Em Convenção Nacional, o Partido Pátria Livre (PPL) lançou no domingo (5) o ex-deputado João Goulart Filho como candidato à Presidência da República. Compõe a chapa como candidato a vice o professor da Universidade Católica de Brasília, Léo da Silva Alves. O candidato é filho do ex-presidente João Goulart, o Jango, que teve o mandato presidencial interrompido em 1964 pelo golpe pró-imperialista, que se instalou no país naquele ano. É a primeira vez que João Goulart Filho concorre ao cargo e que o PPL lança um candidato a presidente.
Segundo Goulart Filho, sua principal proposta é enfrentar a crise que está atormentando a vida dos brasileiros. Na opinião dele, esta crise foi provocada pela insistência dos últimos governos em aplicar uma política neoliberal que concentra violentamente a renda no rentismo em detrimento da produção e das necessidades da sociedade. “Nossa proposta é elevar o poder de compra dos salários. A ideia é dobrar o salário mínimo em quatro anos”, afirmou João Goulart. “Com isso, as empresas, que estão com capacidade ociosa, começam a vender e a produzir mais. O resultado será a retomada das contratações e a redução do desemprego”, acrescentou o candidato.
João Goulart defendeu a retomada do nacionalismo e do desenvolvimentismo. “Nós tivemos um processo interrompido em 1964 em que as propostas tanto do trabalhismo como do nacionalismo brasileiro vinham sendo desenvolvidas. Nós estamos resgatando esse processo e temos a obrigação de resgatar a proposta daquele momento”, disse. “Precisamos enfrentar o desemprego que assola 13 milhões de pessoas e, se computarmos os subempregados, esse número chega a 27 milhões de pessoas. Nosso plano é criar 20 milhões de empregos em quatro anos”, destacou o candidato.
Entre as propostas citadas pelo candidato está a redução drástica dos juros da dívida pública para dar condições ao Estado de investir no desenvolvimento social. “Assim, evidentemente, nós vamos ter recursos para saúde pública, educação e segurança, que são áreas extremamente sensíveis”. Goulart destacou ainda o resgate da soberania, o controle das remessas de lucros das empresas estrangeiras e a revisão do conceito de segurança nacional. “Não podemos mais entregar nosso patrimônio, nosso subsolo, nossas faculdades, nossa educação, petróleo e geração elétrica para empresas multinacionais”. Ele propõe abrir um diálogo com a sociedade para debater a reforma agrária, urbana, tributária e educacional. “Precisamos de uma mudança radical no país”, afirmou Goulart.
O presidenciável do PPL é filósofo, escritor, fundador do Instituto João Goulart – dedicado à pesquisa histórica e à reflexão sobre o processo político brasileiro – e autor de “Jango e Eu: Memórias de um exílio sem volta”, indicado ao Prêmio Jabuti. É casado com Verônica Fialho Goulart e pai de seis filhos. Ele já foi deputado estadual, Secretário de Agricultura do Estado do Rio de Janeiro, no governo de seu tio, Leonel Brizola, e presidente do Banco da Terra na mesma administração. Verônica Goulart, esposa do candidato, fez um vibrante discurso dizendo que se emocionou ao ver a plateia cantando o hino nacional. “Eu vi aqui o rosto dos brasileiros e vi também uma grande disposição de luta”, afirmou.
O presidente do PPL, Sérgio Rubens Torres, iniciou os trabalhos da convenção analisando a crise brasileira e dizendo que o Brasil tem todas as condições de superá-la. “Precisamos inverter a lógica da concentração da renda. Eles dizem que tem que concentrar para depois crescer, mas não é verdade. O país só cresce se distribuir a renda. É com o aumento da renda que a economia avança, que o mercado interno se amplia. Por isso a proposta do nosso candidato de dobrar o salário mínimo em quatro anos é correta”, disse ele. Sérgio Rubens lembrou que o salário mínimo brasileiro é um dos menores do mundo. “Ao mesmo tempo que os salários são o mais baixos do mundo, os bancos brasileiros têm a maior rentabilidade entre os maiores bancos do planeta”, denunciou. “Isso é fruto das maiores taxas de juros reais do mundo que o país vem tendo nos últimos anos”, destacou o dirigente partidário.
