meses no Brasil, lutando para superar as diferenças precisamos construir e ampliar com generosidade um arco de alianças políticas, sociais e eleitorais para além dos partidos, precisamos de um Movimento de Unidade capaz de resgatar uma agenda para a construção de uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária no Rio e no Brasil. Sigamos nas ruas e refletindo!
* Sociólogo, ex-vereador do Rio de Janeiro, membro do PC do B