A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou indicadores mostrando que no mês de setembro houve quedas no faturamento da Indústria, no número de horas trabalhadas na produção e no nível de utilização da capacidade instalada.
“Apesar do início dos cortes da taxa básica de juros (Selic)”, destaca a economista da CNI, Larissa Nocko, “a taxa permanece exercendo um papel restritivo sobre a economia, contribuindo para um ambiente de crédito bastante desfavorável”. A taxa de juros real está em 8,5% ao ano, o que representa 4 pontos percentuais acima da taxa de juros neutra, aquela que não estimula nem desestimula a atividade econômica.
Ela fez a crítica ao lembrar que o nível de endividamento e de inadimplência das famílias e a taxa média de juros das operações de crédito se encontram bastante elevados.
“Esperamos uma redução das concessões de crédito às empresas nesse ano, em termos reais, e um crescimento fraco das concessões aos consumidores, o que já vem repercutindo sobre uma demanda bastante enfraquecida”, afirmou a economista.
Na comparação com setembro de 2023, o indicador da CNI apontou que o faturamento real da indústria de transformação recuou 0,5% na comparação com agosto, já descontados os efeitos sazonais.
“Ao longo do ano, o indicador tem alternado resultados positivos e negativos, com quedas mais expressivas que as altas, compondo uma trajetória de queda. Dessa forma, na comparação com setembro de 2022, o indicador apresenta queda de 1,4%”, escreveu o IEDI, em nota.
Já as horas trabalhadas na produção industrial recuaram 1,0% em setembro de 2023, na comparação com agosto. “O indicador registra o quarto mês consecutivo sem avançar, intercalando estabilidades e recuos, o que lhe confere uma trajetória de queda.
Dessa forma, na comparação com setembro de 2022, houve recuo de 3,5%”, diz outro trecho da nota. Por outro lado, o indicador de emprego industrial variou em queda de -0,1%.
Por sua vez, a Utilização da Capacidade Instalada (UCI) manteve a trajetória de queda observada na série desde 2021. A UCI da indústria de transformação alcançou 78,1% em setembro de 2023, com recuo de 0,3 ponto percentual (p.p.) em relação ao resultado de agosto. Na comparação com setembro de 2022, o recuo foi de 2,8 p.p.
A indústria brasileira segue sendo “exaurida pelas elevadas taxas de juros” no país, como destacou o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) nesta última semana, ao analisar os números da produção industrial.
No mês de setembro, a produção industrial brasileira ficou estagnada, ao variar em alta de apenas 0,1% frente a agosto (0,2%) – já descontado as variações sazonais -, com três das quatro categorias e 20 das 25 atividades industriais apresentando recuos em suas produções.
No acumulado deste ano até setembro, a produção industrial está em queda de -0,2% e, no acumulado em 12 meses, não registrou crescimento (0,0%). Frente a setembro de 2022, houve uma alta de 0,6%.
“O mês de setembro de 2023 foi ainda pior do que sugere a variação de +0,1% no agregado industrial”, considerou o instituto. “Sem forças, em muito exauridas pelas elevadas taxas de juros praticadas no país, e sem bases de comparação favoráveis, já que a morosidade não é de agora, os resultados trimestrais não deixam dúvida sobre o quadro de estagnação em 2023”, avaliou o IEDI.
No estado que se encontra hoje, a indústria brasileira acumula uma retração de 18% desde maio de 2011 (auge da série histórica iniciada em janeiro de 2002), enquanto a mundial cresceu 29% no mesmo período, segundo um levantamento feito pela consultoria econômica da holandesa CPB (Netherlands Bureau for Economic Policy Analysis), divulgado pelo jornal “O Globo” no último sábado (4).
Para a CNI, o corte de 0,50 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic) pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, é insuficiente para impedir a queda da atividade econômica do país.
“A queda da Selic não é suficiente para impedir custos adicionais e desnecessários em termos de atividade econômica”, afirmou o presidente da CNI, Ricardo Alban, após o Copom divulgar que reduziu a Selic de 12,75% para 12,25% ao ano.
“Tenho a plena convicção de que a queda de juros não está na velocidade que nós precisamos. Na verdade, estamos em uma armadilha, porque a nossa taxa Selic atingiu um patamar bastante desestimulante”, completou.