“Criminoso!”, disse ao Secretário de Estado Antony Blinken, o jornalista Sam Husseini quando os seguranças o retiravam à força da sala
O jornalista estadunidense Sam Husseini, de origem palestina, foi retirado à força de uma coletiva de imprensa realizada pelo secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, na quinta-feira (16) após questionar o ministro sobre a guerra em Gaza e mencionar investigações da Anistia Internacional, provocando uma reação imediata dos seguranças, arautos da “liberdade de imprensa” no país.
A situação começou quando Husseini afirmou que o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, havia lhe comunicado que o secretário não responderia às suas perguntas.
Durante sua intervenção, Husseini mencionou a investigação da Anistia Internacional, que concluiu em dezembro que Israel cometeu genocídio contra palestinos em Gaza. Ele também perguntou: “Você sabe sobre a Hannibal Directive?”.
O vídeo mostra Blinken pedindo a Husseini para “respeitar o processo” enquanto policiais agarravam seus braços, o levantando da cadeira. O jornalista resistiu segurando a mesa, onde estavam seu computador portátil, caderno, telefone e outros objetos.
A Hannibal Directive é uma diretriz militar das Forças de Defesa de Israel (IDF), com o objetivo de prevenir a captura de soldados israelenses por forças adversárias a qualquer custo, incluindo ações que poderiam colocar a vida do próprio soldado em risco.
O nome faz alusão ao general cartaginês Aníbal Barca, conhecido por adotar estratégias implacáveis. A política teria sido implementada por Tel Aviv nos anos 1980. Embora nunca tenha sido oficialmente confirmada ou escrita como um protocolo formal, a diretriz é frequentemente mencionada em discussões sobre as ações da IDF em situações de combate e sequestros. Críticos alegam que a Hannibal Directive pode levar a situações onde forças israelenses realizam bombardeios ou operações agressivas, mesmo com o risco de atingir seus próprios soldados, para evitar que caiam vivos nas mãos do inimigo.
Em resposta, Husseini afirmou: “Respeite o processo? Todo mundo, da Anistia Internacional à CIJ [Corte Internacional de Justiça] falando que Israel está cometendo genocídio e extermínio, e você está me dizendo para respeitar o processo? Criminoso! Por que vocês não estão em Haia?”. Enquanto era retirado, ele ainda exclamou: “Tire suas mãos de mim”.
Mais tarde, após o incidente, Husseini postou no X que havia sido “severamente maltratado” por tentar fazer perguntas sérias que o Departamento de Estado preferia não responder. “Tentei fazer uma série de perguntas. Eles me tiraram fora e me algemaram. Uso totalmente excessivo de força”, frisou Husseini.
MAIS UM JORNALISTA EXPULSO
O episódio com Husseini não foi o único durante a coletiva. Antes dele, outro jornalista, Max Blumenthal, editor do The Grayzone News, também foi expulso após questionar Blinken: “Por que você permitiu que meus amigos fossem massacrados?”.
Blumenthal continuou: “Você acabou de ajudar a destruir nossa religião, o judaísmo, ao associá-la ao fascismo. […] Por que você permitiu que o Holocausto do nosso tempo acontecesse? Como é saber que seu legado é o genocídio?”.
Blumenthal foi abordado por uma mulher da equipe de Blinken, que afirmou: “Sinto muito, mas vamos ter que pedir para você sair”. O jornalista se levantou e tentou se aproximar do secretário, mas foi conduzido para fora.