Diversos líderes sindicais, da juventude, das mulheres e representantes dos movimentos sociais prestigiaram a convenção do PPL. Delegados e convencionais de todo país votaram por aclamação a indicação de João Goulart Filho para presidente e Léo da Silva Alves para vice.
Léo Alves foi procurador federal e consultor do Congresso Nacional. Atualmente, é professor da Universidade Católica de Brasília, professor-visitante de escolas de Governo, Escolas de Magistratura, Escolas de Contas e Academias de Polícia em 21 Estados. Casado com Ana Cácia Freire da Silva Alves, é autor de 45 livros, conferencista com trabalhos na América do Sul, Europa e África. “Nós vamos construir um túnel para comunicar a esperança com o povo brasileiro que está separado dela por uma montanha de mentiras e de políticos corruptos”, disse Léo Alves, em seu discurso na convenção.
O ex-deputado constituinte, Uldurico Pinto (PPL-BA), disse que o governo de João Goulart deve dar prioridade total às crianças. Ele lembrou que, durante a Assembleia Nacional Constituinte de 1988, um grupo de parlamentares conseguiu derrotar o chamado centrão e aprovar propostas à favor do povo. Uma dessas propostas, disse ele, foi a prioridade às crianças. “As crianças têm que ter direito à saúde, à educação, o lazer, etc. Esse deve ser o nosso grande objetivo”, observou.
Outro ex-constituinte, Vasco Alves, do Espírito Santo, candidato a deputado federal, destacou as obras de João Goulart em seu estado. Ele citou a Siderúrgica de Tubarão como uma obra idealizada durante o governo Jango. Vasco disse que teve a honra de votar em Jango, que era vice do Marechal Lott, na eleição de 1960.
O candidato a deputado estadual pelo Rio de Janeiro pelo PPL, Brizola Neto, fez um contundente pronunciamento em defesa da economia nacional. “Nossas indústrias estão sendo destruídas até em setores que nós dominávamos o mercado, como o setor calçadista”, denunciou. “Nós somos o maior produtor de couro do mundo e estão destruindo esse setor que não passa de uma indústria de costurar couro”, disse ele. Ele lembrou que a indústria farmacêutica que tinha muitas empresas no Rio de Janeiro, também está sendo desmantelada pela ação dos monopólios internacionais do setor.
Marcelo Monteiro, membro da direção nacional do Partido Pátria Livre, afirmou que as propostas de reformas apresentadas pelo partido têm relação com a luta contra o racismo. “A luta contra a reforma trabalhista é uma luta contra o racismo. A luta contra o desemprego e o arrocho salarial é uma luta contra o racismo”, disse ele. O ex-secretário de Saúde de Brizola, Eduardo Costa, avaliou que a situação do país é muito grave. “Famílias inteiras estão nas ruas pedindo comida”, denunciou.
A direção do PPL afirmou que João Goulart Filho representa a melhor proposta porque “condensa a luta histórica do povo brasileiro, algo premente na situação atual de nosso país, exausto devido a uma política insana de destruição nacional, que conduziu ao desemprego de milhões de brasileiros; ao fechamento de milhares de empresas nacionais; ao malbaratamento dos bens públicos – e à corrupção absolutamente alucinada e sem peias, exposta vergonhosamente à Nação nos últimos anos”.
SÉRGIO CRUZ
A grande concentração de riqueza no Brasil está na empresa, a empresa intermedeia o pagamento de tributos e salários realizadas pelos consumidores. Para acabar com esta concentração de riquezas, é preciso isentar todas as empresas e tributar e pagar salários com base no consumo anual da pessoa física. É preciso uma mudança radical, assim não dá…
Os lucros e dividendos já são isentos de imposto, assim como os ganhos especulativos do dinheiro estrangeiro. Além disso, por que você acha que os assalariados só devem receber aquilo que corresponde ao seu consumo passado? Nunca foi assim nas melhores épocas do Brasil, pela simples razão de que o país não avança com salários de escravos (com perdão pelo oxímoro).