Uma juíza inglesa voltou a negar pedido dos advogados do fundador do WikiLeaks, Julian Assange, para revogar mandato de prisão contra ele, que está há cinco anos e meio asilado na embaixada do Equador em Londres, e cujo pedido de extradição está pronto há anos em Washington, por expor os crimes de guerra dos EUA no Iraque e Afeganistão, inclusive o famoso vídeo do “assassinato colateral”, que mostra a execução de 12 civis iraquianos por um helicóptero Apache, e ainda 250.000 cabogramas da intervenção do Departamento de Estado no mundo inteiro e milhares de páginas com as técnicas de malware e hackeamento da CIA.
Apesar da justiça da Suécia já ter retirado em maio do ano passado o pedido de prisão de Assange, que se devia a uma acusação fabricada de ‘estupro’,e dado por encerrado o caso e painel da ONU ter considerado a prisão dele “arbitrária, não razoável, desnecessária e desproporcional”, a juíza Emma Arbuthnot manteve o mandato de prisão por ‘violação de fiança’ sob a cínica alegação de que “não acha que os receios de Assange de ser extraditado para os EUA são razoáveis”, que não considera os 550 dias “uma privação”, mas “sua própria escolha” e que ele “pode sair sempre que quiser”.
A defesa de Assange havia alegado que, com o fim do caso (melhor dizendo, armação) sueco contra ele, prendê-lo não seria “proporcional ou no interesse público e que os cinco anos confinado na embaixada eram “punição adequada, senão severa”. A pena máxima por violação de fiança é de seis meses de prisão.
O caráter de complô para prender e extraditar Assange e impedir o WikiLeaks de denunciar os crimes imperiais se torna a cada dia mais evidente. Conforme o Guardian, já em 2013 os procuradores suecos se mostraram dispostos a suspender o processo de extradição, para atender a exigência legal de que as medidas coercitivas sejam “proporcionais ao tempo, custos e gravidade”, o que implicaria na revogação do mandato europeu de prisão “em semanas”.
Sob pressão da justiça inglesa, que respondeu “por favor, não deixe que esse caso seja tratado como apenas outra extradição” – e da Casa Branca – a Suécia só o revogou quatro anos depois, no ano passado. Conforme e-mails, em 2013 o cerco e perseguição a Assange já custara 3,8 milhões de libras esterlinas.
Que desde o governo Obama os EUA querem julgar Assange por “espionagem” é um segredo de polichinelo. Desde maio de 2010, opera em sigilo um grande júri sobre Assange e o WikiLeaks. A chancelaria inglesa se recusa a confirmar ou negar pedido dos advogados, sob a lei de liberdade de informação, sobre se existe pedido de extradição dos EUA contra Assange.
Na véspera da decisão da juíza Arbuthnot, o Departamento de Justiça dos EUA confirmou à Reuters que seu caso contra Assange está em andamento, sendo que no ano passado o procurador-geral de Trump, Jeff Sessions, afirmou que a prisão dele era uma “prioridade”. E o diretor da CIA, Mike Pompeo, não poderia ser mais claro, classificando o WikiLeaks como um “serviço de inteligência não-estatal hostil” e que Assange não terá direito “à Primeira Emenda” – o que, partindo de quem parte, é praticamente uma ameaça de tortura.
Também são conhecidos os vínculos da ‘juíza’ com os serviços secretos: mais conhecida como Baronesa Arbuthnot, é casada com Lord Arbuthnot, que foi chefe do Comitê de Inteligência do parlamento britânico de 2005 a 2014. O que só reforça a advertência da advogada de Assange, Jennifer Robinson, sobre “a questão real neste caso”; o risco de extradição para os EUA por publicar informações de interesse público com o WikiLeaks. “O Sr. Assange permanece pronto para enfrenta r a justiça britânica … mas não para ser forçado a enfrentar a injustiça americana”.