Marcelo da Silva Vieira era o responsável por fazer a seleção daquilo que seria incorporado ao patrimônio público brasileiro e o que seria do acervo pessoal do então presidente da República
A patranha das joias sauditas continua rendendo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A Polícia Federal cumpriu nesta sexta-feira (12) um mandado de busca e apreensão na casa de Marcelo da Silva Vieira, responsável pela classificação de presentes recebidos por Jair Bolsonaro (PL).
Na busca, os policiais apreenderam o celular de Vieira para investigar conversas dele com o coronel Mauro Cid, ex-braço direito de Bolsonaro que esteve à frente das tentativas do ex-presidente de recuperar as joias de R$ 16,5 milhões enviadas pela Arábia Saudita9. Foram cerca de 8 tentativas de reaver os valiosos objetos.
O pacote de joias ficou retido no aeroporto de Guarulhos por determinação da Receita Federal, que flagrou os bens escondidos numa mochila de um ex-assessor do então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. O ex-ministro foi quem trouxe as joias em sua viagem à Arábia Saudita em 2021.
No cargo de chefe do gabinete adjunto de Documentação Histórica da Presidência da República, Marcelo Vieira era o responsável por fazer a seleção daquilo que seria incorporado ao patrimônio público brasileiro e o que seria do acervo pessoal do presidente da República.
Os policiais, nesse mandado de busca e apreensão, também procuraram documentos para saber como foi o trâmite no qual as joias entregues pelo governo da Arábia Saudita acabaram incorporadas ao acervo pessoal do ex-presidente Bolsonaro.
DEPOIMENTO À PF
Em depoimento à PF em abril, Vieira tinha afirmado que Bolsonaro participou de telefonema sobre ofício feito pelo braço direito, o tenente-coronel Mauro Cid, para tentar resgatar as joias sauditas apreendidas pela Receita Federal no Aeroporto de Guarulhos.
Vieira, ao depor, tinha prometido entregar o celular para a perícia e só não deixou o aparelho no dia porque “estava atrasado” e iria “pegar um voo”. A PF aceitou. O servidor acabou mudando de ideia e não apresentou o telefone até agora.
A PF, então, pediu a apreensão do celular. A Justiça de Guarulhos negou, mas, em recurso, o TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região) autorizou e expediu o mandado.
O ex-presidente Jair Bolsonaro disse, em depoimento prestado dia 5 de abril à PF, que nunca conversou com Marcelo da Silva Vieira e não sabe o motivo do envolvimento dele no caso.
TRÊS CAIXAS
A Bolsonaro foram enviadas três caixas de joias pelo governo saudita. A primeira, com colar de diamantes, avaliada em R$ 16,5 milhões, acabou apreendida pela Receita Federal em outubro de 2021. Bolsonaro mobilizou desesperadamente seu entorno para se apossar dessa caixa apreendida no aeroporto de Guarulhos.
O tenente-coronel Mauro Cid é personagem central do escândalo das joias. Foi ele que determinou que um sargento da Marinha, Jairo Moreira da Silva, fosse à alfândega de Guarulhos pegar os bens preciosos em dezembro de 2022, no apagar das luzes do governo Bolsonaro.
A outra caixa escapou da fiscalização da Receita e foi parar nas mãos de Bolsonaro. Tinha jogo de relógio, anel e abotoaduras.
A terceira caixa havia sido recebida pelo próprio Bolsonaro quando visitou aquele País em 2019. O ex-presidente só admitiu estar com as joias depois que a existência dessas foi noticiada pela Estadão.
As duas caixas – que estavam em poder do então presidente – tinham sido guardadas numa fazenda do ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet em Brasília. Foi para lá que Bolsonaro despachou caixas com presentes que julgou ser parte do patrimônio pessoal dele.
ENTENDIMENTO DO TCU
O TCU (Tribunal de Contas da União) tem entendimento diferente. Considera que as peças são presentes ofertados pelo regime da Arábia Saudita ao representante do governo brasileiro e fazem parte do acervo público da Presidência da República.
Não podem ser vendidas, nem ficar para uso pessoal do ex-presidente. O TCU mandou Bolsonaro devolver todas as caixas que estavam em poder dele. A terceira caixa foi entregue na véspera do depoimento, que foi dado à PF, em 5 de abril.
M. V.