“Uma polícia que tem sanção para matar é a mais corrupta das polícias”, afirmou o ex-ministro da Defesa e Segurança Pública, Raul Jungmann.
Para Jungmann, a política de segurança pública defendida pelo bolsonarismo, principalmente pelo governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, na qual o papel da polícia é matar os criminosos, está fadada ao fracasso e cria uma polícia ainda mais corrupta.
Witzel afirma que os criminosos devem ser “abatidos” por snipers para evitar confronto. “A polícia vai fazer o correto: vai mirar na cabecinha e… fogo! Para não ter erro”, disse, poucos dias depois de ser eleito.
Se “fala em tiro na cabeça, em sniper. Só que uma polícia que tem sanção para matar é a mais corrupta das polícias”, comentou Jungmann.
“Esta política não vai escolher os mais fortes, que têm mais condições, vai nos mais fracos. É uma polícia que se aprofunda nos processos de corrupção. E uma classe média, vulnerável, acha que está tudo bem e não está”.
“O Rio de Janeiro tem 830 comunidades sob controle do crime organizado. Um milhão e 700 mil cariocas vivem em um estado paralelo. E quem controla território, controla o voto”, disse.
“O Rio de Janeiro vive uma metástase. Temos que evitar que o Rio seja o Brasil amanhã”.
No sentido contrário da política de Witzel, Jungmann acredita que “temos que falar em primeira infância, em cuidados. Se, hoje, 55% dos presos são jovens de 18 a 29 anos, fica claro que estancar esse fluxo no nascedouro é mais importante do que outras políticas. O caminho é encontrar esses jovens e ter programas voltados para cultura, para educação e, de fato, estender a mão”, afirmou durante debate realizado na segunda-feira (9), promovido pela revista Exame.
“Não estamos defendendo passar a mão na cabeça de sequestrador, bandido, assaltante. O jovem entra por furto e, para sobreviver, tem de se associar a uma das 70 facções criminosas que vivem sob o Estado. Só que ele vai sair e ficar preso para sempre a elas. Não esqueçam: no sistema prisional é de onde se controla a violência que sofremos na rua”.
O ex-ministro também condenou a proposta de Bolsonaro sobre posse e porte de armas. “[A liberação da posse e do porte de armas] Só piora a violência. Estudos comprovam que 1% é mais 2%, pelo menos, de mortes. Portanto, mais armas é mais mortes. Distribuir armas, facilitar a posse de armas não é política de segurança pública. Muitíssimo pelo contrário, é a política da morte”, avaliou
Além de ministro da Defesa e Segurança Pública em 2018, Jungmann foi deputado federal por Pernambuco, vereador em Recife, e ministro da Reforma Agrária de Fernando Henrique Cardoso. Ele foi filiado ao PPS (atual Cidadania23) até o ano passado. Agora está sem partido.
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