Neste sábado (11), ao se completar 1 ano da detenção de Julian Assange no presídio inglês de segurança máxima de Belmarsh, três sindicatos franceses de jornalistas enviaram ao fundador do WikiLeaks carta de solidariedade e de apoio à sua imediata libertação, ainda mais premente após a morte ali de pelo menos um preso por coronavírus.
“Obrigado por ter dado força e inspiração a muitos cidadãos comprometidos em tornar transparentes os delineamentos criminais e os modos de funcionamento de governos que sobrevivem apenas pela opacidade de suas ações”, afirma a carta, assinada pelos SNJ, SNJ-CGT e CFDT-Jornalistas.
As entidades denunciaram que a prisão de Assange foi “puramente arbitrária, por critérios políticos” e repudiaram a decisão do juiz do caso de extradição de se recusar a libertá-lo, ou transferi-lo para prisão domiciliar, “nestes tempos de pandemia, em que as libertações são massivamente concedidas a prisioneiros de vários países do mundo”.
Assange vem sendo mantido preso em Belmarsh nessa situação calamitosa, porque Trump quer sua extradição para usar como trunfo nas eleições de novembro. O tribunal manteve a audiência em maio, no meio da pandemia que já matou mais de 9 mil britânicos, e com o país em quarentena.
O fundador do WikiLeaks está sendo acusado de ‘espionagem’ por ter divulgado os documentos do Pentágono que registram crimes de guerra cometidos no Iraque e no Afeganistão, divulgados em 2010, junto com os principais jornais do mundo. Pelas acusações já mostradas, está ameaçado de 175 anos de cárcere.
Segundo a BBC, já são nove os presos que morreram de Covid-19 nas penitenciárias inglesas. Em 7 de abril, pelo menos 107 pessoas em 38 prisões na Inglaterra e no País de Gales já haviam testado positivo para a Covid-19. Centenas de presos e guardas já estariam em autoisolamento.
“Aguente firme Julian, por você, sua família e todos aqueles que contam com você ao redor do mundo. Nunca poderemos agradecer o suficiente pelo seu trabalho titânico, que permitiu que jornalistas de todo o mundo transmitissem ao público em geral os arquivos que você ajudou a tornar acessíveis”, afirma a carta.
“Precisamos de você”, reiteram os jornalistas franceses na carta a Assange, que acrescenta que o jornalista australiano “se tornou um símbolo da liberdade de informar”.
“VIDA EM PERIGO”
O risco de vida que Assange está correndo ao ser mantido em um presídio onde já ocorreu a contaminação por Covid-19, também indigna e traz apreensão ao editor atual do WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson.
Um ambiente carcerário é “como una placa de Petri” para um vírus, advertiu Hrafnsson, ainda mais quando se trata de um tão altamente infeccioso como o coronavírus. “A vida de Assange corre perigo cada dia e cada hora”, apontou.
O que torna a situação particulamente alarmante é que o estado de saúde de Assange já era bastante delicado antes do surto do coronavírus.
“Assange está em um estado muito mal. É um indivíduo muito vulnerável, especialmente ante un virus como Covid-19. Ele tem um afecção pulmonar subjacente e seria considerado em grande risco inclusive se vivesse normalmente em sociedade”, ressaltou Hrafnsson.
Desde novembro passado, o grupo Médicos por Assange, composto por mais de 200 profissionais médicos do mundo inteiro, tem alertado que o jornalista pode morrer atrás das grades porque lhe foi negado o atendimento médico adequado.
Em uma carta aberta no mês passado, os Médicos por Assange escrevem: “A vida e a saúde de Julian Assange estão em maior risco devido à sua detenção arbitrária durante esta pandemia global. Essa ameaça só aumentará à medida que o coronavírus se espalhar.”
Por sua vez, parlamentares australianos pediram que esta semana que Assange seja transferido para prisão domiciliar.
ESCANDALOSO ARBÍTRIO
Hrafnsson considerou a decisão de manter a audiência da extradição de 18 de maio, em plena pandemia, como “simplesmente escandalosa”.
Ainda mais escandalosa quando a Justiça britânica anuncia a libertação, por causa da Covid-19, de 4 mil presos de baixa periculosidade. Assange não teria sido incluído em razão de “não estar cumprindo pena”, e ser em razão do processo de extradição, de acordo com esses ‘juristas’ de Sua Majestade.
Antes, em março, o tribunal rechaçara pedido de libertação por fiança.
O jornalista Vaughan Smith, que no dia 7 falou por telefone com Assange, afirmou que já são duas as mortes por Covid-19 em Belmarsh, embora o Departamento de Justiça tenha admitido “apenas uma”. “Julian me disse que o vírus estava se espalhando na prisão”.
Ele revelou, ainda, que Assange agora está confinado sozinho em uma cela “por 23 horas e meia por dia”, faz “meia hora de exercício” e fica “em um pátio lotado de outros prisioneiros”. Mais de 150 agentes penitenciários estão fora do serviço e a prisão está funcionando “precariamente”.
“PRISÃO BRITÂNICA INFECTADA”
A mãe de Assange, Christina, disse ter “pavor do meu filho doente e sofredor Julian, enfraquecido por perseguição prolongada, sofrendo de doença pulmonar crônica, em uma prisão britânica infectada”.
Ao apresentar o pedido de libertação para Assange, o advogado Edward Fitzeral enfatizou que se o jornalista continuar na prisão nesse quadro de pandemia, “estaria seriamente ameaçado em circunstâncias das quais não pode escapar”.
Fitzgerald denunciou ainda que sob a pandemia o contato já mínimo de Assange com sua equipe jurídica tornou-se ainda mais restrito.
Seus advogados “não são capazes de ter nenhuma comunicação razoável com ele no momento”, afirmou. “Eles são incapazes de visitá-lo na prisão ou de se encontrar com ele por vídeo e só foram capazes de manter algumas ligações telefônicas com o cliente. A defesa de Assange, portanto, agora está sendo amplamente realizada por correio, o que é inseguro e leva semanas para ser recebido”.
Como Fitzgerald sublinhou, não há qualquer possibilidade da audiência de extradição ser realizada de maneira justa, debaixo da quarentena decorrente da pandemia, com Assange, testemunhas, equipes jurídicas, imprensa e público impossibilitados de comparecer pessoalmente.
ANTONIO PIMENTA