A cena de um humorista fantasiado de presidente da República distribuindo bananas e debochando dos jornalistas, na quarta-feira (4), na saída do Palácio Alvorada, foi a “gota d’água” para os profissionais da imprensa.
Os jornalistas que fazem a cobertura do Planalto e do Congresso Nacional estão convocando um ato de protesto contra Bolsonaro, no dia 18 de março, por repetidamente hostilizar e atacar a categoria.
“O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do DF (SJPDF) convoca a categoria a participar da manifestação no dia 18/3, em defesa dos serviços públicos, da educação, pela democracia e contra os ataques que os jornalistas e as jornalistas vêm sofrendo. Basta!”, diz a convocação da entidade no Twitter, acompanhado de um vídeo com várias cenas de insultos de Bolsonaro contra os jornalistas no ano passado e início desse.
O vídeo começa lembrando um protesto realizado em janeiro de 1984 pelos fotógrafos do Planalto quando cruzaram os braços em protesto pela forma como eram tratados por João Batista de Figueiredo, último presidente da ditadura. A cena foi captada pelo fotógrafo J. França, responsável por registrar o protesto histórico.
“Os ataques do Bolsonaro contra a imprensa infelizmente nos fazem recordar muito a esse momento da ditadura militar em que tinha um enorme desrespeito e censura com os jornalistas e a imprensa. É necessário relembrar esse momento, não só o que acontecia, mas também a resposta dos jornalistas a isso”, afirmou Juliana César Nunes, diretora do Sindicato.
O ato tem o apoio da Federação Nacional do Jornalistas (Fenaj).
Segundo Juliana, “a categoria está muito indignada com o desrespeito que vem ocorrendo”. “É um acúmulo de algo que já estava muito engasgado e latente na categoria. Acredito que tenha sido a gota d’água”, enfatizou.
Os ataques a jornalistas e a veículos de imprensa cresceram 54,07% no primeiro ano de governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), aponta levantamento da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).
O número passou de 135 em 2018 para 208 no ano passado. A maioria deles (116) partiu da própria presidência.
Em dezembro do ano passado, Bolsonaro disse a um repórter que ele teria uma “cara de homossexual terrível”.
As jornalistas mulheres têm sido alvo principal das ofensas de Bolsonaro. Nos últimos meses ele agrediu a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de São Paulo.
A jornalista foi caluniada pelo ex-funcionário da Yacows, agência de disparos de mensagens no WhatsApp, Hans River do Nascimento. Além de mentir sobre o assunto na CPMI das Fake News, ele disse que Patrícia o assediou sexualmente para obter informações sobre a campanha de Bolsonaro.
Bolsonaro não somente endossou a calúnia de River como ainda fez comentários insinuando que a jornalista era “prostituta”. “Eu não vou falar aqui porque tem senhora do meu lado. Ela falando eu sou a ‘tatata’ do PT. Tá certo? E o depoimento do Hans River foi no final de 2018 para o Ministério Público, ele diz do assédio da jornalista em cima dele. Ela queria um furo. Ela queria dar um furo [pausa, pessoas riem] a qualquer preço contra mim. Lá em 2018, ele já dizia que eles chegavam perguntando ‘o Bolsonaro pagou para você divulgar informações por Whatsapp?’”, disse ele.
A mais recente vítima de Bolsonaro foi a jornalista Vera Magalhães, colunista do Estadão e apresentadora do Roda Viva da TV Cultura.
A jornalista revelou que Bolsonaro disparou pelo Whatsapp um vídeo convocando uma manifestação para o dia 15 contra o Congresso e contra o Supremo tribunal Federal (STF).
Bolsonaro, na entrada do Alvorada, e depois em vídeo, acusou a jornalista de mentir, quando ele é quem mentiu.
“Estou aguardando a Vera mostrar o vídeo dela. E não vai mostrar, né? O caráter dela… Vera Magalhães, eu não sou da tua laia. Ela queria dar um furo de reportagem com aquele meu vídeo convocando o pessoal para 15 de março, mas no seu afã de dar o furo rapidamente, ela esqueceu de ver a data que era 2015. Se bem que dá para ver, perceber um pouquinho no meu semblante, que estou um pouco mais jovem. Mais um trabalho porco que a mídia toda repercutiu”, disse.
Mas depois a jornalista demonstrou que Bolsonaro mentiu, pois em 2015 ele não era presidente, como mostra algumas cenas do vídeo da convocação.
“Pouco antes do 8 de Março deste ano, o país assistiu, entre incrédulo e revoltado, o representante máximo da Nação desferir, além da injúria, todo seu machismo, sexismo e misoginia contra jornalistas que simplesmente fizeram o seu trabalho. Quebrando o decoro que o cargo lhe impõe, Jair Bolsonaro atingiu todas as mulheres trabalhadoras e, sobretudo, as jornalistas”, lembra a Fenaj em nota pela passagem do 8 de Março, Dia Internacional da Mulher.
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